Antes mesmo de entrarem na Casa São José, na Serrinha, as três estudantes que participam do projeto Incluir já estavam cercadas de meninas que as abraçavam. O projeto de extensão foi criado pela professora do Departamento de Letras e Línguas Estrangeiras (DLLE) Maria José Roslindo Damiani Costa, a Zeca, e leva alunos do curso de Letras – Espanhol para dar aulas sobre o idioma e a cultura dos países de língua espanhola na ONG que oferece oficinas no contraturno escolar.
Irene, Julia e Maria Eduarda chegaram cedo, quando as crianças com idade entre 7 e 9 anos ainda estavam no horário de intervalo. O carinho dos pequenos (incluindo alguns meninos que tinham deixado a bola de lado para recepcioná-las) não era o único foco da atenção das estudantes. Nos poucos metros que separam a entrada e a sala dos professores, elas pararam para ajudar duas garotas que choravam. Uma delas se lamentava enquanto lutava para vestir a camiseta do jeito certo. A outra havia sido pega de surpresa por uma bolada no olho. Nada que impedisse as duas de voltar a brincar com os colegas, dois minutos depois. Irene explica que “pode ser meio cansativo às vezes, mas não dá para não se apaixonar pelas crianças”.
Aulas de espanhol na Serrinha. Foto: Vinícius Bressan/Proex/UFSC
Aluna da 5ª fase, Irene Coelho é bolsista e uma das quatro alunas participantes do projeto. As outras três são, Julia Daga, também bolsista, e as voluntárias Maria Eduarda Kretzer e Marina Giosa. As extensionistas não têm certeza de seguir a carreira docente, mas afirmam que o Incluir é uma experiência de crescimento. “A gente transforma a teoria em prática e isso ajuda a entender o que aprendemos. Além disso, você vem pra cá e sempre acaba querendo voltar”, diz Júlia.
No começo da aula, as extensionistas distribuem um caça palavras sobre a colorida festa do Dia dos Mortos mexicana. Enquanto as crianças procuram os nomes das cores em espanhol, as três andam pela sala tirando dúvidas com a ajuda daqueles que terminaram a tarefa antes. Depois, chega o momento de colorir desenhos das caveiras de Dia dos Mortos. A tarefa de dar cor aos desenhos é interrompida de vez em quando pelas crianças perguntando “por que as caveiras mexicanas são coloridas?” ou “lá as caveiras dançam?”
A equipe do projeto Incluir se reúne quinzenalmente para avaliar o trabalho e semanalmente, para preparar as aulas. As reuniões semanais são o momento em que as alunas produzem o material didático que utilizam e decidem as metodologias aplicadas nas aulas. A coordenadora do projeto acredita que a produção é um benefício de atividades de extensão como essa. “Desse jeito, vai sendo criado material que pode ajudar outras pessoas que trabalhem com espanhol na educação infantil”, diz Zeca.
O Incluir foi criado em 2004, quando a professora Zeca soube que a Casa São José estava procurando voluntários para oferecer novas aulas e percebeu a oportunidade de criar um projeto de extensão vinculado ao Núcleo de Suporte Pedagógico para Professores de Língua Estrangeira (NUSPPLE). O objetivo principal do Núcleo é oferecer base para a elaboração de aulas de idiomas estrangeiros. Segundo a professora, o Incluir é uma maneira de dar um retorno à sociedade e trabalhar o ensino do espanhol voltado para crianças, área carente de atenção por conta da priorização do ensino de idiomas para adolescentes e jovens adultos. “Você quase não encontra material didático [voltado a crianças pequenas]”, explica a professora.
Cerca de 1500 crianças passaram pela Casa São José desde a fundação da ONG. A instituição funciona de segunda à sexta, atendendo estudantes de 6 a 14 anos com o ensino de diversos conteúdos, como inglês, informática, teatro e espanhol.
Mais informações: DLLE.
Texto e fotos: Vinícius Bressan/Estagiário de Comunicação da Pró-Reitoria de Extensão/UFSC