Dilvo Ilvo Ristoff: título de emérito reconhece contribuições para a qualidade e a democratização do ensino superior

14/12/2020 08:00

O professor Dilvo Ilvo Ristoff, que receberá o título de professor emérito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) na sessão solene do Conselho Universitário do dia 18 de dezembro, é definido nos pareceres emitidos para concessão da honraria como um homem de projetos visionários e um docente empenhado na busca de qualidade e acessibilidade na educação superior do Brasil. Destaca-se pela sua carreira acadêmica intensa e exitosa e também pela sua atuação em diversos cargos administrativos na UFSC e em outros órgãos governamentais.

Ao aposentar-se, em 2012, havia chegado à categoria de professor titular, o ápice na carreira dos professores universitários brasileiros, com pós-doutorado pela University of Caroline System, Estados Unidos. Atualmente, além de ministrar aulas e orientar dissertações, como professor voluntário no Programa de Pós-Graduação em Métodos e Gestão em Avaliação da UFSC, Dilvo Ristoff faz palestras sobre educação e escreve regularmente uma coluna semanal ao blog www.educa2022.com, especializado em assuntos educacionais. Também continua a escrever e publicar artigos.

Graduado em Letras pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) em 1974, ele concluiu o mestrado em Letras na UFSC em 1979, mesmo ano em que se tornou professor da Universidade. No Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE), do Centro de Comunicação e Expressão, Dilvo Ristoff foi professor em disciplinas ligadas à língua e literatura inglesa.

Professor Dilvo Ilvo Ristoff. Foto: arquivo pessoal

Na pós-graduação, desenvolveu a linha de pesquisa Literatura norte-americana do século XX, tema a que dedicou boa parte de sua produção intelectual, com foco no escritor e crítico literário John Updike. Sua tese de doutorado na University of Southern California (Los Angeles, EUA), em 1987, tinha como título Updike´s America: the presence of contemporary american history in John Updike´s rabbit trilogy e foi transformada em livro no ano seguinte. Anos mais tarde, o autor norte-americano voltou a ser o tema de um livro do professor Ristoff: John Updike´s Rabbit at Rest: Appropriating History (Peter Lang, 2008).

A dedicação ao tema da qualidade do ensino superior brasileiro permeou sua carreira administrativa e também inspirou sua produção literária. Dilvo Ristoff é autor do livro Universidade em foco – reflexões sobre a educação superior (Insular, 1999) e co-autor de outras sete obras com temáticas ligadas à educação, participação da mulher e avaliação da educação superior brasileira. Esses também foram os temas predominantes nos 34 capítulos de livros e dos 46 artigos completos publicados em periódicos. Produção intelectual que continuou mesmo após a aposentadoria – o artigo mais recente do professor (Os desafios da avaliação em contexto da expansão e inclusão) foi publicado em 2018 pela revista Espaço Pedagógico.

Dilvo Ristoff envolveu-se em diversos projetos de extensão e também teve incursões pelo universo editorial. Foi um dos fundadores da revista Ilha do Desterro, criada na UFSC em 1979, e também ajudou na criação, em 1996, da revista Avaliação, tendo sido até recentemente o seu editor adjunto. O currículo acadêmico do professor Ristoff inclui ainda dezenas de textos publicados em jornais de notícias e revistas, trabalhos e resumos publicados em anais de congressos, apresentações em seminários e conferências e uma grande produção técnica, entre assessorias, consultorias e outros trabalhos. Também foi ministrante de cursos na sua área de especialidade, a de avaliação da educação superior.

Especialista em educação

Ristoff toma posse como pró-reitor de Graduação, em 16 de maio de 1992. Foto: Jones Bastos

Paralelamente a essa produtiva vida acadêmica, Dilvo Ristoff ocupou diversos cargos administrativos de relevância, tanto na UFSC como em outros órgãos da administração pública. Foi coordenador de pós-graduação do DLLE no começo da década de 1990 e sub-coordenador no ano de 1999. De 1992 a 1996 foi pró-reitor de Graduação da UFSC – no final desse mandato exerceu a presidência do Fórum Nacional dos Pró-Reitores de Graduação. Foi ainda vice-reitor e coordenador de Pós-Graduação do Centro de Comunicação e Expressão (CCE).

Entre os anos de 2000 e 2002 foi diretor do CCE e durante sua gestão coordenou o processo de criação do curso de Cinema. Na época também foi o idealizador, junto com professores, estudantes e técnicos administrativos do CCE, do projeto Um dedo de prosa, com o propósito de valorizar a literatura catarinense. A iniciativa que perdura até hoje, foi premiada em 2002 com o troféu Boi-de-Mamão e, em 2005, recebeu homenagem da Academia Catarinense de Letras.

Seu grande conhecimento no campo da qualidade da educação fez com que ocupasse cargos relevantes no Ministério da Educação, na Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e no Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). O professor Ristoff integrou a Comissão Nacional de Avaliação da Educação Superior e o Comitê Assessor do Programa de Avaliação Institucional das Universidades Brasileiras (Paiub).

Foi, por mais de quatro anos, diretor de Estatísticas e Avaliação da Educação Superior do Inep, “tendo participado ativamente do processo de construção e implementação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes)”, conforme anotou em seu currículo Lattes. “Exerceu, ainda, o cargo de Diretor de Educação Básica da Capes, onde atuou na formulação da Política Nacional de Formação de Professores, na implantação do Programa Institucional de Bolsas de Iniciação à Docência (Pibid) e na reorganização e viabilização do Observatório da Educação.”

Na inauguração da Universidade Federal da Fronteira Sul, em Chapecó. Foto: Artêmio Souza

Ocupou, por mais de dois anos, o cargo de diretor de Políticas e Programas da Educação Superior da Secretaria de Educação Superior do Ministério da Educação (MEC), onde foi o responsável por iniciativas como o Programa Universidade para Todos (Prouni), Sistema de Seleção Unificada (Sisu), Financiamento Estudantil (Fies), Programa de Extensão (Proext), Programa de Educação Tutorial (PET), Programa Estudante Convênio (PEC-G), Bolsa Permanência e vários outros.

Outra contribuição relevante do professor Dilvo em prol da educação superior brasileira foi o seu envolvimento na criação da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS). Ele foi presidente da Comissão de Implantação e primeiro reitor da instituição, que tem sede em Chapecó e campi nos estados do Rio Grande do Sul e Paraná. No ano de 2015, em reconhecimento pela sua atuação, recebeu o título de Professor Doutor Honoris Causa concedido pela UFFS.

A concessão da honraria

O autor da proposição da dignidade universitária a Dilvo Ilvo Ristoff foi o professor Antônio Carlos de Souza, docente aposentado do Departamento de Expressão Gráfica (EGR) do CCE. O título ao professor Ristoff era justificado “por apresentar altos méritos profissionais e por relevantes serviços prestados à instituição, além do reconhecimento nacional e internacional do trabalho competente, determinado e incessante na busca da melhoria dos índices de qualidade do ensino superior e da democratização do acesso à educação superior”, conforme destacou o professor Antônio Carlos.

A proposta do título foi em seguida avaliada por uma comissão do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE), que destacou a autoria de projetos visionários. O parecer da comissão foi aprovado pelo Colegiado do DLLE em 25 de agosto de 2016, e seis dias depois foi aprovado, por unanimidade, no Conselho do CCE. Finalmente, em reunião realizada em 25 de abril de 2017, o Conselho Universitário aprovou, também por unanimidade, a outorga do título de Professor Emérito a Dilvo Ilvo Ristoff.

Depoimentos

O professor Antônio Carlos de Souza, além de reconhecer as qualidades profissionais e acadêmicas do professor Ristoff, também estabeleceu com ele um vínculo de amizade. Eles se conheceram no início da década de 80, quando Souza ingressou na UFSC como professor no Departamento de Artes (hoje Departamento de Expressão Gráfica) do CCE. “O Dilvo já era professor do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras. O que nos aproximou na época foi a formação de um time de futebol-sete e futebol de salão que representasse o CCE nas competições esportivas ou apenas de cunho socializante. Formamos o famoso time que batizamos de Poliedro, de memoráveis conquistas nos torneios internos promovidos pelos sindicatos da UFSC. Depois de cada jornada futebolística sucedia sempre um churrasco regado a pelo menos uma dúzia de cerveja geladíssima. Nessas ocasiões reuníamos um bom grupo de servidores do CCE. Época de memorável valor histórico para todo o grupo de amigos”, lembra o professor Antônio Carlos.

O Poliedro prepara-se para entrar na quadra. Foto: arquivo pessoal

Essa empatia profissional amadureceu e cresceu ao logo da trajetória dos docentes. Além da convivência futebolística, o professor Antônio Carlos também esteve junto do professor Ristoff na empreitada de criação da Universidade Federal da Fronteira Sul. “Agradeço de coração pela oportunidade de ter sido convidado a participar da equipe de implantação da UFFS. Foi uma experiência única, conduzida de forma exemplar por nosso comandante.”

De acordo com o professor Antônio Carlos, o amigo Dilvo Ristoff é merecedor da honraria concedida. “Agradeço pela oportunidade, pela convivência, pelo exemplo, pela amizade e pelo aprendizado e desejo sucesso sempre maior, prosperidade e uma vida longa. Caríssimo Dilvo, parabéns, desfrute esse privilégio de reconhecimento pelo trabalho excepcional em prol da educação brasileira, com o título de professor emérito da UFSC.”

O professor Dilvo Ristoff integrou a banca do concurso que admitiu à UFSC o professor José Roberto O’Shea, em 1989. Colegas no DLLE, o professor O’Shea passou a acompanhar o trabalho de Dilvo Ristoff na UFSC como docente, pesquisador e como administrador. “No período em que ele esteve em Brasília, me convidou algumas vezes para integrar comissões de avaliação do MEC”, recorda José Roberto.

Quando eu penso no desempenho profissional e acadêmico desse meu colega, o que me vem à mente primeiro é competência, depois seriedade de propósito, depois capacidade de diálogo, de ouvir e lidar com objeções. Depois me vem serenidade, cordialidade, civilidade, um colega sumamente tratável, de quem a gente se afeiçoa não apenas como um colega, mas como um amigo.” O’Shea também destaca a grande capacidade de produção oral e escrita de Ristoff. “É impressionante a facilidade, o domínio que ele tem sobre a expressão oral e sobre a expressão escrita.”

O professor José Roberto chama a atenção para outra característica de Dilvo Ristoff, a sua grande versatilidade, a capacidade de conciliar muito bem os campos do saber das Letras e da administração universitária. “Ele formou-se doutor na área de Letras, trabalhou na área de Letras com grande sucesso nacional e internacional durante anos. Fez-se professor titular e depois migrou para a área da Educação.” E conseguiu destacar-se nas duas áreas, com publicações no Brasil e nos Estados Unidos, com palestras e cursos, conforme comprova o seu excepcional currículo Lattes, destaca O´Shea. “Então eu fico muito feliz em saber que a Universidade Federal de Santa Catarina vai outorgar ao professor Dilvo esse título de professor emérito. Porque ele, todos esses anos, levou o nome da instituição com galhardia, competência, respeito, no Brasil e no exterior.”

Silvana de Gaspari, professora do Curos de Letras/Italiano do DLLE e vice-diretora do CCE, destaca o comprometimento de Dilvo Ristoff com a Universidade e com o ensino. Ela lembra que o professor Dilvo foi uma das primeiras pessoas que conheceu ao tomar posse na UFSC como docente do magistério superior, em novembro de 1992. “À época, ele fazia parte da administração central e exercia o cargo de pró-reitor de Graduação. Tomei posse na Prodegesp [Pró-Reitoria de Desenvolvimento e Gestão de Pessoas], porém, logo após, o professor Dilvo me recebeu para uma breve conversa em seu gabinete. Já nesse primeiro encontro, sua gentileza e seu comprometimento com nossa universidade, posso dizer que me marcaram de forma significativa.”

As trajetórias profissionais de ambos pouco se cruzaram até que a professora Silvana foi eleita como representante titular do CCE na Câmara de Graduação, da qual ele era o presidente. “Foi aí que pude ter mais contato com ele e perceber, através de suas ações, opiniões e decisões, alguém que acreditava na educação e levava a administração universitária com tanta seriedade que poucas vezes vi e reconheci em outros pares com os quais tive a oportunidade de trabalhar ao longo de todos estes anos de UFSC.”

Foram 28 anos de convivência, e a professora Silvana reconhece que boa parte do sentimento de gratidão e respeito que ela tem pela UFSC veio das conversas com o professor Ristoff. “O Dilvo me mostrou que, mesmo quando ‘estamos’ administradores dentro de uma instituição de ensino, continuamos sendo professores, e é esse o papel que deve pautar nossas decisões, representando nossa universidade e a comunidade que faz parte dela.”

“Até hoje, sempre que pode, o Dilvo nos visita no CCE e alimenta nossa reverência à nossa instituição e ao papel fundamental do ensino em nosso país. Meu respeito a esse professor, que marcou de forma muito significativa e relevante o ensino superior no Brasil. Meu carinho e minha gratidão a esse colega, que sempre me fez sentir acolhida dentro desse imenso universo que a UFSC representa”, diz Silvana de Gaspari.

O professor Dilvo Ilvo Ristoff é o agraciado com o título de professor emérito da UFSC e dedica a honraria à comunidade universitária. “Agradeço aos colegas da UFSC pela homenagem. Sinto-me honrado com a distinção e dedico este título a todos aqueles, professores e técnicos, que durante muitos anos se entregaram abnegadamente às atividades de ensino, pesquisa, extensão e gestão, dando o melhor de si para tornar a UFSC a grande universidade que hoje é.”

Dilvo Ristoff é autor dos livros

  • Construindo Outra Educação: Tendências e Desafios da Educação Brasileira (Insular, 2011);
  • Universidade em foco: reflexões sobre a educação superior (Insular, 1999);
  • Neo-realismo e a crise da representação (Editora Insular, 2003);
  • Updike´s America (Peter Lang, 1988);
  • John Updike´s Rabbit at Rest: Appropriating History (Peter Lang, 2008)

e co-autor dos livros

  • Avaliação participativa: Perspectiva e debates (Coleção Educação Superior em Debate, Editora do Inep, 2005);
  • Trajetória da mulher na educação brasileira (org.) (Inep, 2005);
  • Trajetória da mulher na educação superior (Inep, 2007);
  • Educação superior brasileira 1991-2004 (Inep 2007);
  • Universidade desconstruída: Avaliação e resistência (Insular, 2000);
  • Avaliação democrática para uma universidade cidadã (Insular, 2002);
  • Avaliação e compromisso público: A Educação superior em debate (Insular, 2003).

Tem participado, como autor, de capítulos de livros no Brasil e no exterior, sobre literatura, avaliação e políticas públicas para a educação superior, entre os quais destacam-se:

  • Universidade em ruínas na república dos professores (Vozes, 1999),
  • Re-Visioning the Past: Historical Self-Reflexivity in American Short Fiction (Wissenschaftlicher Verlag Trier, 1998);
  • Rabbit Tales: Poetry and Politics in John Updike´s Novels (The University of Alabama Press, 1998)
  • Equity and Quality Assurance: a Marriage of Two Minds (Unesco e International Institute for Education and Planning, 2010).

 

Luís Carlos Ferrari/Agecom/UFSC

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