Como camundongos e coelhos transformaram a trajetória de um cientista

04/07/2019 16:20

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Carlos Roberto Zanetti, professor titular do departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia da Universidade Federal de Santa Catarina (MIP/CCB/UFSC), escolheu a Biologia por gostar de animais e plantas. “Adorava estar na natureza. Um avô, que foi meu grande incentivador, sabia o nome de tudo quanto é árvore, tudo quanto é passarinho, o que cada um comia… Eu ficava fascinado com tudo aquilo”, recorda. Hoje, aos 58 anos e há 22 como docente da universidade, essa admiração e respeito pelos bichos permanece. Zanetti tornou-se referência nacional na difusão de métodos alternativos ao uso de animais na ciência. Sua enorme contribuição ao campo da Bioética é fruto de um longo caminho que inclui, paradoxalmente, amplo uso de animais em atividades acadêmicas.

Natural de Jundiaí, cidade do interior paulista, Zanetti ingressou no curso de graduação em Ciências Biológicas (modalidade médica) em 1980. Ao longo de toda a graduação – e posteriormente no mestrado e doutorado – percorreu diariamente os 60 km que separam sua cidade natal da Escola Paulista de Medicina, na Universidade Federal de São Paulo. “Eu vinha do interior e, quando cheguei em São Paulo, fiquei fascinado pela escola e pelos professores, todos doutores. Era um outro mundo. São Paulo e a universidade abriram um novo universo para mim. Tínhamos uma abundância de aulas práticas, muitas delas com uso de animais. Fisiologia, Imunologia, Farmacologia… e várias outras disciplinas usavam. Aquilo sempre me incomodava, mas eu não tinha a menor capacidade psíquica e emocional de questionar”, relembra. 

Escola Paulista de Medicina.

A maioria dos docentes eram, segundo ele, recém-chegados de outros países, como França e Inglaterra. Isso o impressionava, ao mesmo tempo em que o intimidava. “Nunca imaginei que teria aulas com professores tão qualificados. Então, apesar de me incomodar com o uso de animais, não tinha coragem de dizer nada. Só depois percebi claramente que havia passado por um processo de transmissão de conteúdos ocultos.” A autoridade de seus professores legitimou, gradualmente, o que a princípio era estranho pra ele: injetar drogas, dar medicamentos e fazer cirurgias em seres saudáveis, com fins unicamente didáticos. “Naquela época as aulas demonstrativas eram amplamente aceitas. Fazíamos castração de ratos para depois acompanhar o peso, a glicemia e outras coisas. Claro que aprendíamos com isso, mas era absolutamente desnecessário castrar um animal apenas para ver o que acontece, uma vez que isso já era sabido há tempos.”

Algumas situações marcaram sua trajetória acadêmica: em uma aula de Imunologia, os alunos tiveram que induzir um choque anafilático em porquinhos-da-índia. “Na primeira semana nós imunizávamos o animal, na segunda dávamos um reforço, na terceira outro reforço. Após esses reforços sucessivos, os porquinhos, que são muito susceptíveis a alergias, desencadeavam um processo de choque anafilático. Eles tinham dificuldades respiratórias, defecavam e urinavam na bancada… era um sofrimento! Nesse momento, tentávamos recuperá-los com medicamentos, meramente para ver o que acontecia. Foi uma matança geral, quase nenhum se salvou.” 

Mas justamente em sua bancada um porquinho sobreviveu. “Ficou lá todo caído, baqueado, respirando com dificuldade, mas não morreu. Aí perguntei para a professora: ‘O que vai acontecer com esse bichinho agora? Volta para a gaiola?’ Ela disse: ‘Não. Os animais que usamos em aulas e pesquisa são todos sacrificados.’ Aquilo me chocou. Imediatamente pensei: ‘Mas ele sobreviveu! E agora vamos simplesmente matar?'”. Para salvar o animal, Zanetti decidiu levá-lo para casa. “Enfiei na minha mochila e fiquei torcendo para que ele não gritasse, porque eu tinha uma viagem de quatro horas até Jundiaí. Peguei ônibus, trem, metrô… era isso que eu fazia todo dia, para ir e voltar pra universidade. O fato é que consegui chegar com ele em casa, ele sobreviveu e morou no meu quintal por mais dois anos. Batizei ele com o nome do medicamento que usamos para salvá-lo: Fernegan. Eu adorava o bicho e ele viveu feliz lá em casa.”

A história acabou chegando aos ouvidos da professora de Bioquímica Yara Maria Michelacci, de quem Zanetti gostava muito. “Ao final da disciplina, ela deu para cada aluno um mapa das vias metabólicas, com uma dedicatória personalizada. Na minha ela escreveu ‘que na minha vida profissional eu nunca perdesse o amor pelos animais’. Naquela época não entendi muito bem. Hoje, vendo em retrospectiva, percebo que ela já sabia o que a vida profissional faria comigo.”

Pesquisa com animais

Assim que concluiu a graduação, Zanetti ingressou no mestrado, na área de virologia em raiva. “Na metade da década de 1980, o modelo para tudo que se fazia em raiva era essencialmente o camundongo. Aí a coisa se naturalizou. Eu fazia inoculação de vírus, esperava a doença se estabelecer, para depois fazer diagnósticos, testar vacinas… Nesses bichinhos, a raiva tem uma evolução muito rápida. Entre 5 e 7 dias eles começam a ficar paralíticos e têm dificuldade de alcançar água e comida. Era uma coisa natural, esperar o animal morrer, só para ver com quantos dias ele morre.” 

O professor relata que “fazia coisas bem traumáticas” e se sentia muito mal por ter que realizar esses procedimentos. “Com frequência chegava em casa com enxaqueca, mas ainda não percebia que aquilo estava associado ao meu trabalho.” Nos anos seguintes, o uso de animais se intensificou. “Em determinado momento, meu orientador disse: ‘Vamos ter que produzir mais anticorpos e não dá pra fazer isso em camundongos, teremos que inocular coelhos.’ Tínhamos então cinco coelhos e eu era responsável por imunizá-los. Injetava vacina e, depois de várias semanas, era a hora de sangrá-los.”

Na primeira vez, Zanetti não sabia como tirar o sangue dos coelhos e recorreu ao orientador. “Ele então me pediu para segurar o animal, porque o sangramento seria por punção cardíaca. Uma agulha bem grossa atingiria diretamente o coração do bicho. Eu me surpreendi, pois não sabia que era possível perfurar o coração e ele não morrer.” Naquele momento ele descobriu que, justamente para que o animal não morresse, era preciso segurá-lo com muita força. Qualquer movimento que fizesse, a agulha poderia rasgar o coração do coelho e matá-lo. “Meu orientador repetia ‘Segura firme! Segura firme!’ Foi aquela tensão…”

Naquela noite, ele teve um sonho perturbador. “Sonhei que a esposa do meu orientador me dizia: ‘Carlos, preciso de um pouco de sangue.’ Respondi: ‘Não tem problema, pode tirar.’ Era comum nós mesmos doarmos sangue um pro outro, para os experimentos. Mas aí ela falou: ‘Terá que ser por punção cardíaca.’ Pegou uma agulha e enfiou no meu coração. Nesse momento eu senti dor e acordei.” Zanetti se emociona ao recordar todos esses momentos. “O que ainda sobrava em mim de solidariedade com os bichos foi se apagando. Passei por um processo crescente de dessensibilização. Criei um mecanismo psíquico, mental e emocional para não sofrer mais. Aquilo se tornou rotina e eu de fato comecei a tratar os camundongos como ‘coisa’.”

Durante o doutorado, que também cursou na Escola Paulista, fez um período sanduíche na França. “Foi só lá, em 1990, quando vi pela primeira vez algum tipo de cuidado com os animais. Ainda não era um tratamento ético, mas havia uma preocupação. Eles exigiam que fizéssemos um curso para aprender a mexer com animais, o que eu nunca tinha visto no Brasil. Meu orientador francês, em todas as vezes em que faríamos experimentos, trazia cenoura, aveia e arroz para os bichinhos. Ele me explicou porque fazia isso: ‘Eles sofrem tanto e nos dão tanto, então podemos pelo menos dar algo em troca.’ Era um gesto muito simples, mas achei encantador.”

Instituo Pasteur, em São Paulo.

Novos passos

Ainda antes de concluir o doutorado, Zanetti foi aprovado em um concurso para pesquisador científico do Instituto Pasteur, em São Paulo. “Trabalhei no Pasteur por 11 anos, onde continuei fazendo experimentos, mas já com vontade de diminuir o uso de animais.” Em 1997, assim que assumiu o cargo de professor da UFSC, passou a integrar o Comitê de Ética em Pesquisas com Seres Humanos (CEPSH/UFSC) como representante do Centro de Ciências Biológicas. A experiência, segundo ele, foi muito produtiva. “Fui obrigado a pegar livros, estudar e ler muito para entender porque era preciso tanta ‘burocracia’ para se fazer pesquisa. Muitos professores ficavam bravos, diziam que um comitê de ética só iria atrapalhar. Mas isso era realmente necessário porque havia um histórico de abusos. A história da Medicina é recheada de médico louco. Era corriqueiro que cientistas usassem negros, pobres e imigrantes para fazer experimentos sem que os pacientes sequer soubessem. Milhares morreram.”

Gradualmente, a comunidade científica e autoridades governamentais criaram mecanismos para proteger os indivíduos e evitar que tragédias ocorressem. Dois marcos nessa mudança, no século XX, foram o Código de Nuremberg e a Declaração de Helsinque, que definiram diversas regras a serem cumpridas nas pesquisas com seres humanos. Porém, entre os dez princípios éticos do Código de Nuremberg, um deles previa que qualquer experimento deveria ser realizado, antes, com animais. “Esses dois documentos foram fundamentais para a ética em pesquisa com seres humanos. E eles foram evoluindo, eram sempre atualizados para proteger cada vez mais os pacientes. Mas a exigência de se fazer experimentos com animais nunca foi revista, o que acabou legalizando e naturalizando essa prática.”

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Em 2000, por determinação de uma lei federal, a UFSC instituiu a Comissão de Ética no Uso de Animais (CEUA), da qual Zanetti novamente fez parte. Além de representantes dos departamentos que utilizam animais, também tiveram assento no comitê uma professora do curso de Filosofia e um membro da Sociedade Protetora dos Animais. “Foi um processo de construção bem difícil, pois as linguagens eram muito diferentes e ninguém sabia bem do que se tratava. Precisávamos, primeiro, fazer as normativas para a CEUA funcionar. Como vamos receber os processos? O que vamos exigir?” As normativas nacionais só foram definidas em 2009. Mas desde 2004, todos os pesquisadores da universidade que utilizassem animais em suas pesquisas só poderiam fazê-lo após submeter um protocolo para aprovação na CEUA. 

“Teve muita discussão, muito desentendimento. No assento da Filosofia, estava a professora Sônia T. Felipe, que já tinha uma história acadêmica voltada à defesa dos animais. Quando falavam de ética, ela corrigia: ‘Isso não é ética. A ética precisa de princípios. Qual princípio vocês usam para prender um animal? Vocês dizem que estão alojando, mas ele está preso. É prisão perpétua, sem ter cometido crime.’ Ela corrigia os pesquisadores o tempo todo. Quando diziam ‘vamos sacrificar’, ela respondia: ‘Isso não é sacrifício, o autor desse projeto precisa colocar aí que ele vai matar.’ Isso gerava grandes discussões”, relata o professor. Como os pesquisadores que utilizavam animais eram maioria, os projetos acabavam sempre aprovados. “As pessoas ficavam com medo de votar contra. Eu mesmo me sentia muito constrangido de levantar a mão contra os projetos. Mas fui vendo que tinha uma incoerência entre os parâmetros que usávamos para seres humanos e para não humanos. Se os animais são tão parecidos conosco, a ponto de se justificar usá-los para estudos prévios, por que a lei não os protege? Aquilo foi me transformando e fui de novo atrás de estudar.”

Zanetti leu, além de muitos artigos e sites sobre Bioética, os livros da própria professora Sônia e “Ética prática“, do filósofo australiano Peter Singer. “Logo entendi que aula demonstrativa com animais não deveria mais existir. Parei de usar e falei, em uma reunião de colegiado, que isso era ilegal, que já não deveria ser assim. Na Europa e outros lugares ninguém mais fazia. Havia muita resistência, principalmente dos professores de Fisiologia. Mas meus colegas da área de Imunologia não demoraram a abolir.” A professora Célia Regina Barardi decidiu filmar todas as aulas práticas de um semestre, o último em que ela usaria animais, e o convidou para gravar uma apresentação para o vídeo, que seria material didático nos semestres seguintes. “Nessa apresentação eu falo: ‘Esses animais que vocês verão aqui foram os últimos que morreram com fins de ensino.’ Fomos o primeiro departamento da UFSC a abolir o uso de animais em aulas práticas. E isso influenciou todo mundo.”

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Gradualmente, suas convicções foram se fortalecendo. Na CEUA, passou a votar contra o uso de animais – apesar de ser sempre voto vencido. “Até que chegou um dia em que parei de usar definitivamente. Esse processo foi progressivo e contínuo. Antes eu usava 100 camundongos por ano, depois passei a usar apenas seis por ano. E deixei de treinar meus alunos. Pensava: ‘Pelo menos de mim essas práticas não saem mais.’ Até que chegou um dia em que havia apenas um último camundongo em uma caixinha, que uma aluna de mestrado tinha acabado de usar e não precisaria mais. Ela me disse: ‘Precisamos de espaço e vamos sacrificá-lo.'” Zanetti decidiu então que ele mesmo faria isso. E se emocionou novamente ao se lembrar do último camundongo que teve que matar: “Abri a caixinha e vi ele sozinho. Quando são 20 ou 30, basta colocar em uma câmara de CO2 e eles morrem na hora. Mas quando é só um, não justifica usar uma câmara. Nesse caso, fazemos deslocamento da coluna cervical, puxando o rabinho e a cabeça. Quando tive que fazer isso com esse último, foi terrível, terrível.”

O  professor afirma que não teve alternativa, pois o animal havia sido inoculado com vírus e não poderia mais ser solto. Ele segurou o camundongo cuidadosamente com as mãos e pediu-lhe perdão. “Aquilo me marcou muito, e me marca até hoje. Vi como era arrogante eu determinar que aquele bichinho deveria morrer. Eu me coloquei no lugar dele e pensei: ‘Não quero que façam isso comigo. Esse é o último. Agora não dá mais para viver essa hipocrisia.’ Olhava para ele, todo dócil na minha mão, e sabia que não queria mais isso na minha vida.” 

Criou-se então um vácuo em sua carreira. “Eu me perguntava: ‘O que faço agora?’ Até hoje me considero uma pessoa cuja maior expertise é com estudos de raiva. Eu ainda colaborava com o Instituto Pasteur e comecei a pensar em como poderia influenciá-los.” Zanetti passou então a trabalhar com cultura de células suscetíveis ao vírus. “Isso não era nenhuma novidade. Mas ainda não havia ninguém aqui que fizesse isso, que mostrasse que era possível. As pessoas diziam ‘Isso só fazem nos EUA e na Europa, aqui é difícil…'” Com sua contribuição, hoje o Instituto realiza a maioria dos diagnósticos via cultura celular. “Eles têm uma rotina de análises gigantesca. Ainda não aboliram o uso de camundongos, mas diminuíram radicalmente. E a cada diagnóstico com cultura celular, você salva pelo menos 7 camundongos. O mundo está sempre tão ávido por coisas modernas, por novidades, e eu me questiono: matar, mutilar e tirar os tecidos de um animal pode ser de alguma forma moderno? Isso é prática de séculos e séculos passados.”

Em 2002, Zanetti e seu orientando de mestrado, Juliano Bordignon, desenvolveram experimentos com uma técnica alternativa ao uso de camundongos, a citometria de fluxo – método que possibilitou a detecção de partículas virais intracelulares, permitindo a verificação de vários parâmetros ao mesmo tempo. Os pesquisadores também elaboraram um padrão para detectar e quantificar anticorpos em pessoas vacinadas. Publicaram os resultados do trabalho na revista internacional Journal of Virological Methods, com o título “Flow cytometry assay for intracellular rabies virus detection”. “Nosso artigo fez bastante sucesso, a ponto de um comitê de especialistas em raiva vinculado à Organização Mundial de Saúde (OMS) ter nos convidado para escrever dois capítulos de livro sobre técnicas de pesquisa em raiva. Esse é um dos meus maiores legados aqui. Muitos autores referenciaram nosso trabalho em vários países, até na Índia, abrindo novas possibilidades”, relata.

O professor passou a ser convidado a dar aulas, palestras, cursos e workshops sobre Bioética em todo o país. “Eu estava com uma vontade enorme de percorrer um caminho inverso. Então me prometi que, em todas as vezes que tivesse chance, em todas as possibilidades em que tivesse voz, eu abordaria essas questões. Tenho isso como missão.” Ele também é frequentemente requisitado a discursar nas cerimônias de formatura das turmas de graduação. Já foi patrono de duas turmas, paraninfo de cinco e professor homenageado de 13. Nessas ocasiões, faz questão de incluir o assunto em seus discursos: “Precisamos mudar nossa visão de mundo em relação aos animais.”

Influência

Ao longo de sua trajetória na UFSC, Zanetti vem influenciando muita gente, sobretudo seus colegas de departamento. “Acho incrível o poder de multiplicação que temos dentro da universidade. Hoje vejo que todas as pessoas mais próximas de mim estão em um processo de mudança.” Entre elas está seu amigo e professor do MIP Aguinaldo Roberto Pinto, que também deixou de usar camundongos como cobaias para testar vacinas de HIV. O pesquisador passou a atuar junto a hospitais públicos – como o Hospital Universitário (HU) e o Hospital Regional de São José – realizando pesquisa com pacientes infectados com o vírus. “Isso é muito mais proveitoso para a sociedade e não interrompeu a carreira dele, muito pelo contrário. Foi um salto de qualidade. Hoje ele estuda sorotipos de HIV, ou seja, variações genéticas do vírus no estado de Santa Catarina, para saber quais circulam por aqui. Isso não existia antes.”

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC.

Zanetti relata essas mudanças com satisfação: “Sinto um contentamento, estou deixando uma semente.” Entre os estudantes, a contribuição do professor também tem sido significativa. No segundo semestre de 2017, ele ofereceu pela primeira vez a disciplina optativa “Aspectos éticos em pesquisa e ensino com animais”. Inédita na maioria das instituições de ensino brasileiras, o conteúdo teve ótima receptividade e todas as vagas disponíveis no ano seguinte foram preenchidas. “Acrescentou bastante na minha formação”, avalia o aluno Willian de Azevedo Silva. “Nunca amei tanto uma disciplina. Extremamente inspiradora. Todo mundo deveria fazer!”, diz com entusiasmo Núbia Simões de Oliveira. Para José Mario de Souza Júnior, o conteúdo apresentado também foi muito enriquecedor e extremamente importante para seu crescimento profissional: “Essa matéria é muito necessária, descobri que ainda tenho muito para ler sobre o tema.”

As aulas têm a participação de especialistas de diferentes áreas do conhecimento, como Ecologia, Filosofia e Direito. Entre eles está Paula Brügger, professora titular aposentada do Departamento de Ecologia e Zoologia (ECZ/UFSC) e também defensora dos animais. A docente aborda o tema “Modelos animais: aspectos éticos, epistemológicos e educacionais” e afirma ter grande satisfação em colaborar com Zanetti nessas aulas: “É muito importante falarmos disso porque não é só uma questão ética. Venho discutindo o assunto desde 2004, quando publiquei o livro ‘Amigo Animal‘. Os estudantes e a população em geral precisam saber que o uso de animais como modelos de seres humanos não é apenas antiético, por causar sofrimento, mas também anticientífico. Infelizmente ainda existem obstáculos culturais, econômicos e institucionais que impedem as mudanças.”

Além da disciplina, no segundo semestre de 2019 o professor coordenará, junto com o pesquisador Luciano Cunha, o curso de extensão “Uma introdução ao debate sobre a consideração moral dos animais não humanos”, aberto a toda a comunidade. “Vamos introduzir as questões centrais em ética animal, que é um tema que diz respeito à decisões que todos têm participação direta ou indireta. Esse debate vem crescendo nos últimos anos em todo o mundo, mas ainda é raro nas universidades brasileiras”, explica. Para a professora Sônia T. Felipe, responsável por lhe despertar muitas dessas reflexões, “Zanetti é um raro cientista, um exemplo do que será a ciência do futuro: nada de testes em animais”.

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

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