Pesquisa indica padrões de conectividade genética distintos entre espécies de corais-de-fogo
Os padrões distintos de conectividade genética entre espécies de corais-de-fogo endêmicas e de ampla distribuição foram analisados num artigo de uma doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ecologia da Universidade Federal de Santa Catarina (em colaboração com pesquisadores de outras instituições brasileiras, da França, Colômbia, Holanda e Estados Unidos) publicado em março na revista Coral Reefs.
A pesquisa de Júlia Nunes de Souza abordou três espécies endêmicas (que só existem num local) no Brasil de coral-de-fogo (Millepora braziliensis, M. nitida e M. laboreli) e uma de ampla distribuição, M. alcicornis. Os resultados das amostras coletadas em 273 colônias e 17 locais de Bermuda, Ilhas Canárias até o Rio de Janeiro apontam que a diversidade genética da espécie de ampla distribuição (Millepora alcicornis) é menor no Brasil do que no Caribe.
Alberto Lindner, professor da Pós em Ecologia e último autor do artigo, explica que os corais-de-fogo são os únicos ramificados na costa brasileira e são importantes porque criam habitat para outras espécies. Das 22 espécies formadoras de recife no Brasil, nove são endêmicas. “Uma característica interessante da costa brasileira é a existência de muitas espécies endêmicas. A diversidade genética menor revelada pelo estudo também pode indicar uma menor resiliência, em comparação com outras regiões. Se acontece algo por aqui, pode ser mais difícil desta população se recuperar”.
De acordo com o artigo, a baixa conectividade genética das espécies endêmicas contrasta com a da M. alcicornis, de ampla distribuição – há alta conectividade genética desta espécie no Brasil, o que indica uma maior capacidade de dispersão.
Entre os principais obstáculos ao fluxo gênico descritos no artigo estão a pluma de água doce liberada no mar pelas bacias dos rios Amazonas e Orinoco (na Venezuela) e a Barreira do Atlântico Central. Os resultados sugerem que a M. alcicornis tem capacidade de dispersão através de longas distâncias, enquanto as demais espécies têm alcance restrito e capacidade de dispersão limitada.
Cnidários
Corais-de-fogo são cnidáriose chamados assim porque o toque também provoca um envenenamento, do tipo das “queimaduras” das águas-vivas.
Estes organismos secretam um esqueleto de carbonato de cálcio que forma as ramificações, produzindo colônias. Sazonalmente, os corais se reproduzem com a liberação de pequenas medusas, que têm capacidade de transpor maiores distâncias e formar novas colônias.
Ameaças
Hotspots de biodiversidade marinha, os recifes de corais sofrem ameaças no mundo todo, em relação à ação do homem, tanto em poluição, coleta e mudança climática. Em locais como o Brasil, como a resiliência das espécies é reduzida e as espécies são geralmente endêmicas, o perigo tende a ser maior.
Colaborações
A pesquisa do artigo foi originada da dissertação de Júlia na Pós em Ecologia, orientada por Lindner, e pôde ser complementada com o auxílio de pesquisadores das outras instituições participantes, que contribuíram com espécimes e análises.
Os trabalhos de coleta de exemplares no Brasil contou com o apoio da Rede SISBIOTA-Mar – Rede Nacional de Pesquisa em Biodiversidade Marinha. “Nós tivemos sorte de contar com a ajuda da Rede SISBIOTA, que ampliou o escopo geográfico da pesquisa”, diz Lindner.
Caetano Machado/Jornalista da Agecom/UFSC