Estudo com farinha de mandioca do sul do estado apresenta benefícios às dislipidemias
A dissertação “Caracterização química e avaliação do efeito da ingestão de farinhas de mandioca (Manihot esculenta Crantz) no perfil lipídico e glicêmico de ratos”, desenvolvida pela engenheira agrônoma Bianca Coelho, do Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia e Biociências da UFSC, avaliou as farinhas e amidos de genótipos de mandioca (GM) provenientes, em grande parte, de engenhos da microrregião de Tubarão, sul de Santa Catarina, e o efeito da ingestão do genótipo Torta da Penha (cultivada em Paulo Lopes, Imbituba e Garopaba) em ratos machos Wistar.
O estudo foi orientado pelo professor Marcelo Maraschin, do Núcleo de Produtos Naturais do Centro de Ciências Agrárias (CCA), e contou com a colaboração dos professores do Centro de Ciências da Saúde (CCS), Edson Luiz da Silva (Análises Clínicas) e Vera Lúcia Cardoso Garcia Tramonte (Nutrição).
Diferentemente de espécies examinadas como omilho, o trigo e a aveia, a mandioca tem sido negligenciada. Apesar de estar por muito tempo à margem das atenções governamentais, é cultivada por um número expressivo de agricultores, viabilizando a produção de derivados de maior interesse econômico como a farinha e o amido. No entanto, alguns engenhos no estado ainda apresentam baixo nível tecnológico, o que, aliada àfalta de articulação de políticas públicas e apouca rentabilidade, tem desestimulado a produção.
A Empresa de Pesquisa Agropecuária e Extensão Rural de Santa Catarina (Epagri) possui um dos maiores Bancos Ativos de Germoplasma (BAGs) de mandioca no Brasil e desenvolveu, recentemente, um projeto de pesquisa com suporte financeiro do CNPq, em parceria com a UFSC e instituições nacionais e internacionais, visando modificar esse quadro e contribuir para avanços tecnológicos no setor.
Os amidos e as farinhas dos GM analisados foram similares quimicamente e apresentaram resultados desejáveis ao uso industrial diante das variáveis estudadas, densidade e regularidade de tamanho dos grânulos e teores de amido resistente. Além disto, com base no ensaio biológico, sugere-se que o consumo da farinha do genótipo Torta da Penha é benéfico à saúde humana. Mostrou-se eficiente, por exemplo,que uma dieta contendo 12,5% (m/m), com pequenas quantidades de fibras e amido resistente, na redução da gordura retroperitoneal, nas concentrações hepática de triglicerídeos e na plasmática de lipoproteínas potencialmente aterogênicas (não-HDL-colesterol), de colesterol total e de triglicerídeos de ratos.
Os resultados sugerem o potencial da biomassa como alimento funcional em relação a fontes de fibras dietéticas importantes à saúde humana e consolidadas na literatura. Esses dados são relevantes, pois estão diretamente ligados às dislipidemias e às doenças crônicas, como aterosclerose e doenças cardiovasculares.
Diante do hábito de consumo de farinha de mandioca pelapopulação brasileira, esse produto surge como fonte alternativa de fibras à intervenção nutricional profilática e terapêutica nas dislipidemias. Embora seja uma espécie nativa, poucos relatos são encontrados na literatura quanto aos efeitos do consumo de farinha de mandioca na lipemia e glicemia, por exemplo, tanto em animais como em seres humanos.
Além do contexto profilático e terapêutico à saúde humana que a farinha pode proporcionar, menciona-se o componente socioeconômico do sistema produtivo, representado principalmente por agricultores familiares que a cultivam, processam e dela dependem para o seu sustento e da pequena propriedade agrícola. Em seu conjunto, os resultados obtidos geram subsídios à eventual agregação de valor aos produtos de M. esculenta, uma contribuição importante à reversão do baixo retorno econômico associado ao cultivo dessa espécie e ao estímulo ao setor produtivo afim.
Mais informações pelo e-mail biancacoelho1@gmail.com