Ilse Scherer-Warren: a jornada emérita da pesquisadora em movimentos sociais
Em uma pequena vila chamada Portão, hoje município da Grande Porto Alegre (RS), Ilse Scherer-Warren nasceu (1944). Os pais, descendentes de alemães, criaram nove filhos: sete homens e duas mulheres. Somente dois, ela e um irmão, continuaram os estudos, algo bastante incomum para uma região agrícola e que possuía apenas uma escola primária. Adquiriu muito cedo o gosto pela leitura. Em casa tinha um armário repleto de livros e assim que aprendeu a ler, era ali que se debruçava em temas de seu interesse. Gostava também de jornal e sempre lia a segunda página do periódico O Dia, do qual o pai tinha assinatura e onde encontrava matérias relacionadas às Ciências Humanas.
Distante do que a sua cidade natal poderia lhe proporcionar e na contramão do que imaginavam para o seu futuro, Ilse apostou nos estudos para transformar sua vida. Por vontade própria, frequentou por um ano o internato, fez curso de preparação – ou, como era chamado, Artigo 99 – para suplementar o colegial (atual fundamental) e, estudando de forma autônoma, passou no exame para o ginásio (atual ensino médio). Ao mesmo tempo ingressou no curso de Secretariado na Escola Técnica da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em Porto Alegre, que foi a sua primeira aproximação com o ambiente universitário.
Assim que saiu de Portão, morou na capital gaúcha em casas de duas famílias. Eles pagavam seus estudos e, em troca, Ilse auxiliava nas atividades domésticas. Na sequência, trabalhou no Instituto de Física da UFRGS, no período entre o final da escola secundária e a entrada na graduação.
Na escolha de qual profissão a seguir, chegou a ter dúvidas. Cientista Social ou Jornalista? Na UFRGS era o mesmo concurso para, coincidentemente, as duas áreas que Ilse mais se identificava, podendo optar ao final por uma delas. Mas não foi preciso. Por influência de seu irmão mais velho que havia lhe emprestado um manual de Sociologia, percebeu que este era o seu único caminho. Tão logo saiu a aprovação no vestibular, procurou viabilizar outro desejo, o de aprender o idioma francês. Persistiu e conseguiu uma bolsa de estudos na Aliança Francesa. Também foi aprovada em concurso público para a Secretaria do Trabalho do Rio Grande do Sul, o que lhe ajudou a custear as despesas como estudante do ensino superior.
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