Oitava edição das Jornadas Bolivarianas prossegue até quarta-feira

24/04/2012 11:36

Aberta segunda-feira, a oitava edição das Jornadas Bolivarianas, evento anual do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), prossegue até amanhã, quarta-feira, na UFSC. A conferência de abertura foi feita pela professora cubana Digna Castañeda, coordenadora da cátedra Caribe na Universidade de Havana. Ela falou sobre a estratégica posição do Caribe na América Latina e sua importância geopolítica no continente americano.

Na manhã desta terça-feira, aconteceu a apresentação do livro “Em luta pela terra sem mal”, da jornalista Juliana Piva, que trata do trabalho escravo indígena na Bolívia, seguida da conferência do professor Carlos Martínez, da Universidade Nacional da Colômbia, autor de vários livros sobre o Caribe.

Na parte da tarde acontece a tradicional apresentação de trabalhos, com temática latino-americana, às 14h30min. A conferência da noite será com o professor Norman Girvan, da University of the West Indies (Trinidad y Tobago), que é também consultor das Nações Unidas para o Desenvolvimento Político. Haverá ainda a apresentação do livro “Anuário Educativo Brasileiro”, obra coordenada por Nildo Ouriques (UFSC) e Guadelupe Bertussi (Universidade Pedagógica do México).

No dia 25, quarta-feira, a conferência da manhã, às 9h, será com a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Ceci Misoczky, que falará sobre os desafios e as lutas do povo haitiano. No período da noite, a partir das 18h30, acontece uma mesa redonda com todos os conferencistas sobre as lutas populares e o movimento social no Caribe. Para fechar os debates haverá a apresentação do primeiro volume da Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano, coordenada pelo IELA numa parceria com a Editora Insular. O primeiro livro é de Ruy Mauro Marini, “Subdesenvolvimento e Revolução”.

Confira a programação completa aqui.

Informações: www.iela.ufsc.br ou Elaine Tavares  (48) 9907-8877

 As atividades do IELA

O Instituto de Estudos Latino-Americanos da UFSC (IELA) publicou um informe em formato de revista no qual apresenta as suas atividades, os resultados alcançados e as ações que vêm sendo pensadas para o futuro. Criado com o nome de Observatório Latino-Americano (OLA), em 2004, o instituto é entendido como uma rede de professores pesquisadores que contribuem para “dotar a universidade brasileira, em particular a Universidade Federal de Santa Catarina, de capacidade reflexiva sobre a realidade latino-americana”.

Esses professores trabalham em diferentes frentes, organizando e apoiando eventos, dando conferências, cursos e entrevistas, elaborando textos para publicações impressas e eletrônicas, assessorando governos e entidades do movimento social. O instituto tem um corpo de pesquisadores e colaboradores associados que pertencem a diferentes centros de ensino da UFSC, além de representantes de outras universidades brasileiras e de países como Argentina, Chile, Colômbia, Haiti, Cuba, El Salvador, México e Estados Unidos.

Entre os projetos realizados ou em andamento estão o Observatório Latino-Americano (de leitura, discussão e pesquisa), o Vitral Latino-Americano de Educação Física, Esportes e Saúde, o projeto Pluralismo Jurídico e Historicidade Crítica na América Latina, o Anuário Educativo Brasileiro, o Núcleo de Estudos de História da América Latina e o projeto Transformações do Capitalismo Contemporâneo.

O IELA também mantém convênios com universidades latino-americanas, organiza conferências, trabalha com a publicação de artigos científicos e lança obras com o conteúdo das Jornadas Bolivarianas, realizadas periodicamente na UFSC, além de manter uma página eletrônica (www.iela.ufsc.br) que contém notícias e textos em geral sobre o instituto e temas de interesse de seu público alvo.

Tags: IELAjornadasUFSC

Jornadas Bolivarianas começam nesta segunda

23/04/2012 08:00
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As Jornadas deste ano apresentam estudos e reflexões sobre o Caribe

Começa nesta segunda-feira, 23 de abril, a oitava edição das Jornadas Bolivarianas, evento anual do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA). A conferência de abertura, às 18h30min, será com a professora cubana Digna Castañeda, coordenadora da Cátedra Caribe, na Universidade de Havana. Ela fala sobre a estratégica posição do Caribe na América Latina e sua importância geopolítica, tanto para o império quanto para a luta popular.

Sempre é importante lembrar que o Caribe é o espaço geográfico que fica entre as Américas, no meio do mar, primeiro lugar a ser encontrado pelos invasores europeus em 1492. Ali também foi palco da grande rebelião dos escravos que acabou com a formação do primeiro estado negro de todo o continente: o Haiti, além de ser no Caribe, em Cuba, a primeira experiência socialista da região.

Na terça, 24/04, durante o período da manhã, acontece a apresentação do livro “Em luta pela terra sem mal”, da jornalista Juliana Piva, que trata do trabalho escravo indígena na Bolívia, seguida da conferência do professor Carlos Martínez, da Universidade Nacional da Colômbia, autor de vários livros sobre o Caribe.

Na parte da tarde acontece a tradicional apresentação de trabalhos, com temática latino-americana, às 14h30min. A conferência da noite será com o professor Norman Girvan, da University of the West Indies (Trinidad y Tobago), que é também consultor das Nações Unidas para o Desenvolvimento Político. Haverá ainda a apresentação do livro “Anuário Educativo Brasileiro”, obra coordenada por Nildo Ouriques (UFSC) e Guadelupe Bertussi (Universidade Pedagógica do México).

No dia 25 de abril, a conferência da manhã, às 9h, será com a professora da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Maria Ceci Misoczky, que falará sobre os desafios e as lutas do povo haitiano. No período da noite, a partir das 18h30, acontece uma mesa redonda com todos os conferencistas, sobre as lutas populares e o movimento social no Caribe. Para fechar os debates haverá a apresentação do primeiro volume da Biblioteca do Pensamento Crítico Latino-Americano, coordenada pelo IELA numa parceria com a Editora Insular. O primeiro livro é de Ruy Mauro Marini,“Subdesenvolvimento e Revolução”.

As jornadas de 2012 apresentam, então, um pouco do estudo e da reflexão que se faz sobre o Caribe, essa importante e estratégica região, com uma experiência histórica riquíssima sem a qual seguiremos ignorando parte do nosso passado como povo, nosso presente e futuro comum. As inscrições são gratuitas e deverão ser feitas no Auditório da Reitoria, onde acontece o evento.

Confira a programação completa aqui.

Informações: www.iela.ufsc.br ou Elaine Tavares  (48) 9907-8877

Tags: América LatinaIELAJornadas Bolivarianas

Livro “Em Busca da Utopia” será lançado nesta terça

09/04/2012 16:27

Jornalista Elaine Tavares lança "Em busca da utopia"O Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da UFSC e a revista Pobres e Nojentas convidam para o lançamento do livro “Em busca da Utopia – os caminhos da reportagem no Brasil, dos anos 50 aos anos 90”, da jornalista Elaine Tavares, que acontece no próximo dia 10 de abril , às 19h30min, na Pizzaria San Francesco, centro de Florianópolis.

Nesse trabalho Elaine Tavares faz uma recuperação da teoria do jornalismo produzida no Brasil desde os anos dourados até o início do século XXI. Ancorada no conceito de utopia ela desvela o pensamento que hegemonizou a prática do jornalismo e as teorias hereges que iluminaram o pensamento crítico.

Depois, analisa a reportagem nas revistas O CruzeiroRealidadeVeja e Época, mostrando como a utopia aparece nos textos e qual a importância disso para o jornalismo.  Vez ou outra, por força de um jornalismo de autor, ela (a utopia) aparece nos textos mostrando que Adelmo Genro Filho, teórico gaúcho, estava certo ao dizer que, mesmo sendo filho dileto do capitalismo, o jornalismo apresenta brechas por onde a realidade pode se expressar. Assim, aquilo que existe apenas como propaganda do sistema, em alguns momentos, explode em crítica e utopia.

O trabalho traz à luz teóricos há muito tempo esquecidos nas universidades como Danton Jobim, Alceu Amoroso Lima, Antônio Olinto, Celso Kelly e outros que singraram a dura estrada de produzir teoria no campo do jornalismo.

O livro ainda discute o conceito de pós-modernidade mostrando que o que era real para a Europa esgotada no início do século nada tem a ver com a realidade latino-americana. A América Latina, e o Brasil aí incluído, vive um tempo de mudanças radicais, capaz de se expressar também na forma de narrar a vida.

Contatos com a autora: (48)99078877 eteia@gmx.net.

Serviço:

Local: Pizzaria San Francesco, Av. Hercílio Luz, 1131

Hora: 19h30min

Data: 10.04.2012

Tags: IELAteoria do jornalismoUFSC

‘Em Busca da Utopia’, uma obra para pensar a reportagem e os sonhos em vigília

05/04/2012 10:08

Jornalista Elaine Tavares lança "Em busca da utopia"O Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da UFSC e a revista Pobres e Nojentas convidam para o lançamento do livro “Em busca da Utopia – os caminhos da reportagem no Brasil, dos anos 50 aos anos 90”, da jornalista Elaine Tavares, no próximo dia 10 de abril , às 19h30min, na Pizzaria San Francesco.

Nesse trabalho Elaine Tavares faz uma recuperação da teoria do jornalismo produzida no Brasil desde os anos dourados até o início do século XXI. Ancorada no conceito de utopia ela desvela o pensamento que hegemonizou a prática do jornalismo e as teorias hereges que iluminaram o pensamento crítico.
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Tags: IELAreportagemUFSCutopia

Cursos gratuitos sobre capitalismo contemporâneo na América Latina

16/11/2011 15:25

Continua no dia 21 de novembro a sequência de seminários livres do Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/UFSC). Nesse projeto, os pesquisadores do instituto, assim como convidados especiais, apresentam a teoria que move seus projetos de pesquisa. O curso a ser ministrado nos próximos dias 21 e 23 tratará das transformações do capitalismo contemporâneo na América latina. A inscrição é gratuita e deve ser feita com antecedência através do e-mail iela@iela.ufsc.br. São oferecidas 60 vagas.

As transformações do capitalismo dependente latino-americano foram profundas nas duas últimas décadas. A vigência da lei do valor em escala planetária, com a diminuição do poder estatal dos países periféricos, levou a grandes transformações na economia, no estado e nas classes sociais. Após intenso processo de transnacionalização da produção e perda de direitos dos trabalhadores surgiu recentemente uma nova onda desenvolvimentista, especialmente importante após a erupção da crise mundial do capital inaugurada a partir de setembro de 2007, cujos efeitos ainda não são totalmente visíveis e cujo fim ainda não se avizinha. O otimismo desenvolvimentista assume, portanto, caráter ideológico e é incapaz de oferecer uma real alternativa para os grandes problemas que caracterizam o capitalismo dependente latino-americano.

Serviço:

O quê? Curso As transformações do capitalismo contemporâneo na América Latina

Ministrante: Nildo Ouriques – professor de Economia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).

Quando: Dias 21 e 23 de novembro, das 14h às 18h, no miniauditório da Economia, 2º andar – CSE.

Informações: (48) 3721-6483

Tags: América Laticacapitalismo contemporâneoIELAUFSC

México: concentração da renda e políticas sociais

03/11/2011 08:07

O Instituto de Estudos Latino-Americanos oferece nos dias 7, 8 e 9 de novembro o curso  “México: concentração da renda e políticas sociais”. A capacitação será ministrada pelo professor de economia Sergio Cabrera, da Universidade Nacional Autônoma do México (UNAM).

Abordagem:

As profundas transformações operadas no capitalismo mexicano a partir da entrada em vigor do Tratado de Livre Comércio entre México-Estados Unidos-Canadá, em 1994, revelam finalmente que a promessa originária de modernização com desenvolvimento fracassou completamente. Contudo, este fracasso não deixou de produzir resultados extraordinários para o processo de acumulação de capital em favor do capital nacional e multinacional. Revelou também que o estado mexicano foi profundamente transformado em favor das classes dominantes com graves consequências para o sistema político do país. Igualmente importante foram as transformações da política externa do país que se tornaram mais alinhadas com os interesses de Washington e, em consequência, maior distanciamento de uma política comum latino-americanista. Essas discussões e suas relações com o Brasil serão tema do curso.

Serviço:

Data e horário: Dias 07, 08 e 09 de novembro,  14h às 18h.
Local:  Auditório do Curso de Administração – CSE – primeiro andar – Bloco C – sala 217

Tags: IELA

Lançamento do livro “Crítica à razão acadêmica – Reflexão sobre a Universidade Contemporânea”

19/10/2011 18:05

Nesta quinta-feira, 20 de outubro, às 19 horas, no saguão da Biblioteca Central Universitária (BU/UFSC), será lançado o livro “Crítica à razão acadêmica – Reflexão sobre a Universidade Contemporânea”. Publicado pela Editora Insular, a obra – organizada pelos professores Waldir Rampinelli e Nildo Ouriques – reúne textos de estudiosos da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), da Universidade de São Paulo (USP) e da Ohio State University, dos Estados Unidos. Nos artigos, ensaios e uma entrevista, oito autores pensam as debilidades e alguma nobreza da universidade contemporânea, com o propósito de indagar e desvendar, principalmente, a história de cinco décadas da Universidade Federal de Santa Catarina.

A comemoração dos 50 anos de existência da universidade catarinense, completados em 2010, foi um dos acontecimentos que motivou os organizadores a buscarem outros autores com os quais dividirem reflexões sobre a universidade contemporânea. Porque, conforme enfatiza Rampinelli, a celebração da vida de uma instituição precisa ir além de festas, condecorações e publicação de um livro de caráter oficial, atividades que marcaram os festejos do cinquentenário da UFSC.

O livro, explicam os organizadores, “analisa e desvenda forças claras e ocultas que atuam na universidade contemporânea, algumas delas na UFSC, ao longo de seus 50 anos, como a oligarquia, a maçonaria e o mercado”. Os autores de “Crítica à razão acadêmica”, todos com atividade intelectual e militante na universidade, extraem, de suas análises, reflexões críticas sobre temas como o das fundações privadas, que minam o espaço público, e o das difíceis relações entre os trabalhadores em educação na universidade (técnicos e docentes). Percorrem também, nos textos, caminhos dos movimentos organizados, especialmente na UFSC, e denunciam os vícios dos processos eleitorais para a reitoria ao longo da história da instituição catarinense. Revelam, ainda, um tanto de servidão voluntária nas relações com o poder, bem como a submissão de “acadêmicos” às chamadas “revistas internacionais”, publicações a serviço de políticas científicas e econômicas “bem nacionais” de países europeus e dos Estados Unidos.

Além dos ensaios de Nildo Ouriques e Waldir Rampinelli, o livro traz textos de Célio Espíndola, Elaine Tavares, Fábio Lopes da Silva, Marli Auras (todos da UFSC) e Ciro Teixeira Correia (da USP). O único estrangeiro entre os autores é o estadunidense Frank Donoghue, que contribui com reflexões sobre as mudanças no mundo universitário dos Estados Unidos. O livro inclui, ainda, uma entrevista com Maurício Tragtenberg, intelectual crítico que percebeu precocemente o surgimento de uma séria ameaça à vida universitária, à qual ele se refere como “delinquência acadêmica”.

“A atitude complacente que atualmente domina o campus e que marca a carreira da grande maioria dos professores é nociva para a construção de uma universidade vital para o Brasil e a América Latina”, escrevem os organizadores. “Este livro pretende ser uma contribuição para que as possibilidades abertas pela crise global não se frustrem e possibilitem um despertar no campus universitário, este mesmo despertar cujas vozes vindas das ruas já se podem ouvir.”

Outras informações com Waldir Rampinelli ((8823-1373), Nildo Ouriques (9931-2930) e no IELA (3721- 4938 e 3721-6483).

Tags: IELAlivroUFSC

Iela oferece cursos livres

11/10/2011 12:25

O Instituto de Estudos Latino-Americanos começa a realizar a cada semestre do ano uma edição do projeto Cursos Livres. Nesse projeto, os pesquisadores do instituto, assim como convidados especiais, apresentarão a teoria que move seus projetos de pesquisa. Nesse segundo semestre de 2011 já estão agendados três cursos discriminados abaixo, com suas temáticas e datas. A inscrição é gratuita e deve ser feita com antecedência através do correio eletrônico do IELA: iela@iela.ufsc.br. Haverá apenas 60 vagas disponíveis em cada um dos cursos.

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Tags: cursos livresIELA

Para pensar o esporte em Santa Catarina

25/04/2011 09:38

Amanhã, dia 26 de abril, às 19h, na galeria de arte da Assembléia Legislativa, acontece o lançamento do livro “A Miséria do Esporte”, do professor Nilso Ouriques, da UNOESC. No livro ele explicita como o esporte catarinense, via lógica dos Jogos Abertos, tornou-se um negócio. O que vale é o evento e não o esporte em si. No trabalho, pode-se saber de boa parte das artimanhas que se movem nos bastidores, a política que rege a escolha dos dirigentes e a falta de compromisso com a alegria e a saúde que o esporte proporciona. O professor de Joaçaba, ligado à Rede de Estudos Latino-Americanos (REBELA), coordenada pelo IELA /UFSC, apresenta uma pesquisa bem fundamentada e  mostra, com dados concretos, os problemas do setor, chamando a atenção para o fato de que em Santa Catarina, como em todo o país, os sindicatos e movimentos sociais deveriam dar mais valor ao esporte e prestar mais atenção na política que move o setor.

Tags: esporteIELAOuriques

Jornadas Bolivarianas acontecem até sexta-feira na UFSC

05/04/2011 08:54

Há sete anos  o seminário internacional Jornadas Bolivarianas traz para a capital catarinense reconhecidos pensadores do Brasil e de outros países.  O evento, que  se consolida como  espaço relevante na vida intelectual e comunitária da Universidade Federal de Santa Catarina e da cidade, repercutindo no país e no exterior, começou  segunda-feira, 4 de abril, no Auditório da Reitoria da UFSC,  e se estende até o dia 7, quinta-feira. Nesta sétima edição das Jornadas, promovidas pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/UFSC),  o tema discutido é Imperialismo e Cultura na América Latina, com duas grandes conferências diárias.

Na abertura o  conferencista  foi o cubano Fernando Rojas, vice-ministro da Cultura da nação caribenha, que abordou, para um auditório repleto,  o tema “Cuba: do experimento neocolonial à liderança  antiimperialista”. Nesta terça-feira, às 9 horas, a conferência é de Rafael Cuevas Molina, da Costa Rica, que fala sobre “O imperialismo na América Central. À tarde, autores de estudos sobre a temática das Jornadas apresentam seus trabalhos selecionados, a partir das 14h30min.

À noite, a partir das 18h30min fala a  socióloga aymara Silva Cusicanqui, da Bolívia.  Na quarta-feira,  os conferencistas convidados são o cineasta brasileiro Sérgio Santeiro e um dos criadores da Telesur, Aram Aharonian. As Jornadas estão sendo transmitidas ao vivo pelo site mms://tvled.egc.ufsc.br/aovivo

Livres de modismos

Debates desafiadores caracterizam as Jornadas Bolivarianas, pois, como lembra Waldir Rampinelli, professor de História e presidente do IELA, elas têm trazido para dentro da universidade brasileira temas  que já não são mais moda no mundo acadêmico e que, possivelmente,  raramente aparecem nas discussões das  universidades do chamado eixo Rio/São Paulo, embora sejam frequentes em importantes universidades latino-americanas.

Este é um dos motivos de as Jornadas representarem hoje um espaço de discussão teórica com importância nacional e internacional. Elas trouxeram para a cena intelectual e teórica nestes sete anos temas frequentemente desprezados pela academia, como nacionalismo, socialismo, a política imperialista estadunidense, teoria social e eurocentrismo, a crise das ciências sociais, bolivarianismo e poder popular.

Sobre o tema desta  sétima edição das Jornadas,  Rampinelli lembra que trata de realidades  atinentes desde a chegada dos europeus  à América, que vieram trazendo a espada, que é a força bruta, e a cruz, que é ideologia imposta. “O  intuito dos que aqui chegaram sempre foi o  de dominação completa, o que poderíamos chamar de colonialismo imperialista cultural. E quem resume isso muito bem  é Pablo Neruda, ao dizer: ‘A espada, a cruz e a fome iam dizimando a família selvagem’”.

Todavia, a luta e a resistência  ao colonialismo imperialista cultural começou já quando Colombo fincou a bota na América. “Tanto é que o primeiro levante indígena contra isso foi comandado por um cacique indígena chamado Enriquillo,  na ilha Hispaniola, hoje Haiti e República Dominicana”, explica Rampinelli. Este levante, em forma de guerrilha nas montanhas, que durou décadas, já era  expressão da luta contra o colonialismo imperialista cultural. “Só que os lutadores foram atraídos pelos  conquistadores com a promessa de um pacto e foram todos liquidados,” recorda o historiador.

O fato é que os povos originários se insurgiram   contra os colonizadores desde o início da conquista violenta. Escravizados e subjugados, eles se opunham principalmente de duas maneiras, comenta Rampinelli. Primeiro,  através da ação educativa das mães e dos velhos, que contavam  às crianças a  história  de seu povo, seus usos, costumes sua  luta e  resistência. A segunda forma de enfrentar os opressores era a negação ao trabalho, um modo de resistência que levou os invasores a chamarem os “indígenas” das Américas de “vadios e preguiçosos”.

Rampinelli destaca ainda a grande resistência cultural  protagonizada pelos negros escravizados, que também se rebelaram e utilizaram a  ação educativa para não permitir que seus meninos e meninas esquecessem a própria história. No Brasil, por exemplo, os povos africanos escravizados se embrenharam em locais de difícil acesso,   criando os quilombos, onde podiam preservar seus saberes, sua cultura, economia, usos e costumes. Esses refúgios remotos nas matas e montanhas formaram  aldeias  em que os  negros, feitos pela própria luta homens e mulheres livres, praticavam uma economia  de subsistência e até o comércio. Entre os que mais prosperaram, o mítico quilombo dos Palmares, em Alagoas, durou quase um século.

Antiimperialistas na história

Povos e homens foram fundamentais no processo de resistência e luta dos povos latino-americanos. E um desses homens – Simón Bolívar –  inspira  o nome das Jornadas Bolivarianas.  O Libertador, cognome que imortaliza Bolívar na  história, lutava pela concretização da Pátria Grande, a unidade latino-americana para enfrentar o imperialismo inglês e o estadunidense, que ele já previa nos anos das guerras de independência da América espanhola.

O sonho de Bolívar, ao conceber a  Pátria Grande, era de poder enfrentar em  pé de igualdade a Inglaterra e não permitir que os Estados Unidos,  que já despontavam como uma potência no início do século XIX,  fincassem garras no continente e tomassem  conta da América Latina.

Na segunda metade do século 19, Rampinelli destaca a figura de José Martí, possivelmente quem mais teorizou, até então, sobre a questão  luta antiimperialista e que preconizou, como Bolívar, o internacionalismo. “Ele defendia a tese de que a América fosse para a humanidade e não subjugada pelas  potências, dizendo que devíamos ser como árvores, para impedir a passagem do gigante de sete léguas, leia-se Estados Unidos.”

Martí advertia, em 1891, no seu emblemático texto “Nuestra América”:  Ya no podemos ser el pueblo de hojas, que vive en el aire, con la copa cargada de flor, restallando o zumbando, según La acaricie el capricho de la luz, o la tundan y talen las tempestades; ¡los árboles se han de poner en fila para que no pase el gigante de las siete legua! Es la hora del recuento, y de la marcha unida, y hemos de andar en cuadro apretado, como la plata en las raíces de los Andes.

Ao falar em anti-imperialismo assoma também a figura do  cubano Julio Antonio Mella, fundador da Liga Antiimperialista das Américas, líder do movimento estudantil e revolucionário nas lutas das organizações operárias e estudantis contra o imperialismo estadunidense. Rampinelli destaca ainda Che Guevara, que defendia a tese de que seriam precisos um dois ou três Vietnãs para derrotar o imperialismo.

José Carlos Mariátegui,  socialista antiimperialista, é outro intelectual importante neste cenário de pensadores libertários antiimperialistas. O intelectual peruano afirmava que, para existirem nações na América Latina,  seria preciso enfrentar o imperialismo, mas também a oligarquia e a burguesia latino-americana, sócias menores do imperialismo.

Na atualidade, diz Rampinelli,  é preciso não esquecer quem mais enfrentou o imperialismo estadunidense, inclusive vencendo-o militarmente, na invasão da Baía dos Porcos. “E o caminho consistente que Fidel Castro encontrou na luta antiimperialista  foi o socialismo, com raízes cubanas. É por isso ele se declara marxista- leninista-martiano.”

Rampineli ressalta  a importância de se discutir o   imperialismo cultural no ambiente universitário, lembrando que este fenômeno   atinge de modo preocupante as crianças, adolescentes e jovens, por meio, principalmente,  da  mídia, de jogos de computador, história em quadrinhos, cinema hollywoodiano, Disneylandia e seus correlatos.  “E por meio da tecnologia, por exemplo, que se vende um modo de ser estadunidense e europeu, que  se apossa de cabeças e corações. E é dessa forma que a realidade deles, que é caótica, acaba sendo  imposta como a ‘verdadeira civilização’”.

A universidade, predominantemente,  também  é uma repetidora do imperialismo cultural,  diante do qual  se esfuma  a crítica e certos temas passam a ser vistos como fora de moda, quando não uma “heresia”. Mas  enquanto uma certa intelectualidade despreza
temas como o nacionalismo,  países como os Estados Unidos atacam os nacionalistas,  inclusive assessorados por intelectuais de
direita.  Rampinelli cita o documento de Santa Fé II,  de 1988, que orientou a política externa do Departamento de Estado estadunidense, o qual  afirmava que “o matrimônio do nacionalismo com o comunismo na América Latina representava o maior perigo para a região e para os interesses dos Estados Unidos.”   Isso porque, diz o professor,  “o nacionalismo enfrenta o imperialismo cultural.”

Esses temas e outros tantos  vão aparecer nessas jornadas de abril do   IELA. Elas  contam  com o apoio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Centro Sócio-Econômico (CSE), Secretaria de Cultura e Arte (SeCArte), Departamento e Pós-Graduação em Serviço Social, Departamento e Pós em Ciências Econômicas, Pós-Graduação em História e Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região (Sinergia).

Por Raquel Moysés / Jornalista do IELA

Confira a programação:

05 de abril de 2011

– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC

9h – Conferência: O imperialismo na América Central

Rafael Cuevas Molina – Costa Rica

Coordenação: César Medeiros

– Tarde – Auditório da Reitoria – UFSC

14h30 – Apresentação de trabalhos

Coordenação: Vitor Hugo Tonin

– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC

18h30 – Conferência: Imperialismo e cultura andina

Silvia Rivera Cusicanqui  – Bolívia

Coordenação: Fernando Correa Prado

Lançamento do livro “O Mapa da Crise”, organizado por Nildo Ouriques e Elaine Tavares

06 de abril de 2011

– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC

9h – Conferência: O cinema latino-americano e a indústria cultural

Sérgio Santeiro – Brasil

Coordenação: Nildo Ouriques

– Tarde – Auditório do CCE

14h30 às 18h – Reprodução de filmes de Fernando “Pino” Solanas –

– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC

18h30 – Conferência: A mídia e o Imperialismo

Aram Aharonian – Venezuela

Coordenação: Elaine Tavares

07 de abril de 2011

– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC

9h – Mesa redonda: Imperialismo e cultura na América Latina

Aram Aharonian, Fernando Rojas, Rafael Cuevas Molina, Sérgio Santeiro e Nildo Ouriques

Coordenação: Waldir José Rampinelli

– Tarde – Auditório do CSE – UFSC e Hall da Reitoria

14h30 às 18h – Reprodução de filmes de Fernando “Pino” Solanas –

Noite

20h – Em frente à reitoria

Festa Latino-Americana

Atenção: As inscrições acontecem no local do evento e quem quiser o certificado deve sempre assinar a lista de presença.

Outras informações no IELA/UFSC (www.iela.ufsc.br).

Telefone (48) 3721-4938

Tags: IELAJornadas Bolivarianas

Cuba é destaque nas Jornadas Bolivarianas que começam dia 04 de abril

01/04/2011 15:57
Foto: Divulgação

Foto: Divulgação

O vice-ministro da cultura de Cuba é o conferencista que faz a abertura das Jornadas Bolivarianas, neste dia 04 de abril, às 18h30min, no Auditório da Reitoria. Considerando os 500 anos de dominação e o quase completo colonialismo mental que toma conta das cabeças pensantes na América Latina, ouvir a experiência cubana será muito importante no marco do debate do imperialismo cultural. Depois da revolução de 1959, a ilha do Caribe decidiu investir fortemente no processo de socialização da cultura, possibilitando aos cubanos a expressão de todas as artes.

Com isso, abriu espaço para a criação de um pensamento próprio, coisa bastante rara na América Latina. A feira do Livro de Havana já é um evento mundial, e permite o encontro com escritores de todas as partes do mundo, além de livros extremamente baratos. A música cubana também é reconhecida mundo afora, a arte plástica, o muralismo, o cinema, a literatura, enfim, um modo de ser que sai do modelo colonial e consegue criar uma linguagem bastante singular, típica de Cuba.

Essa experiência de mais de 50 anos de construção de uma cultura local, mas nem por isso menos universal, é o que se poderá ouvir na conferência de Fernando Rojas, vice ministro da Cultura.

Também estarão nas jornadas o escritor da Costa Rica, Rafael Molina, a socióloga aymara, Silva Cusicanqui, o criador da Telesur, Aram Aharonian e o cineasta brasileiro Sérgio Santeiro.

Leia mais sobre as Jornadas Bolivarianas:

Imperialismo e Cultura na América Latina em debate nas Jornadas Bolivarianas
Programação: http://jornadasbolivarianas.blogspot.com

Por Elaine Tavares/ Jornalista Iela

Tags: CubaIELAJornadas Bolivarianas

Imperialismo e Cultura na América Latina em debate nas Jornadas Bolivarianas

30/03/2011 14:48

Começa no dia 4 de abril, segunda-feira, às 18h30min, no Auditório da Reitoria,  na UFSC, a sétima edição das Jornadas Bolivarianas. O tema Imperialismo e Cultura na América Latina vai  ser esmiuçado em conferências de reconhecidos intelectuais de países como Venezuela, Cuba, Costa Rica, Brasil e Bolívia.  As Jornadas, realizadas pela sétima vez, são promovidas pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/UFSC), e têm tido,  em todas as edições, grande afluência e participação de público. Neste ano, o  evento conta com o apoio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), Centro Sócio-Econômico (CSE), Secretaria de Cultura e Arte (Secarte), Departamento e Pós-Graduação em Serviço Social, Departamento e Pós em Ciências Econômicas, Pós-Graduação em História e Sinergia – Sindicato dos Eletricitários de Florianópolis e Região. O evento  acontece até  7 de abril, no Auditório da Reitoria.

O fenômeno do imperialismo sempre foi bastante estudado. Algumas obras clássicas que diretamente remetem ao tema são Imperialismo: um estudo, de J.A. Hobson, Imperialismo: fase superior do capitalismo, de Lenin, e A era do imperialismo, de Harry Magdoff. Mais recentemente, em 2003, David Harvey publicou a obra O novo imperialismo, significativa  contribuição para o debate do tema. Mas, apesar dos reconhecidos aportes críticos, alguns autores, como os citados, acabaram por se limitar ao plano político-econômico, de modo que pouco se tratou do papel da cultura.  O colonialismo intelectual e mental a que são submetidos os povos na América Latina, por exemplo, ainda não recebeu o devido tratamento.

É sabido que a investida imperial consiste na ocupação, domínio e subordinação de terras alheias, mas não apenas no campo geográfico. Um dos aspectos mais importantes para a compreensão plena do imperialismo é o “edifício cultural” que o sustenta. Daí a importância de debater esse tema, que as Jornadas Bolivarianas propõem este ano. Participam das conferências o vice-ministro de Cuba, Fernando Rojas; um dos criadores da idéia da Telesur, Aram Aharonian; o escritor e presidente do Instituto de Estudios Latinoamericanos da Costa Rica, Rafael Molina; a socióloga aymara Silvia Cusicanqui, da Bolívia;  e o cineasta brasileiro Sérgio Santeiro.

Confira a programação:

04 a 07 de abril de 2011

Florianópolis – Brasil

04 de abril de 2011

– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC

18h30 –  Abertura oficial das Jornadas Bolivarianas- 7ª edição

19h – Conferência – Cuba: do experimento neocolonial à liderança antiimperialista

Fernando Rojas – Cuba

Coordenação: Beatriz Paiva

05 de abril de 2011

– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC

9h – Conferência: O imperialismo na América Central

Rafael Cuevas Molina – Costa Rica

Coordenação: César Medeiros

– Tarde – Auditório da Reitoria – UFSC

14h30 – Apresentação de trabalhos

Coordenação: Vitor Hugo Tonin

– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC

18h30 – Conferência: Imperialismo e cultura andina

Silvia Rivera Cusicanqui  – Bolívia

Coordenação: Fernando Correa Prado

Lançamento do livro “O Mapa da Crise”, organizado por Nildo Ouriques e Elaine Tavares

06 de abril de 2011

– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC

9h – Conferência: O cinema latino-americano e a indústria cultural

Sérgio Santeiro – Brasil

Coordenação: Nildo Ouriques

– Tarde – Auditório do CCE

14h30 às 18h – Reprodução de filmes de Fernando “Pino” Solanas –

– Noite – Auditório da Reitoria – UFSC

18h30 – Conferência: A mídia e o Imperialismo

Aram Aharonian – Venezuela

Coordenação: Elaine Tavares

07 de abril de 2011

– Manhã – Auditório da Reitoria – UFSC

9h – Mesa redonda: Imperialismo e cultura na América Latina

Aram Aharonian, Fernando Rojas, Rafael Cuevas Molina, Sérgio Santeiro e Nildo Ouriques

Coordenação: Waldir José Rampinelli

– Tarde – Auditório do CSE – UFSC e Hall da Reitoria

14h30 às 18h – Reprodução de filmes de Fernando “Pino” Solanas –

Noite

20h – Em frente à reitoria

Festa Latino-Americana

Atenção: As inscrições acontecem no local do evento e quem quiser o certificado deve sempre assinar a lista de presença.

Outras informações no IELA/UFSC (www.iela.ufsc.br).

Telefone (48) 3721-4938

Fonte: IELA/UFSC

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Jornadas Bolivarianas discutem imperialismo e cultura

29/03/2011 12:13

Começa no dia 4 de abril, na UFSC, a sétima edição das Jornadas Bolivarianas, com o tema Imperialismo e Cultura na América Latina. O encontro vai trazer importantes intelectuais de países como Venezuela, Cuba, Costa Rica, Brasil e Bolívia. Este é o mais importante evento promovido pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) e se estende até o dia 7 de abril, sempre no Auditório da Reitoria. A abertura será no dia 4, às 18h30min. Participam das conferências o vice-ministro de Cuba, Fernando Rojas, um dos criadores da idéia da Telesur, Aram Aharonian, o escritor e presidente do Instituto de Estudios Latinoamericanos da Costa Rica, Rafael Molina, a socióloga Aymara Silvia Cisicanqui e o cineasta brasileiro Sérgio Santeiro.

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Conferência ´50 anos da revolução cubana`

24/03/2011 11:36

Nesta quinta-feira, 24 de março, com a historiadora Claudia Wasserman (UFRGS), autora do livro A revolução cubana: 50 anos de imprensa e história no Brasil, que estará à venda no evento.  Auditório do Centro de Educação (CED), às 18h30min. Promoção: Instituto de Estudos Latino-Americanos e Programa de Pós-Graduação em História. Informações: www.iela.ufsc.br ou (48) 3721-9359.

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Palestra: “50 anos da revolução cubana”

14/03/2011 17:02

Quem se surpreendeu com o efeito revolução cubana no carnaval na ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, tem mais uma oportunidade de ampliar seu conhecimento sobre a história de Cuba.  No dia 24 de março, quinta-feira, às 18h30, no Auditório do Centro de Educação (CED/UFSC), a professora Claudia Wasserman, da Universidade Federal  do Rio Grande do Sul, dá uma conferência sobre o tema “50 anos da revolução cubana”. A historiadora é autora do livro “A revolução cubana: 50 anos de imprensa e história no Brasil”, que vai estar à venda durante sua palestra na UFSC. Na obra, ela traça um panorama de como repercutiram no Brasil os acontecimentos revolucionários em Cuba e analisa  impressões sobre a revolução cubana que a mídia imprimiu no imaginário popular dos brasileiros ao longo dos anos.

A conferência com Claudia Wasserman é organizada pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), em colaboração com o Programa de Pós-Graduação em História e o Núcleo de Estudos de História da América Latina (Nehal). Às 14 horas do mesmo dia, na sala 10 do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), a historiadora participa da banca de mestrado de Elvis Poletto sobre “Conceito de nação em Mariátegui”, orientada por Waldir Rampinelli, professor do Departamento de História e também presidente do IELA. Doutora  em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com a tese “A questão nacional na América Latina no começo do século XX: Brasil, Argentina e México”, Claudia Wasserman também publicou “História Contemporânea da América Latina (1900-1930)”; “História da América Latina: do descobrimento a 1900”; “Palavra de Presidente”; e “Ditaduras Militares na América Latina”.

História de lutas

O professor Waldir Rampinelli, que vai mediar o debate com Claudia Wasserman, lembra um aspecto importante, mas pouco analisado quando se aborda a história de Cuba: o fato de a revolução cubana não se tratar de um evento, mas de um  processo histórico de longa duração. O que isso quer dizer? “Que a  revolução cubana não começou  na luta contra o ditador Fulgencio Batista, nos anos 50, mas iniciou em 1868, ano em que se desencadeou na ilha a Guerra dos Dez Anos  contra o colonialismo espanhol,” responde Rampinelli.

O historiador lembra que o próprio Fidel Castro, preso e interrogado logo após o assalto ao quartel general de Moncada, em Santiago de Cuba, em 26 de julho de 1953, respondeu que o autor intelectual daquela façanha havia sido José Martí, revolucionário cubano morto em 1895, em luta pela independência de sua Cuba. “Foi Martí um dos responsáveis pelo pensamento mais apurado não apenas contra o colonialismo espanhol, mas também contra o imperialismo estadunidense”, afirma Rampinelli. “O pensador revolucionário advertia de que de nada adiantaria livrar-se do jugo espanhol para cair nas garras do império estadunidense.”

É Martí também o criador do Partido Revolucionário Cubano, que depois vai ter influência sobre o Partido Comunista Cubano, quando a revolução vence, em 1959. Mas, antes de Martí, muitos contribuíram para a construção do processo revolucionário, lutando contra o colonialismo espanhol e o escravismo que afligiam o povo cubano. Entre eles, Rampinelli destaca Carlos Manuel  de Céspedes, um dos patriotas que inicia o combate anticolonial, entregando seus próprios bens à causa da independência, pela qual morre fuzilado;  Antonio Maceo, que também morre no campo de batalha; Ignácio Agramonte, outro líder do processo revolucionário a cair em combate contra os espanhóis;   Máximo Gómez, nascido em São Domingos, na República Dominicana, que chefiou o exército de libertação de Cuba na luta contra os espanhóis. O internacionalismo cubano, portanto, tem raízes que afundam nas lutas independentistas dos povos.

E tinha razão José Martí quando advertia sobre a ameaça representada pelo imperialismo estadunidense. Tanto que, após a vitória do exército popular cubano, em 1898, é aos Estados Unidos que a Espanha se rende, pois o vizinho imperialista interviera no conflito, por isso chamado de Guerra hispano-cubana-americana. O pretexto utilizado fora o de um suposto ataque contra um de seus navios de guerra, o Maine, ancorado na ilha. Após a rendição dos espanhóis, os EUA mantêm a ocupação militar, permitindo a independência formal apenas em 1902, depois de persuadir o parlamento cubano a aprovar a Emenda Platt, que lhe outorgava o direito de intervir em Cuba, mantida na condição de “protetorado” estadunidense.

Não se tratava de uma política nova, já que a intenção dos Estados Unidos de dominar e até anexar Cuba fora defendida como uma política de estado por vários de seus presidentes. É, portanto, nesse contexto histórico de usurpação da soberania do povo cubano que são forjados instrumentos “legais” de dominação política, militar e econômica, impondo a Cuba a condição de nova colônia. No início do século 20, a já citada  Emenda Platt (de 1901)  outorga aos EUA o poder de intervir  em Cuba sempre que haja ameaça à ordem institucional no país, além do “direito” de instalar bases militares em território cubano, a exemplo de Guantánamo. Outra medida de perfil colonial é o Tratado de Reciprocidade Comercial, de 1903, que dá aos EUA o controle do monopólio do açúcar e das alfândegas, praticamente abrindo o mercado cubano aos produtos norte-americanos, sem qualquer concorrência.

Revolução de raiz

Nesse período de nova colonização, no entanto, a luta pela independência prossegue. Nos anos 20, ressalta Rampinelli, é importante o papel de Julio Antonio Mella, fundador do Partido Comunista e da Liga Antiimperialista, líder do movimento estudantil e revolucionário nas lutas das organizações operárias e estudantis contra o imperialismo estadunidense e o ditador Gerardo Machado.  Para organizar a resistência, Mella parte para o México, onde é assassinado, em 1929, pela polícia secreta da ditadura.

Mella, portanto, já  apontara o caminho, depois  seguido por Fidel Castro, nos anos 50, quando traça, no México, onde se refugiara, o caminho da revolução. Daí o acerto de se aplicar o conceito de revolução de longa duração quando se analisa o processo cubano. “As condições históricas de luta pelo nacional, contra o colonialismo e o imperialismo já estavam dadas, sem retirar o mérito estratégico de Fidel Castro,” comenta Rampinelli. “A revolução está na alma, na vida de todo um povo. Se fosse um evento sem raiz, não teria consequências.”

É por esse espírito revolucionário, entranhado na própria história, que os cubanos não cederam às pressões e ao bloqueio brutal imposto a Cuba pelo governo dos Estados Unidos. Em 1992, como explica Rampinelli no artigo “Cuba – 50 anos de revolução”, o Congresso dos Estados Unidos promulga a Lei Torricelli, a qual estabelece duas sanções principais. A primeira é a de proibir o comércio com Cuba de filiais de companhias estadunidenses estabelecidas em outros países. A segunda, impede barcos que entram em portos cubanos com propósitos comerciais de tocar portos estadunidenses, ou suas possessões, durante 180 dias a partir da data de partida da Ilha. Outra legislação de exceção, aprovada pelo congresso estadunidense, é a Lei Helms-Burton, que viola leis internacionais e direitos humanos, outorgando aos  EUA o direito de  impor  sua ordem jurídica a países terceiros. Tal mecanismo estabelece um bloqueio feroz, restringindo o direito ao livre comércio com Cuba.

Rampinelli também aborda, no artigo, aspectos da crise migratória, a parte mais visível dos conflitos entre Havana e Washington. Ele explica: a Lei de Ajuste Cubano, adotada pelo Congresso dos Estados Unidos, em 2 de novembro de 1966, quando era presidente Lyndon B. Johnson, modificou o estatuto dos imigrantes cubanos, qualificando-os de “refugiados políticos”, com direito automático de asilo político e, ao mesmo tempo, com a permissão de residência permanente nos Estados Unidos, estimulando deste modo a emigrarem ilegalmente. Dessa forma, o cubano imigrante ilegal que conseguir pôr os pés (pés secos) em território estadunidense é automaticamente acolhido pela Lei de Ajuste, enquanto o interceptado no mar (pés molhados) pode ser devolvido a Cuba.

Isso tudo acontece a despeito de um acordo assinado entre os dois países que permite a entrada de 20 mil cubanos por ano nos Estados Unidos, pelas vias legais. “Na realidade, o que Washington estimula e incentiva é o roubo de aeronaves e de barcos – os quais não são devolvidos – com fuga espetacular que possa ser manchete nos jornais do mundo,” comenta o historiador.

Os que querem derrotar a revolução cubana, não entendem, adverte Rampinelli, que um processo revolucionário de longa duração não é desmantelado facilmente. Quem pode derrotar esta revolução, afirma, “são apenas os próprios cubanos”. No artigo mencionado, o historiador escreve:

“Uma revolução não subsistiria sem o apoio maciço de sua população. A estratégia de resistência consiste na guerra de todo um povo contra o invasor. Para defender seu processo revolucionário, as pessoas devem sentir no seu cotidiano as mudanças havidas na educação, na saúde, no emprego, na moradia, no meio ambiente, no esporte e na projeção internacional de seu país. Estas conquistas não apenas tornam a vida melhor e mais feliz, como também despertam o patriotismo, ou seja, o orgulho de ser cubano em qualquer parte do mundo. Afinal Cuba é o único país do Terceiro Mundo que resolveu problemas fundamentais como o da fome. No setor educacional, não existe em Cuba um analfabeto funcional, tamanho é o investimento na escolaridade. Já na saúde, os índices se igualam aos dos países mais avançados do Mundo, como o Canadá e a Noruega.

Na economia, Cuba saiu da condição da monocultura do açúcar e hoje grande parte de sua produção é em biotecnologia. Basta ver os índices econômicos apresentados a cada ano pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Por isso, a Revolução Cubana pode se esgotar, e até ser destruída, por suas próprias forças internas. Porém, nunca por uma intervenção externa, já  que o povo aprendeu ao longo de cinco décadas a manejar uma cultura de resistência, a preservar suas conquistas sociais e a saber usar armas.”

Mais informações: 3721-9297, ramal 37 ou iela@iela.ufsc.br.

Por Raquel Moisés / Jornalista

A revolução do povo cubano: muito mais que 50 anos

Por Raquel Moysés  – jornalista

Quem se surpreendeu com o efeito revolução cubana no carnaval na ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, tem mais uma oportunidade de ampliar seu conhecimento sobre a história de Cuba.  No dia 24 de março, quinta-feira, às 18h30min, no Auditório do Centro de Educação (CED/UFSC), a professora Claudia Wasserman, da Universidade Federal   do Rio Grande do Sul, dá uma conferência sobre o tema “50 anos da revolução cubana”. A historiadora é autora do livro “A revolução cubana: 50 anos de imprensa e história no Brasil”, que vai estar à venda durante sua palestra na UFSC. Na obra, ela traça um panorama de como repercutiram no Brasil os acontecimentos revolucionários em Cuba e analisa  impressões sobre a revolução cubana que a mídia imprimiu no imaginário popular dos brasileiros ao longo dos anos.

A conferência com Claudia Wasserman é organizada pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA), em colaboração com o Programa de Pós-Graduação em História e o Núcleo de Estudos de História da América Latina (NEHAL). Às 14 horas do mesmo dia, na sala 10 do Centro de Filosofia e Ciências Humanas (CFH), a historiadora participa da banca de mestrado de Elvis Poletto sobre “Conceito de nação em Mariátegui”, orientada por Waldir Rampinelli, professor do Departamento de História e também presidente do Instituto de Estudos Latino-Americanos. Doutora  em História Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro com a tese “A questão nacional na América Latina no começo do século XX: Brasil, Argentina e México”, Claudia Wasserman também publicou “História Contemporânea da América Latina (1900-1930)”; “História da América Latina: do descobrimento a 1900”; “Palavra de Presidente”; e “Ditaduras Militares na América Latina”.

História de lutas

O professor Waldir Rampinelli, que vai mediar o debate com Claudia Wasserman, lembra um aspecto importante, mas pouco analisado quando se aborda a história de Cuba: o fato de a revolução cubana não se tratar de um evento, mas de um   processo histórico de longa duração. O que isso quer dizer? “Que a  revolução cubana não começou  na luta contra o ditador Fulgencio Batista, nos anos 50, mas iniciou em 1868, ano em que se desencadeou na ilha a Guerra dos Dez Anos  contra o colonialismo espanhol,” responde Rampinelli.

O historiador lembra que o próprio Fidel Castro, preso e interrogado logo após o assalto ao quartel general de Moncada, em Santiago de Cuba, em 26 de julho de 1953, respondeu que o autor intelectual daquela façanha havia sido José Martí, revolucionário cubano morto em 1895, em luta pela independência de sua Cuba. “Foi Martí um dos responsáveis pelo pensamento mais apurado não apenas contra o colonialismo espanhol, mas também contra o imperialismo estadunidense”, afirma Rampinelli. “O pensador revolucionário advertia de que de nada adiantaria livrar-se do jugo espanhol para cair nas garras do império estadunidense.”

É Martí também o criador do Partido Revolucionário Cubano, que depois vai ter influência sobre o Partido Comunista Cubano, quando a revolução vence, em 1959. Mas, antes de Martí, muitos contribuíram para a construção do processo revolucionário, lutando contra o colonialismo espanhol e o escravismo que afligiam o povo cubano. Entre eles, Rampinelli destaca Carlos Manuel  de Céspedes, um dos patriotas que inicia o combate anticolonial, entregando seus próprios bens à causa da independência, pela qual morre fuzilado;  Antonio Maceo, que também morre no campo de batalha; Ignácio Agramonte, outro líder do processo revolucionário a cair em combate contra os espanhóis;   Máximo Gómez, nascido em São Domingos, na República Dominicana, que chefiou o exército de libertação de Cuba na luta contra os espanhóis. O internacionalismo cubano, portanto, tem raízes que afundam nas lutas independentistas dos povos.

E tinha razão José Martí quando advertia sobre a ameaça representada pelo imperialismo estadunidense. Tanto que, após a vitória do exército popular cubano, em 1898, é aos Estados Unidos que a Espanha se rende, pois o vizinho imperialista interviera no conflito, por isso chamado de Guerra hispano-cubana-americana. O pretexto utilizado fora o de um suposto ataque contra um de seus navios de guerra, o Maine, ancorado na ilha. Após a rendição dos espanhóis, os EUA mantêm a ocupação militar, permitindo a independência formal apenas em 1902, depois de persuadir o parlamento cubano a aprovar a Emenda Platt, que lhe outorgava o direito de intervir em Cuba, mantida na condição de “protetorado” estadunidense.

Não se tratava de uma política nova, já que a intenção dos Estados Unidos de dominar e até anexar Cuba fora defendida como uma política de estado por vários de seus presidentes. É, portanto, nesse contexto histórico de usurpação da soberania do povo cubano que são forjados instrumentos “legais” de dominação política, militar e econômica, impondo a Cuba a condição de nova colônia. No início do século 20, a já citada  Emenda Platt (de 1901)  outorga aos EUA o poder de intervir  em Cuba sempre que haja ameaça à ordem institucional no país, além do “direito” de instalar bases militares em território cubano, a exemplo de Guantánamo. Outra medida de perfil colonial é o Tratado de Reciprocidade Comercial, de 1903, que dá aos EUA o controle do monopólio do açúcar e das alfândegas, praticamente abrindo o mercado cubano aos produtos norte-americanos, sem qualquer concorrência.

Revolução de raiz

Nesse período de nova colonização, no entanto, a luta pela independência prossegue. Nos anos 20, ressalta Rampinelli, é importante o papel de Julio Antonio Mella, fundador do Partido Comunista e da Liga Antiimperialista, líder do movimento estudantil e revolucionário nas lutas das organizações operárias e estudantis contra o imperialismo estadunidense e o ditador Gerardo Machado.  Para organizar a resistência, Mella parte para o México, onde é assassinado, em 1929, pela polícia secreta da ditadura.

Mella, portanto, já  apontara o caminho, depois  seguido por Fidel Castro, nos anos 50, quando traça, no México, onde se refugiara, o caminho da revolução. Daí o acerto de se aplicar o conceito de revolução de longa duração quando se analisa o processo cubano. “As condições históricas de luta pelo nacional, contra o colonialismo e o imperialismo já estavam dadas, sem retirar o mérito estratégico de Fidel Castro,” comenta Rampinelli. “A revolução está na alma, na vida de todo um povo. Se fosse um evento sem raiz, não teria consequências.”

É por esse espírito revolucionário, entranhado na própria história, que os cubanos não cederam às pressões e ao bloqueio brutal imposto a Cuba pelo governo dos Estados Unidos. Em 1992, como explica Rampinelli no artigo “Cuba – 50 anos de revolução”, o Congresso dos Estados Unidos promulga a Lei Torricelli, a qual estabelece duas sanções principais. A primeira é a de proibir o comércio com Cuba de filiais de companhias estadunidenses estabelecidas em outros países. A segunda, impede barcos que entram em portos cubanos com propósitos comerciais de tocar portos estadunidenses, ou suas possessões, durante 180 dias a partir da data de partida da Ilha. Outra legislação de exceção, aprovado pelo congresso estadunidense, é a Lei Helms-Burton, que viola leis internacionais e direitos humanos, outorgando aos  EUA o direito de  impor  sua ordem jurídica a países terceiros. Tal mecanismo estabelece um bloqueio feroz, restringindo o direito ao livre comércio com Cuba.

Rampinelli também aborda, no artigo, aspectos da crise migratória, a parte mais visível dos conflitos entre Havana e Washington. Ele explica: a Lei de Ajuste Cubano, adotada pelo Congresso dos Estados Unidos, em 2 de novembro de 1966, quando era presidente Lyndon B. Johnson, modificou o estatuto dos imigrantes cubanos, qualificando-os de “refugiados políticos”, com direito automático de asilo político e, ao mesmo tempo, com a permissão de residência permanente nos Estados Unidos, estimulando deste modo a emigrarem ilegalmente. Dessa forma, o cubano imigrante ilegal que conseguir pôr os pés (pés secos) em território estadunidense é automaticamente acolhido pela Lei de Ajuste, enquanto o interceptado no mar (pés molhados) pode ser devolvido a Cuba.

Isso tudo acontece a despeito de um acordo assinado entre os dois países que permite a entrada de 20 mil cubanos por ano nos Estados Unidos, pelas vias legais. “Na realidade, o que Washington estimula e incentiva é o roubo de aeronaves e de barcos – os quais não são devolvidos – com fuga espetacular que possa ser manchete nos jornais do mundo,” comenta o historiador.

Os que querem derrotar a revolução cubana, não entendem, adverte Rampinelli, que um processo revolucionário de longa duração não é desmantelado facilmente. Quem pode derrotar esta revolução, afirma, “são apenas os próprios cubanos”. No artigo mencionado, o historiador escreve:

“Uma revolução não subsistiria sem o apoio maciço de sua população. A estratégia de resistência consiste na guerra de todo um povo contra o invasor. Para defender seu processo revolucionário, as pessoas devem sentir no seu cotidiano as mudanças havidas na educação, na saúde, no emprego, na moradia, no meio ambiente, no esporte e na projeção internacional de seu país. Estas conquistas não apenas tornam a vida melhor e mais feliz, como também despertam o patriotismo, ou seja, o orgulho de ser cubano em qualquer parte do mundo. Afinal Cuba é o único país do Terceiro Mundo que resolveu problemas fundamentais como o da fome. No setor educacional, não existe em Cuba um analfabeto funcional, tamanho é o investimento na escolaridade. Já na saúde, os índices se igualam aos dos países mais avançados do Mundo, como o Canadá e a Noruega.

Na economia, Cuba saiu da condição da monocultura do açúcar e hoje grande parte de sua produção é em biotecnologia. Basta ver os índices econômicos apresentados a cada ano pela Comissão Econômica para a América Latina e o Caribe (Cepal).

Por isso, a Revolução Cubana pode se esgotar, e até ser destruída, por suas próprias forças internas. Porém, nunca por uma intervenção externa, já  que o povo aprendeu ao longo de cinco décadas a manejar uma cultura de resistência, a preservar suas conquistas sociais e a saber usar armas.”

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Inaugurada nova sede do IELA

02/12/2010 08:51

Rampinelli, Ricardo e Justo da Silva: pioneirismo

Foi inaugurada no final da tarde desta quarta-feira (01/12) a sede do Instituto de Estudos Latino-Americanos, IELA. A concorrida cerimônia foi realizada nas novas instalações do instituto, localizadas no primeiro andar do Bloco D do Centro Sócio-Econômico (CSE). Entre diversos convidados, estava o reitor em exercício, Carlos Alberto Justo da Silva, o diretor do CSE, Ricardo Oliveira e a diretora do CFH, Roselane Neckel.

No cerimonial conduzido pelo presidente do IELA, professor Waldir Rampinelli, os discursos foram focados no pioneirismo do instituto em concentrar seus estudos nos problemas e na trajetória política e econômica latino-americana, bem como, no êxito da equipe em difundir o nome da UFSC pelo continente.

Foto: Thaine Machado/bolsista de Jornalismo na Agecom

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IELA realizou o Seminário 200 anos de Independências na América Latina

30/11/2010 17:23

200 anos de Nuestra América

O legado do pensamento de José Martí, é precioso para indagar sobre os rumos que seguem as nações latino-americanas passados 200 anos das lutas independentistas celebradas, neste ano de 2010,  em vários países de Nossa América,   com um amplo programa de atividades. No Brasil, que reservou à data histórica citações irrelevantes, nem mesmo incluindo os festejos no  calendário de efemérides, as afirmações do poeta, escritor e jornalista  José Martí fazem pensar sobre o papel da universidade e seu dever de refletir sobre o passado e fazer a crítica do presente. Martí,  que  morreu lutando pela libertação de sua Cuba, última das colônias espanholas a se liberar do jugo espanhol,  afirmava, em seu vigoroso  “Nuestra América”, de 1891,  que a universidade europeia deve dar lugar à universidade americana: “ A história da América, dos incas para cá, deve ser ensinada minuciosamente, mesmo que não se ensine a dos arcontes da Grécia. A nossa Grécia é preferível à Grécia que não é nossa. Nos é mais necessária.”

Não é assim no Brasil, onde as escolas e as  universidades passaram praticamente  ao largo  das discussões sobre as lutas independentistas que  desembocaram  na criação dos estados de “Nossa América”,  como Martí se referia  à América Latina. Raros foram os debates e, mais uma vez, a história de América deixou de ser ensinada minuciosamente, como recomendava o pensador cubano. Na UFSC, o Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA/CSE/UFSC) contribuiu para quebrar o  silêncio  acadêmico e  realizou o Seminário 200 anos de Independências na América Latina. O evento contou  com o apoio do Centro de Filosofia e Ciências Humanas,  Centro Sócio-Econômico, Programa de Pós-graduação em História, Núcleo de Estudos de História da América Latina (NEHAL) e Editora Insular, que deve lançar, no início de 2011, o livro “História da Nação Latino-americana”, de Jorge Abelardo Ramos.

Comemorar o quê?

A primeira conferência durante o seminário foi de Horacio Crespo, da Universidad Autónoma del Estado de Morelos, México. O professor, também do  Centro de Estudios Latinoamericanos da Universidad Nacional de San Martín (CEL-UNSAM), Argentina,  falou sobre “A independência hispano-americana no ciclo das revoluções modernas”.  Outro conferencista,  Andrés Kozel, professor da pós-graduação e da graduação em Estudios Latinoamericanos da Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM,  que  também atua no CEL – UNSAM,  expôs o tema  “Considerações sobre a tese da independência como balcanização”.

O seminário concluiu com  uma mesa redonda com a participação de   Crespo,  Kozel e Waldir Rampinelli, presidente do IELA. As discussões retomaram aspectos das polêmicas que envolvem a passagem dessa data e dos significados das lutas independentistas que, há dois séculos, com surpreendente simultaneidade,  espraiaram-se do México, no vice-reino da Nova Espanha, a Buenos Aires, no vice-reino do Rio da Prata.

Durante os debates,  onferencistas e participantes   dialogaram sobre uma das perguntas mais presentes nas palestras e comentários:   Há o que comemorar nesses 200 anos de independência das colônias?  Várias intervenções foram no sentido de que há o que celebrar, principalmente o fortalecimento das lutas  dos povos originários que se levantamem batalhas  pela autonomia, o direito à terra, à educação, à saúde, às próprias línguas e cultura ancestrais.

Tais observações faziam referência aos povos da América Profunda, que fincam raízes em  civilizações milenares e  configuram nações reais de Nuestra América,  a despeito da dizimação, da discriminação   e da violência a que foram (e são)  submetidos. Já as críticas principais ficaram centradas na constatação de que as mudanças, nesses dois séculos, são ainda insuficientes,  confirmando a atualidade das advertências dos pensadores  José Martí e  José Carlos Mariátegui,  de que a colônia continuou a viver na república e de que os privilégios da república seguiram sendo os mesmos da colônia.

Expressivas lutas populares

Waldir Rampinelli lembrou  que,   enquanto em toda América hispânica muitos eventos marcaram  os 200 anos das independências das colônias, o  Brasil  observou a distância a passagem dessa data. Ao contrário, por exemplo, da vizinha Argentina, onde, até nas livrarias,  ganharam  lugar de destaque  os   livros que abordam a temática sob variados enfoques teóricos e em distintos campos disciplinares.

Ao indagar sobre a pertinência de festejar as lutas independentistas, o historiador   lembrou que  colônia continuou a viver na República, como advertira   Martí, mas também é evidente que,  na América de hoje, assomam  nacionalismos revolucionários e expressivas lutas populares. Portanto, enfatizou,  enquanto o foco oficial de alguns governos é o de festejar acriticamente, os povos da América Profunda sabem que é preciso preparar a resistência e seguir em luta.

O presidente do IELA também destacou a importância que teve, para as lutas independentista,  a  primeira “república de escravos” do mundo,   o Haiti. No entanto, a nação haitiana  completou  200 anos de independência em 2004,  sem ter a memória de suas  lutas motivado  quaisquer celebrações.   Pouco se menciona a importância que teve a nação haitiana para as lutas independentistas, pois  a experiência bem-sucedida de uma revolução de escravos  teve profunda influência na América Latina,  inclusive no Brasil. Naquele período histórico, o fenômeno do haitianismo amedrontava as elites, as quais  temiam que o  exemplo fosse seguido. Quando exilado, o próprio  libertador Simón Bolívar foi acolhido  no Haiti, tendo recebido, do então presidente  Alexandre Pétion,  conselhos,  proteção, ajuda financeira,  armas e até mesmo  uma prensa tipográfica.

Dever da crítica

Horacio Crespo destacou, em sua conferência, que  a universidade tem a obrigação de fazer reflexões críticas, fugindo de visões superficiais e de interpretações conservadoras sobre os acontecimentos. Na sua análise, o professor  da  Universidad Autónoma de Morelos segue a linha de pensamento de autores que circunscrevem  a independência hispano-americana no ciclo das revoluções modernas, distanciando-se de teses que  veem o processo independentista na América como uma grande herança das idéias liberais e como  expressão, portanto,  do  triunfo do liberalismo.

Crespo faz esse debate a partir de uma visão de inspiração marxista crítica, que atribui  como acontecimento central para as independências  a construção de novos estados  que emergiram no ciclo das revoluções modernas. A partir dessa perspectiva, as lutas independentistas são vistas dentro do processo de  rebelião contra o estado colonial e se circunscrevem no conjunto dos processos gigantescos de reação contra o despotismo centralizador e modernizador do absolutismo borbônico.

O professor esclarece que há cenários diferenciados que precisam ser discutidos quando se analisa as independências na América hispânica. Crespo lembra que se  tratou de  um processo muito desigual, de norte a sul, e que se expressou de modos distintos nas lutas anti-coloniais, na revolução triunfante  dos escravos haitianos, nas rebeliões indígenas.  Um elemento importante a ser considerado foi o modo como se manifestou o movimento dos camponeses  indígenas,   que surpreendeu as  classes crioulas,  envolvidas nas lutas independentistas, mas ainda muito comprometidas com os antigos regimes  coloniais.

Crespo destacou ainda o  papel fundamental das forças dos “terratenientes”, os proprietários de terras,  os  latifundiários. Na  linha de interpretação que segue o professor, o processo das independências na América não teria sido  hegemonizado pelas classes  crioulas, mas pelas classes conservadoras de proprietários de terras, que inclusive controlaram o poder nas novas repúblicas que emergiram das lutas. Para o professor,  a ordem conservadora que persiste nas  repúblicas latino-americanas se deve ao modo como se desenhou  a coalizão para o processo de independências, subordinado em grande medida ao poder dos  proprietários de terras. E, como analisa Crespo, essa condição  não foi passageira, pois a ordem que se consolidou e perdura  no cenário latino-americano  é ainda dominada  por esses   setores mais conservadores.

O professor também trouxe para o debate a  tese de que  teria  fracassado, na  América,  a construção de estados verdadeiramente modernos. Nas  diferentes interpretações  historiográficas,   há  os que dizem, como Crespo,  que a América Latina é fruto de uma modernidade incompleta, postergada.  Uma modernidade que, porém,  já revelou-se um malogro na  parte do mundo em que   teria se completado.

Diante desse cenário de fracasso, Horacio Crespo é dos que pensam que o caminho talvez esteja em buscar  outro acesso à modernidade, que não essa vigente, baseada em uma ordem não sustentável e, portanto,  já condenada. E para isso, diz o  historiador, é também útil debruçar-se sobre a história e olhar o passado.  Ele adverte sobre a necessidade de não se ficar aprisionados  à memória de um panteão de heróis, mas de se pensar criticamente e propor outros cenários em que a vida possa se desenrolar de outro modo que não este modelo que se revela esgotado.  A procura por essa outra modernidade, para ele, impõe novas tarefas e a capacidade de pensar práticas inovadoras que tragam formulações importantes para fazer assomar  um  tempo novo.

Na busca dessa outra realidade, para ele hoje “irrealizável”,  Crespo pensa que  é necessário evitar o  cenário catastrófico do “todos contra todos`”. A razão de seu pessimismo está no fato de não ver  no horizonte atores novos, com força para transpor as dificuldades e fazer as mudanças necessárias. Além do mais porque,  assinala o pensador, a história não é uma elocubração, é uma realidade.

Esperança de um final feliz

O professor Andrés Kozel iniciou  sua conferência destacando que as discussões sobre o tema das independências  não devem se limitar ao atual contexto de celebrações dos 200 anos.  Ao apresentar sua  contribuição para a análise da tese das independências como processo de balcanização, a partir da obra do historiador argentino Jorge Abelardo Ramos,  Kozel lembrou que  as interpretações historiográficas são plenas de pontos de controvérsia e zonas de penumbra,  e assinalou  que, na perspectiva da unidade latino- americana,  a noção de balcanização, discutida na obra de Ramos,  é definida como a  história de um fracasso.

Tal tese, como explica Kozel,  remete a várias  perguntas,  entre elas  a que indaga se de fato existiria uma nação latino-americana e  se, nela,  seria possível incluir o Brasil. Na interpretação de Ramos, a história do único país de língua portuguesa da América é apresentada como  exemplo de uma “não balcanização” ou de uma “balcanização evitada”.

Kozel, que é profesor em  Estudios Latinoamericanos da Universidad Nacional Autónoma de México – UNAM,   expõe algumas pistas que orientam suas pesquisas sobre a apropriação latino-americana da idéia de balcanização.  A noção, como explica,  apareceu nas primeiras décadas do século XX, como referência aos  processos acontecidos  na península balcânica no contexto da decadência e dissolução do império otomano, imagem que depois foi usada para se referir a outros processos histórico-sociais.

Ao falar  sobre essa ideia como sinônimo de fragmentação, ele também cita o intelectual argentino Manuel Ugarte, que, sem usar a palabra, clamava para a necessidade de os países da  “pátria grande” unirem-se para enfrentar o “perigo ianque”. A ideia ainda aparece, mesmo sem o uso da  palavra específica,  em uma extensa literatura histórica em que, de  modo geral,  a tese da balcanização  assume uma conotação predominantemente melancólico-nostálgica,  assinalando  os prejuízos da perda da sonhada  unidade.

Todavia, assinala Kozel,  a  ideia  de balcanização no contexto latino-americano   emerge de modo especialmete vigoroso na obra do intelectual argentino Jorge Abelardo Ramos (1921-1994), autor de “História da nação latino-americana”, um dos livros mais influentes da  geração do historiador.  De acordo com Kozel, o intelectual que, em  geral,   escreveu suas obras historiográficas sem se ater a um trabalho sistemático sobre fontes e documentos primários, apresenta uma proposta interpretativa inovadora da história, fundada na apropriação do legado marxista-leninista-trotskista e na sua veemente crítica à  obra historiográfica  de Bartolomé Mitre.     Segundo supõe o conferencista, Ramos chegou à formulação de sua versão sobre a tese da balcanização latino-americana exatamente a partir do enfoque anti-mitrista que utiliza para dar conta de explicar o processo rioplatense.

Kozel observa que no livro “História da Nação Latino-americana” Ramos faz uma advertência fulminante ao  afirmar  que ofereceria ao leitor, na verdade,  não  uma História da América Latina, mas apenas uma crônica das lutas que o povo fez para reunir-se em uma nação.   Trata-se, portanto, diz o conferencista, da história de um fracasso, pois a América Latina naquele momento da publicação do livro, ( e ainda hoje), não conseguiu unificar-se como nação. A história de Ramos, porém, não traz uma visão totalmente pessimista, já que o seu relato aponta, no final,  um caminho de esperança que recupera a promessa bolivariana  a partir do horizonte estratégico de uma praxis transformadora.

Kozel esclarece que,   para Ramos,  o drama latino-americano está no fato de  a revolução de independência não ter se traduzido em unidade nacional do continente.  “A distinção que o historiador  faz entre estado e nação está baseada na constatação de que a América Latina se apresenta como duas dezenas de estados balcanizados,  edificados sobre uma ideia truncada de nação, já que esta permaneceu apenas em estado potencial.”

O historiador argentino afirma que  o fracasso do projeto unificador pode ser explicado pela desproporção entre a superestrutura ideológico-jurídica pensada por Simón Bolívar e a infraestrutura econômico-social escravista e semi-servil, controlada por latifundiários, donos de escravos e exportadores de matérias-primas, isolados entre si e vinculados em separado com o mercado mundial.  Localistas e ligados aos interesses das potências, especialmente a Inglaterra, esses setores buscavam estabelecer tarifas e regimes políticos para manter seus privilégios, contribuindo assim decisivamente para o processo de fragmentação da unidade.

Ramos analisa, em sua obra, os motivos que para ele explicam a   existência dessas  nações inacabadas, que não são feudais porque produzem para o mercado mundial, mas também não são capitalistas, porque sua economia se baseia em um regime servil e escravagista. Além disso, na interpretação do historiador,   as classes dominantes à época da independência não são feudais, pois fazem parte de um capitalismo mercantil funcional à acumulação dos centros verdadeiramente capitalistas, mas também não são capitalistas, pois conservam a psicologia feudal. A posição de Ramos, portanto,   é bastante clara  quando ele afirma  que o capitalismo nacional ainda não triunfou plenamente nessa parte do mundo. É por isso, explica Kozel, que o intelectual e político argentino  apoiou, a seu tempo,  movimentos nacional-populares de orientação industrializadora.

Kozel também observa que o movimento de independência, para  Ramos, assumira um caráter de luta de classes logo no início, já que as classes crioulas se sentiam sufucadas pelo regime espanhol, enquanto as “castas infames” incubavam dois tipos de ódio: contra os crioulos ricos e também contra os espanhóis que os tiranizavam.  Nesse viés interpretativo, Ramos assinala que a  invasão napoleônica apenas opera como catalizador,  já que,  no início,  os crioulos seguiram com grande interesse a luta na Espanha, pois disso também dependeria a unidade ou a separação das colônias. Aos poucos, contudo, os americanos se convenceriam de que mesmo com o triunfo do liberalismo espanhol não se daria  à América igualdade plena,  a partir da idéia de uma nação comum hispano-americana.

Um dos pontos principais da abordagem de Ramos, lembra Kozel,  é de que a revolução nacional não poderia acontecer sem atacar  profundamente a desigual estrutura social latino-americana.  Na sua interpretação, as reivindicações só poderiam se viabilizar  se fossem carregadas de conteúdo social, e daí sua explicação para as primeiras derrotas de Bolívar na fase inicial das lutas, já que ele  se manteve, no principio,  indiferente às “castas infames”. O êxito só foi possível  depois  que Bolívar, ouvindo os conselhos do presidente do Haiti, Petión, agregou às forças  independentistas uma sólida base social, formada por  numerosos escravos e os  “llaneros” (camponeses indígenas).

Kozel apresentou ainda aspectos relacionados à  forma como Ramos interpreta  o casos específico do Brasil, que seria, para ele,  um exemplo de “balcanização evitada”, em grande parte por causa da submissão e servilismo da corte imperial portuguesa, que vivia à sombra do império britânico. Assim, segundo Ramos, o próprio Brasil se torna uma ponta de lança britânica contra o resto da nação latino-americana, a qual também era empurrada pelo mesmo amo imperial contra o Brasil. É a partir dessa ótica que o historiador  explica porque os latino-americanos foram excluídos da intensa vida história brasileira, desconhecendo seus heróis, conflitos, seus pensadores e suas revoluções, que permaneceram enclausurados atrás de suas imensas fronteiras.

Ao concluir sua conferência,  Kozel assinala que há, todavia,  na obra de Ramos, uma face iluminada pela esperança e  um forte impulso que gravita na direção de um final feliz. Embora apresente o processo independentista  como o espetáculo tragicômico de uma nação despedaçada, que se balcaniza e se organiza em estados nacionais, o historiador argentino  preconiza a possibilidade de reconstrução e reunificação da história a partir de um ângulo novo de um passado comum.

E é na própria  tese da balcanização que se aninha tal  esperança. Porque, como avalia Kozel, dizer que o que devia se produzir – a unidade latino-americana – não aconteceu porque necessitava de bases efetivas, não é muito diferente de dizer que não aconteceu porque não havia condições para que acontecesse naquele momento.  Assim, porque que então julgar como  fracasso o que, por limites estruturais,  não poderia mesmo acontecer?

Ramos aparece, na sua obra, portanto,  como um nostálgico do sonho de  Bolívar e dos projetos confederativos que não se realizaram porque eram ideias acertadas, mas quiméricos, uma vez que eram  inviáveis para as condições dadas naquele momento histórico. O horizonte apontado por Ramos também traz uma contradição  para os leitores dos dias de hoje, uma vez que a sua utopia latino-americanista acaba indo na direção do desenvolvimento modernizador, conduzido por um poder forte e centralizado, capaz de dar conta das tarefas que a frágil ou inexistente burguesia seria incapaz de realizar.   Assim,  a perspectiva da análise de Ramos, como lembra Kozel, certamente provoca grandes e importantes discussões para quem quer seguir na construção do latino-americanismo como autêntica tradição viva e não como mera retórica.

Por Raquel Moysés/ jornalista no IELA

Tags: IELASeminário 200 anos independência AL

Palestra sobre fragmentação da América Latina abre segundo dia de seminário promovido pelo IELA

18/11/2010 17:42

Foto: Paulo Noronha/Agecom

“Há sempre necessidade de saber mais sobre as independências na América Latina”: foi assim que o professor Andres Kozel, da Universidad Nacional Autonoma de México (UNAM) começou a palestra “Considerações sobre a tese da independência como balcanização”, às 9h, do segundo dia do “Seminário 200 anos de Independências da América Latina”. O evento é promovido pelo Instituto de Estudos Latino-Americanos (IELA) da UFSC e acontece no auditório do CFH.

Com base nas obras de Jorge Abelardo Ramos, intelectual e político argentino que escreveu sobre a história da América Latina, Kozel questionou a existência de uma nação latino-americana e apontou as independências dos países como responsáveis pela fragmentação da região. Um dos motivos, segundo o professor, seria o fato de que as independências não foram sinônimo de liberação social. Quanto ao Brasil, o professor disse que Jorge Abelardo Ramos apresenta um antibrasileirismo por acreditar que o país está separado da América espanhola e teve um papel pró-britânico e antiamericano na guerra do Paraguai. Por isso, Kozel afirma existir uma polêmica a respeito da inclusão do país na América Latina.

Sobre o IELA

Se dependesse do IELA, tal polêmica não existiria: seus integrantes afirmam que os brasileiros também são latino-americanos, ainda que com certa inconsistência. O Instituto realiza pesquisas dedicadas ao conhecimento da realidade da América Latina, consolidando um núcleo de reflexão. O Seminário 200 anos de Independência na América Latina foi promovido para atender a necessidade de recuperação histórica.

Mais informações: http://www.iela.ufsc.br.

Marília Marasciulo / Bolsista de Jornalismo na Agecom

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