Professora da UFSC defende que o conhecimento sobre mudanças climáticas deve considerar as pessoas

11/03/2022 13:11

Existe uma lacuna entre a produção de conhecimento científico sobre as mudanças climáticas e o uso efetivo dessas informações pelos poderes públicos e pela sociedade de forma geral. Parte disso ocorre devido a abordagens de “cima para baixo”, que desconsideram os contextos locais. A professora Regina R. Rodrigues, do curso de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e seu colega Ted Shepherd, da Universidade de Reading, argumentam que, para tornar as informações científicas sobre as mudanças climáticas úteis e aplicáveis para adaptação, é necessário explorar a beleza das pequenas coisas.

Na edição de inauguração da nova revista científica da Academia Americana de Ciências PNAS Nexus, os pesquisadores publicaram o texto “Small is beautiful: climate-change science as if people mattered”, fazendo referência ao livro Small is Beautiful (1973), de E.F. Schumacher. Na obra, o autor questiona como seriam os sistemas econômicos se estes fossem pensados “como se as pessoas importassem”.

“Fizemos a mesma pergunta à ciência das mudanças climáticas para adaptação e encontramos muitos paralelos”, escreveram no resumo. “Para gerar uma informação que seja útil para a sociedade se adaptar às mudanças climáticas é preciso primeiro levar em consideração a complexidade das situações locais de risco climático. Um segundo aspecto é a importância de recorrermos à simplicidade ao lidarmos com incertezas, ou seja, usarmos ferramentas de previsão climática e de riscos que sejam simples. Um terceiro é a necessidade de envolver as comunidades locais na produção dessa informação climática desde o começo, as capacitando e as tornando autossuficientes, gerando assim confiança e transparência nesse processo de produção do conhecimento.”

Para a professora, “a maior parte da ciência das mudanças climáticas está centrada na ‘grande Ciência’, que requer ferramentas complexas e de alta tecnologia que não estão à disposição de países em desenvolvimento e comunidades locais menos favorecidas. Para gerar informações climática para adaptação, também é necessário nos atermos à beleza das pequenas coisas”.

Regina argumenta que ferramentas menos sofisticadas e dados com menor precisão podem ser usados para informar comunidades locais sobre os riscos decorrentes das mudanças climáticas: “Por exemplo, não podemos esperar que os complexos modelos climáticos globais simulem bem as mudanças futuras no clima do sul do Brasil para fazermos o nosso plano de adaptação frente aos aumentos extremos. Os sistemas de produção de energia e alimentos, bem como de abastecimento de água, precisam saber o que vai ocorrer daqui a 5, 10 ou 20 anos em termos de extremos de precipitação (secas e chuvas torrenciais) para elaborarem um plano de adaptação e colocá-lo em prática e com isso diminuir a vulnerabilidade da população aumentando sua resiliência frente a essas mudanças. Portanto, temos que usar ferramentas simples e o que tivermos ao nosso dispor para informar essas comunidades.”

Meu Risco Climático

Essas iniciativas já estão sendo desenvolvidas pelo novo projeto do Programa Mundial de Pesquisas Climáticas da Organização Mundial de Meteorologia da ONU chamado Meu Risco Climático, coordenado pela professora. Neste projeto, espera-se que várias comunidades locais ao redor do mundo se associem e troquem experiências e conhecimentos de como criar informação climática de maneira simples, com poucos recursos e respeitando as complexidades locais, mas de forma efetiva para adaptação. Mais informações sobre o projeto estão disponíveis aqui.

A professora e pesquisadora Regina R. Rodrigues tem como principal área de atuação o papel da circulação oceânica de larga escala no clima. É coordenadora da Subrede Desastres Naturais da Rede CLIMA e editora associada da revista do grupo Nature Communications Earth & Environmental. Rodrigues já foi editora revisora do IPCC-Special Report on Climate Change and Land (SRCCL).

Acesse o texto completo, em inglês, aqui.

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

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