Simpósio discute o gótico na literatura, nas artes e na mídia

23/11/2018 18:23

Você conhece os escritores Anne Rice e Edgar Allan Poe? E as histórias de Drácula e Frankenstein? Ou quem sabe os filmes “A Rainha dos Condenados”, “Nosferatu” e a “A Lenda do Cavaleiro sem Cabeça”? Se reconhece qualquer um desses nomes, já teve contato com o gênero gótico, tema do evento promovido pelo Programa de Pós-Graduação em Inglês (PPGI/UFSC) na última quarta-feira, 21 de novembro, no auditório do Centro de Comunicação e Expressão (CCE). Intitulado  “V Simpósio Gótico de Pós-Graduação: Literatura, Artes, Mídia“, o encontro reuniu pesquisadores para discutir diferentes teorias e métodos de pesquisa, com exemplos de filmes, romances e games para construir o significado de gótico. A atividade ocorreu das 9h às 19h30, com várias apresentações.

Francisca Ysabelle Silveira fala sobre a adaptação de Drácula. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

No início da tarde, o trabalho “Comte Drácula, das entrelinhas para o cinema” foi apresentado por Francisca Ysabelle Silveira, que abordou a adaptação da história do famoso vampiro pelo quadrinista italiano Guido Crepax, publicada em 1989. Escrito pelo irlandês Bram Stoker e lançado em 1897, Drácula é um clássico da literatura gótica, com várias interpretações e adaptações para cinema, quadrinhos, peças de teatro, entre outros formatos. Inclusive, o super-herói Batman, da DC Comics, foi inspirado no personagem da Transilvânia. Nas mãos de Crepax, a história explora um viés mais erótico, reforçando a imagem sexual da figura do vampiro, muito por conta de atacar suas vítimas com uma mordida no pescoço. No entanto, essa abordagem não está presente nos diálogos, apenas nas imagens contidas ao longo das páginas, com cenas de nudez . Francisca também relaciona a arte visual do quadrinista com o filme Nosferatu, de 1922, adaptação não autorizada da história de Drácula, que teve quase todas as cópias destruídas na época do lançamento. Os traços do personagem de Crepax são muito semelhantes aos de Nosferatu, revelando a evidente inspiração visual no longa-metragem.

Seguindo a linha da literatura clássica de vampiros, Natália Pires da Silva abordou o tema “Carmilla, the femme fatale?”, no qual discutiu a construção da personagem Carmilla no livro homônimo escrito pelo irlandês Joseph Sheridan Le Fanu e lançado em 1871. A pesquisadora questionou se a personagem realmente assumiria apenas um papel de femme fatale na trama, devido a sua descrição física e a natureza de seus atos. Como resultado, sua pesquisa concluiu que mesmo Carmilla apresentando as características do esteriótipo, seria injusto classificá-la apenas dessa forma, pois a personagem possui sinais de uma personalidade mais complexa, por conta de sua dualidade.

Natália Pires da Silva apresenta a personagem clássica Carmilla. Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Outra apresentação discutiu as adaptações do vampiro para os cinemas ao longo dos anos. Vitor Henrique de Souza, em “A ressignificação do vampiro em A Garota que Anda à Noite”, guiou sua fala pelo longa-metragem A Garota que Anda à Noite, de 2014. No filme, cuja história se passa no Irã, a protagonista é uma vampira cujos trajes remetem à tradição do islamismo. A obra foi escolhida para mostrar como a aparência do vampiro muda na arte por conta da influência do contexto histórico, tendo como única característica imutável a sede por sangue.

Por fim, o tema “It Came From the Woods: conflito, transformação e insanidade nos quadrinhos de Emily Carroll” apresentou características do gótico canadense. Ana Carolina Maciel debateu a figura do horror na obra da autora Emily Carroll, assunto que foi tema de seu mestrado. Através da análise de três histórias de Carroll, Ana Carolina mostrou como a floresta assume um papel de entidade monstruosa na cultura do país. Segundo a pesquisadora, essa característica foi construída por conta dos colonizadores do Canadá, que viam a imensidão das florestas como algo que fugia à compreensão humana, sendo um lugar perigoso para se aventurar, podendo inclusive causar loucura a quem adentrasse em sua escuridão.

No início da noite, Luciana Moura Colucci de Camargo, da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), concluiu o evento com “Horace Walpole, para além de O Castelo de Otranto”. As demais pesquisas apresentadas integram o Núcleo de Estudos Góticos do Departamento de Língua e Literatura Estrangeiras (DLLE).

Alan Christian/Estagiário de Jornalismo na Agecom/UFSC

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