‘Reflexões sobre uma Pandemia’: núcleo de pesquisa da UFSC publica livro com ensaios sobre ética e filosofia política
O Núcleo de Ética e Filosofia Política (Néfipo) do Departamento de Filosofia da UFSC publicou, na última quinta-feira, 18 de junho, o livro “Reflexões sobre uma pandemia”, uma coletânea de quinze ensaios de filósofos e filósofas convidados, com reflexões sobre a pandemia de Covid-19, a partir de questões da ética e da filosofia política. O livro está disponível gratuitamente por meio do link.
A obra foi organizada pela professora Maria de Lourdes Borges (Departamento de Filosofia/UFSC), Evânia Reich (pós-doutoranda/UFSC) e Raquel Cipriani Xavier (doutoranda em Filosofia/UFSC). A publicação é da Néfiponline, editora vinculada ao Néfipo, que há 9 anos publica textos acadêmicos em formato digital.
Origem
Segundo a organizadora, Maria de Lourdes Borges, a ideia de organizar o livro de ensaios filosóficos surgiu da inquietação em relação ao momento pelo qual estamos passando. “Nós fomos impactados, não só pela gravidade da pandemia, mas pela forma que o Brasil vem tratando esse tema. Até hoje, o governo brasileiro continua a negar a gravidade do problema, ainda que o número de mortos aumente diariamente, e tornamo-nos pouco a pouco um dos países mais infectados. Como filósofas, pensamos que nossa tarefa é traduzir nosso tempo em conceitos”, ressalta.
Borges acrescenta que os ensaios visam apresentar uma reflexão filosófica, trazendo para dentro do problema conceitos e questões filosóficas tratadas no âmago da própria história da filosofia. “Alguns artigos analisaram a reação dos governos nacionais em geral, mostrando que a crise do Covid-19 recolocou no centro da cena política um ator que desde a crise econômica de 2008/2009 tinha sido esquecido como protagonista, a saber, a figura do Estado. Foi mostrada que um estado que permite as desigualdades sociais faz com a pandemia tenha um resultado mais dramático. Ainda dentro do campo das instituições estatais, foi analisado o papel das instituições internacionais em questões que abrangem o mundo globalizado, a necessidade de adoção de medidas que ultrapassam o âmbito nacional e quais seriam os direitos humanos que autorizariam uma intervenção de instituições internacionais nas decisões dos Estados”, pontua a pesquisadora.
Temas como o Iluminismo permeiam a obra, que também versa sobre a existência de grupos fundamentalmente anti-intelectualistas e anti-iluministas no Brasil e a necessária crítica moral, técnica e científica. “Outros [autores] mostram que a própria pandemia coloca nossos ideiais iluministas à prova. No aspecto do iluminismo científico, carecemos de meios para deter cientificamente, através de remédios e vacinas, o avanço do vírus, restando-nos apenas o isolamento das pessoas. Frente aos desígnios da natureza, ficamos como menores de idade, sendo por ela dominados. Quanto ao aspecto jurídico científico, os Estados se viram incapazes de garantir o bem-estar das pessoas e a liberdade individual. Aliás, o próprio modelo do Estado democrático de Direito é posto em xeque, visto que Estados que não se enquadram nesse modelo foram mais eficazes para combater a doença. Por fim, a doença exporia as falhas do iluminismo econômico-social, ao expor as péssimas condições de vida da população”, salienta Borges.
Foram abordadas também questões éticas, com ênfase no conceito de mal e de alegria maligna. Além do tema ético do critério que deve ser utilizado para preenchimento preferencial de leitos em hospitais, numa disputa entre a visão deontológica e consequencialista. Por fim, resssalta Borges, o livro traz a reflexão sobre o papel da filosofia e da necessidade de levar em conta um novo cenário que se apresenta diante de seus olhos, com possibilidades de provocação de novos insights.
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