UFSC coordena desenvolvimento de vacina contra novo coronavírus

07/07/2020 18:54

O desenvolvimento de uma vacina contra o vírus SARS-CoV-2 será coordenado pelos pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)  André Báfica e  Daniel Mansur, ambos do Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia. O financiamento foi aprovado na chamada do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) ‘Pesquisas para enfrentamento da Covid-19, suas consequências e outras síndromes respiratórias agudas graves’, cujo resultado final foi divulgado na tarde desta terça-feira, 7 de julho. O projeto é uma parceria dos professores da UFSC com pesquisadores da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Universidade de Cambridge (Inglaterra), o Instituto Butantan e Karolinska Institutet (Suécia).

A proposta é uma BCG recombinante: aproveitar a plataforma vacinal da BCG (uma vacina antiga e segura) para o novo coronavírus através da expressão de proteínas que induzam uma resposta imune efetiva contra o SARS-CoV-2 por mais tempo. “Um dos achados recentes na literatura (médica) é que as respostas imunes contra este vírus também envolvem linfócitos T, por exemplo, CD4 e CD8. Com a BCG recombinante, hipotetizamos que haverá indução deste tipo de resposta. Se isso for verdade, pensando lá no futuro, teríamos na mesma injeção uma vacina dupla, contra a tuberculose e contra a Covid-19, que as crianças tomam quando ainda estão no hospital. Claramente isto está muito longe. Estamos na parte inicial, desenhando os alvos do ponto de vista molecular”, explica Báfica. “Em conversa com colaboradores da Austrália, acabei de saber que a mistura da BCG com proteínas purificadas do SARS-Cov-2 aumenta a resposta imune contra o vírus. Estes dados preliminares indicam que estamos no caminho certo.”

A esperança é que os primeiros experimentos sejam realizados em janeiro. “Inicialmente, vamos trabalhar nos vetores vacinais. Essa primeira parte, construir a bactéria recombinante, demora cerca de seis meses para que fique pronto. Depois, é preciso testar se este protótipo de vacina induz uma resposta imune contra o coronavírus. Temos algumas formas de medir, como por exemplo se a vacina induz anticorpos neutralizantes contra os vírus que estão circulando em nossa região”, planeja o pesquisador.

Em paralelo a estas investigações, os pesquisadores irão se debruçar sobre a ciência básica na dinâmica da resposta imunológica: quais os anticorpos foram gerados e onde eles se encaixam. “Para o vírus entrar na célula humana, ele precisa de um receptor, um espécie de encaixe molecular. O que queremos com uma vacina? Que os anticorpos impeçam este encaixe, para que não infecte a célula. Os anticorpos neutralizantes têm uma alta afinidade contra estas proteínas do vírus”, exemplifica Báfica. “O pró da BCG é ser uma vacina administrada em 500 milhões de pessoas por ano, no mundo inteiro. Se a primeira meta do projeto funcionar de acordo com o plano, a vacina vai expressar proteínas do vírus, num  vetor seguro, e, segundo nossa hipótese, induzirá uma resposta de células T mais eficientes do que alguns dos vetores que estão circulando por aí. Mas para saber de fato, precisamos testar, ciência é isso”, indica o professor.
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