Seminário sobre Antropologia reafirma princípios éticos e científicos na Universidade

11/04/2016 17:12

Antropologia Poder e Direitos Tradicionais - Foto Henrique Almeida-5A abertura da segunda parte do Seminário Antropologia, Poder, e Direitos Tradicionais: A CPI que investiga a Funai e Incra começou com a leitura, pela Reitora Roselane Neckel, da nota aprovada pelo Conselho Universitário em dezembro do ano passado, em apoio ao trabalho dos profissionais da Antropologia e à atividade científica. “O elenco de impropérios e acusações infundadas no requerimento da CPI, contra o conhecimento antropológico e a atuação profissional dos antropólogos, revela não apenas total desconhecimento do corpo teórico-metodológico científico e do código de ética de uma disciplina que registra mais de dois séculos de existência. Ele revela também clara intenção de ignorar, depreciar e distorcer a verdade científica produzida de acordo com os códigos e métodos legítimos nas Ciências Sociais, para desvalidar direitos constitucionalmente constituídos”, diz o texto.

A segunda parte do Seminário, realizada na quinta e sexta-feira passadas, dias 7 e 8 de abril, abordou os argumentos presentes na justificativa para instalação da CPI, em relação aos processos de regularização fundiária que realizam para indígenas e comunidades remanescentes de quilombo. O presidente da Associação Brasileira de Antropologia, Antônio Carlos Souza Lima, contextualizou politicamente a CPI a partir do histórico brasileiro, a Assembleia Constituinte de 1987/88 e a sedimentação de poder após o regime militar.

A professora Ilka Boaventura Leite, da Pós-Graduação em Antropologia Social, alertou para a formação de estado de exceção e observou que a Antropologia não se sustenta em bloco único. Para garantir os direitos constitucionais de indígenas e quilombolas e a atividade antropológica, é preciso “descer do palco e trabalhar duro somo sempre fazemos para refinar nossas ferramentas críticas, não tomar posição heróica”, disse. E perguntou: “Quem está perdendo agora para que os relatórios antropológicos sejam alvos de ataques?”.

A professora Maria Dorothea Post Darella, do Museu de Arqueologia e Etnologia, falou sobre o histórico e os critérios de demarcação de terra Guarani em Santa Catarina e a aplicação de conceitos científicos. Oscar Calávia Saez, também da Pós-Graduação em Antropologia Social, afirmou que ese tipo de ataque com CPIs é constante. “Sempre com as mesmas preocupações, divulgam os mesmos tipos de boatos, certamente movidos pelos mesmos interesses”. Para ele, os dirigentes brasileiros “ignoram a população como premissa e só se referem a ela como problema”.

Antropologia Poder e Direitos Tradicionais - Foto Henrique Almeida-15A doutoranda Joziléia Daniza Jagso Inácio Schild e a mestranda Ana Patté, ambas da Pós em Antropologia, subiram à mesa ao final. Joziléia é kaingang e Ana é Laklãnõ/Xokleng. Joziléia lembrou a importância de conhecer os diferentes povos indígenas, suas características, hábitos e organização social. E observou ainda que todas as conquistas e melhoras passam pela terra. “Para ter saúde e educação, tem que ter território. No Rio Grande do Sul é tão grave que somos tratados como invasores em nossa própria terra. É assim que isso é mostrado”, disse.

A primeira parte da programação, realizada entre 14 e 17 de março, discutiu o conhecimento antropológico produzido na UFSC. A TV UFSC fez matéria sobre a mesa da manhã de 8 de abril. É a primeira da edição do UFSC Cidade Revista.

 

 

 

 

 

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