Cerimônia de comemoração dos 61 anos da UFSC é marcada por homenagens a educadores e cientistas

17/12/2021 17:01

Cerimônia ocorreu de forma remota. Imagem: reprodução/Youtube

A Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) completa neste sábado, 18 de dezembro, 61 anos de atividades. Para celebrar, o Conselho Universitário (CUn) realizou uma sessão solene na tarde desta sexta-feira (17), voltada a homenagear pessoas que contribuíram para a educação e a ciência brasileiras e para a excelência da Universidade. A cerimônia ocorreu de forma remota e está disponível no Youtube.

O evento teve início com uma homenagem aos 33 pesquisadores da UFSC que estão na lista dos 100 mil mais influentes do mundo, conforme pesquisa conduzida pela Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, que levou em conta dados de toda a carreira e citações mais recentes. Em nome deles, foram celebrados cada pesquisador, servidor técnico-administrativo, docente, estudante e egresso que fazem da ciência e do conhecimento sua bandeira, defendendo e valorizando a UFSC.

Na sequência foram anunciadas e entregues as dignidades universitárias, com a diplomação da jornalista, professora e política Antonieta de Barros como Doutora Honoris Causa (in memoriam) e de cinco professores eméritos: Ademir Neves, Faruk José Nome Aguilera (in memoriam), Juan Jacob Eduardo Humeres Allende, Rosendo Augusto Yunes, os quatro do Departamento de Química, e Ivo Barbi, do Departamento de Engenharia Elétrica. O reitor fez a entrega simbólica dos títulos, com a exposição dos diplomas na tela da transmissão.

Os homenageados ou seus representantes presentes na cerimônia também tiveram espaço para se manifestar. Flavio Luis Soares de Barros, sobrinho-neto de Antonieta de Barros, enfatizou a relevância da homenagem e seu orgulho por fazer parte do legado da educadora. “É motivo de muito orgulho pra mim participar deste evento hoje. E eu tenho a certeza que todos os familiares de Antonieta de Barros estão muito felizes neste dia.” Destacou também como ela dialogou com, e até antecipou, pensamentos de grandes expoentes da educação brasileira e mundial, citando nomes que fizeram parte da mesma linhagem intelectual, como Anísio Teixeira, Paulo Freire, Cecília Meireles e bell hooks. 

Antonieta, segundo ele, viveu a vida como transgressão, no sentido etimológico do termo, de ir além, atravessar. “Eu entendo que essa honraria concedida a Antonieta é mais uma transgressão extremamente necessária no contexto de hoje do Brasil. Mas acho que não é o momento de pensar em coisas tristes. Nós precisamos continuar a transgredir, a exercer a liberdade.”

Os professores eméritos Juan Jacob Eduardo Humeres Allende e Rosendo Augusto Yunes, por sua vez, aproveitaram a oportunidade para rememorar alguns dos principais momentos de suas trajetórias e agradecer aos que fizeram parte delas. “Faz 46 anos que cheguei a essa universidade, em 15 de agosto de 1975, a um Departamento de Química com 29 professores, dos quais um professor estava terminando o doutorado no exterior, e outro professor estava terminando o mestrado. Havia um incipiente programa de pós-graduação em Físico-Química, criado em 1971. Foram árduos anos de trabalho”, declarou Juan, lembrando que, em 1990, o departamento já tinha 43 professores permanentes – 90% deles com doutorado. “Me sinto orgulhoso de ter participado dessa história. Agradeço profundamente pela distinção que esta universidade me oferece neste momento e a meus colegas do Departamento de Química por sua participação nesse processo.”

Rosendo, natural da Argentina, também recordou o momento em que chegou à UFSC e ao Brasil, após ser demitido da instituição em que trabalhava pela ditadura militar argentina. “Então vim ao Brasil para recuperar meus trabalhos científicos, porque aqui era uma oportunidade grande de fazer ciência e tecnologia”, comentou, destacando também alguns dos muitos prêmios e reconhecimentos que recebeu ao longo da carreira. “O que desejo demarcar fundamentalmente é meu agradecimento às autoridades desta universidade e às autoridades do Brasil, que me receberam com uma segunda pátria.”

Homenagem à ciência

“Para nós, é motivo de satisfação muito grande presidir uma sessão em que homenageamos a ciência. Ciência que se faz através de pesquisa sólida na nossa Universidade”, afirmou o reitor Ubaldo Cesar Balthazar, enfatizando a importância do trabalho dos 33 pesquisadores que estão entre os mais importantes do mundo e dos agraciados com os títulos de Doutora Honoris Causa e Professor Emérito.

“Nós escolhemos Antonieta de Barros por seus evidentes méritos acadêmicos. Professora e visionária que trabalhava em prol da sociedade em que vivia, transformando pessoas, educando-as. Nada mais digno, nada mais justo que a concessão desse título. Os professores que foram citados, que tiveram seus nomes submetidos ao Conselho Universitário, e todos foram aprovados, têm em comum essa mesma característica. São professores reconhecidos por seus méritos, por sua competência, por sua pesquisa que traz resultados, pesquisa de ponta, pesquisa de base. A nossa Universidade está de parabéns nesse 61º aniversário”, ressaltou Ubaldo.

Conheça os agraciados com as dignidades universitárias:

Doutora Honoris Causa 

Antonieta de Barros (1901-1952) foi homenageada por sua importância para a educação estadual e nacional. Natural de Florianópolis, foi responsável por criar, nas primeiras décadas do século XX, um curso de alfabetização destinado a comunidades pobres e marginalizadas. Ela era também jornalista e foi no exercício desse ofício que se tornou conhecida como “Maria da Ilha”, pseudônimo com o qual assinava suas crônicas nos periódicos locais. Dirigiu os jornais “A Semana” e “Vida Ilhoa”, nos quais defendia a participação política das mulheres e criticava o racismo.  Destacou-se, ainda, por ter sido a primeira mulher negra eleita deputada estadual em Santa Catarina e a primeira mulher a presidir a Assembleia Legislativa do estado. Além de defender amplamente a democratização da educação e a escola pública, atuou na organização política de professores(as) e dirigiu o Instituto Estadual de Educação. Considerada uma das mulheres mais importantes da história de Santa Catarina e do país, contribuiu para revelar desigualdades e opressões sofridas pelos pobres, a resistência e luta cotidiana, a criatividade e a ousadia do povo negro. Leia mais aqui.

Professores eméritos 

Ademir Neves, natural de Indaial, Santa Catarina, iniciou sua carreira acadêmica em Química em 1970, na Universidade Regional de Blumenau (Furb), tendo obtido título de Licenciado em Química em 1974. Foi admitido como professor do Departamento de Química da UFSC em agosto de 1978 e, em 1980, defendeu sua dissertação de mestrado na mesma universidade, sob orientação do professor Faruk Nome. Em 1983 finalizou o doutorado na Ruhr Universität Bochum, na Alemanha, onde também realizou seu pós-doutorado. Ao retornar, implementou a linha de pesquisa de biomiméticos sintéticos dentro da área de Química Bioinorgânica na UFSC, sendo um dos pioneiros no país. Desde então, vem realizando pesquisas de ponta, sendo reconhecido nacional e internacionalmente. É membro titular da Academia Brasileira de Ciências desde 2008 e, em maio de 2010, foi admitido na Classe de Comendador da Ordem Nacional do Mérito Científico.

Faruk José Nome Aguilera nasceu em Linares, Chile, em 1947. Cursou sua graduação em Bioquímica na Universidad de Chile, onde se formou em 1971. O doutorado em Química foi cursado na Texas A&M University e concluído em 1976. Em seguida, fez o estágio de pós-doutorado na mesma instituição. Mais tarde, em 1984, concluiu outro pós-doutorado, no Clarkson College of Technology, nos Estados Unidos. Veio para o Brasil em junho de 1977, contratado como professor do Departamento de Química da UFSC, onde permaneceu por mais de 40 anos, até sua aposentadoria, em 2018. Ao longo da carreira, recebeu uma série de prêmios e honrarias. Desde 2001, é membro da Academia Brasileira de Ciências e, no mesmo ano, foi agraciado com a medalha Capes 50 anos. Em 2002, recebeu o Prêmio Ordem Nacional do Mérito Científico, Classe Comendador, e o Mérito Universitário da UFSC. No ano seguinte, passou a ser membro do Conselho Superior de Ciência e Tecnologia de Santa Catarina (Funcitec) e, desde 2009, integra a Third World Academy of Science (TWAS). Em 2018, foi agraciado com o Prêmio Ordem Nacional do Mérito Científico, na classe Grã-Cruz. O professor Faruk faleceu em 24 de setembro daquele mesmo ano. Como uma homenagem póstuma, o auditório do Departamento de Química recebeu o seu nome.

Ivo Barbi tem graduação (1969-1973) e mestrado (1974-1976) em Engenharia Elétrica pela UFSC e doutorado na mesma área pelo Institut National Polytechnique de Toulouse (1977- 1979), na França. Ingressou como docente do Departamento de Engenharia Elétrica da UFSC em 1976. Como líder e fundador do Instituto de Eletrônica de Potência da UFSC, foi um dos pioneiros na introdução da Eletrônica de Potência no Brasil e colaborou para a consolidação da área de pesquisa. Foi também fundador da Associação Brasileira de Eletrônica de Potência (Sobraep) e, desde 2001, é seu presidente de honra. Em 2010, durante a celebração dos 50 anos da UFSC, recebeu o Prêmio Destaque Pesquisador UFSC 50 anos. Mesmo após sua aposentadoria, em 2014, seguiu na UFSC como professor voluntário, e atualmente permanece como professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica e pesquisador do Centro Integrado de Pesquisa em Energia Solar da UFSC. Em 2020, foi contemplado com o prêmio IEEE William E. Newell Power Electronics Award, concedido ao pesquisador destaque do ano na área de Eletrônica de Potência em nível mundial. Em 2021, tornou-se membro titular da Academia Nacional de Engenharia.

Juan Jacob Eduardo Humeres Allende nasceu no Chile em 1932. Graduou-se em Engenharia Química pela Universidad Católica de Chile (1956), fez mestrado em Química na Purdue University (1961), nos Estados Unidos, doutorado na mesma área na University of California (1968) e pós-doutorado na University of Glasgow (1975), na Escócia. Foi professor da Universidad Católica de Chile, de 1956 a 1962, e da Universidad de Chile, de 1962 a 1975, ano em que ingressou no Departamento de Química da UFSC. Foi aposentado compulsoriamente em 2002, aos 70 anos, mas segue atuando como professor e pesquisador voluntário junto ao Programa de Pós-Graduação em Química. Foi também professor visitante em instituições da Colômbia, da Inglaterra, do Japão e da Espanha, além de coordenador do Programa Multinacional de Química da Organização dos Estados Americanos (OEA), representante do Brasil na União Internacional de Química Pura e Aplicada (Iupac), membro da Organic Chemistry Division da Iupac e assessor do CNPQ na área de Química.

Rosendo Augusto Yunes nasceu em Santiago del Estero (Argentina), iniciou seus estudos em Córdoba e os completou em Santa Fé, na Universidad Nacional del Litoral, graduando-se em Química em 1963. Doutorou-se pela mesma instituição, em 1965, na área de produtos naturais. Lá também deu início a sua carreira docente, ainda durante o período de doutorado. Foi professor visitante da Universidade de São Paulo (USP) e da Indiana University (EUA). Em 1976, foi demitido da Universidad Nacional del Litoral pela ditadura militar. Três anos depois, ingressou na UFSC, onde permaneceu como docente e pesquisador até se aposentar, em 2001. Desde então, vem atuando como professor voluntário e colaborador. Recebeu diversas homenagens por seu trabalho, como a Medalha João David Ferreira Lima, da Câmara Municipal de Florianópolis, o título de hóspede oficial da Universidad del Litoral, o Prêmio Scopus 2008, da editora Elsevier em parceria com a Capes, e o título de Doutor Honoris Causa da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). 

100 mil mais influentes

Confira a lista com os 33 homenageados:

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