Trabalho, estudo, deslocamento: perfil do graduando UFSC aponta uma rotina intensa

31/05/2019 17:30

A rotina de Edson da Costa Gularte, estudante de Pedagogia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), é intensa. Associar estudos, trabalho e deslocamento até o Campus Trindade não é fácil, mas ele faz com maestria. Edson é o primeiro da família a ingressar no ensino superior. Teve acesso à UFSC por meio da ação afirmativa Escola Pública/Baixa Renda, além de trabalhar e estudar, fatores que estão mudando o perfil de estudantes nas universidades públicas federais brasileiras.

Essa realidade é apresentada no Relatório Executivo da V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFEs, edição de 2018, que identificou um universo de mais de 1,2 milhão de estudantes de 65 IFEs, sendo 63 universidades e dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), e contou com 424.128 respondentes, sendo que da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) participaram 34.205 graduandos, o que representou 2,8% do total de respondentes.

Segundo os organizadores do estudo nacional, “não é pequeno o significado social e simbólico no seio familiar do ingresso pioneiro de filhos e filhas nas instituições federais de ensino superior com potencial de, inclusive, imantar, num ciclo mais amplo de relações sociais e familiares, o desejo de construir mesma trajetória e almejar semelhantes objetivos”.

Para chegar à UFSC, Edson utiliza transporte coletivo. Ele sai de Paulo Lopes e enfrenta uma jornada de três horas diárias. “A minha rotina é, basicamente, passar todo o dia na UFSC. Eu saio de casa às 11h20 e retorno às 23h30, tenho todo esse trajeto no ônibus”.

Dos respondentes da UFSC, 41% utilizam transporte coletivo para chegar à universidade e 32,3% se deslocam a pé. Ainda, 15,9% utilizam transporte próprio, 6,1% vêm de bicicleta e 3,6% utilizam de carona. Outra informação relevante trata da distância de moradia dos estudantes: 65,1% residem em um raio de 10 quilômetros. Entretanto, há uma porcentagem que mora entre 10 a 50 quilômetros do campus: são 10.697 estudantes. Edson reside um pouco mais longe, são 67 quilômetros, a mesma realidade de 1.246 graduandos que estão a mais de 50 quilômetros da unidade de ensino. “Então acaba que a maior parte do tempo eu estou na universidade e uso tempo do percurso de trajeto no ônibus para estudar, mas é um estudo superficial”, diz Gularte.

Somada a essa rotina intensa, está o trabalho. Os dados da pesquisa com o graduando revelam que 36,3% deles trabalham e 29,4% estão à procura, ou seja, são 22.481 na situação de estudantes/trabalhadores ou possíveis trabalhadores. O vínculo de trabalho da maioria dos respondentes é de estágio (14,5%) ou carteira assinada (9,8%).

Edson também trabalha. Atua como bolsista na UFSC e, quando pode, aproveita os intervalos para estudar. “O tempo de estudo se daria no ônibus e, às vezes, no intervalo de uma aula e outra ou quando o trabalho está ocioso e eu posso dar uma olhada no conteúdo”.

A variável ‘trabalho’ pode impactar diretamente no tempo de estudo em que os respondentes possuem. Os dados mostram que a dedicação aos estudos fora da sala de aula é de 5 a 10 horas por semana para 34,5% e menos de 5 horas para 26% dos respondentes.

A pesquisa também revelou informações importantes em nível nacional: 48,4% dos respondentes trabalham e estudam à noite; 72,1% deles vieram de escola pública e 46,1% usam transporte público para ir até a universidade.

“A UFSC, de certa forma, abriu várias oportunidades para mim, sobretudo por eu ser uma pessoa que morava no interior, que começa a ter contato com uma cidade grande, com a pluralidade de pessoas, de informações, e tudo mais. Além do conhecimento, do ensino, também propicia uma formação social mais abrangente para mim”, avalia Edson, acadêmico e estagiário da Universidade.

 

Dados sobre os graduandos da UFSC

86,3% são solteiros, 12,5% são casados ou vivem em união estável;

92,9% não possuem filhos, mas 1.451 possuem um (01) filho (4,2%). Dos que possuem filhos, 456 dizem que eles ficam com os familiares quando estão em período de aula;

80,7% moram na mesma cidade em que estudam, sendo que 35,4% moram com os pais e 22,4% moram sozinhos;

50,1% dos estudantes possuem renda familiar per capita de R$ 1.250,00;

43,7% do grupo familiar são mantidos pelo pai/ padrasto e 30,5% pela mãe/ madrasta;

5.525 dos respondentes mantêm, eles mesmos, o grupo familiar (16,2%).

 

MAIS

Relatório Executivo que apresenta os dados da realidade brasileira foi divulgado este mês. Para apresentar os achados da pesquisa, a Agência de Comunicação da UFSC (Agecom) preparou uma série composta por quatro reportagens especiais. A primeira abordou, de maneira geral, os dados encontrados na pesquisa que definem o perfil do graduando do Brasil e da UFSC, tais como faixa etária, cor/raça, orientação sexual/gênero. A segunda versou sobre a relação de trabalho e tempo para os estudos, como moram os estudantes, como se constitui sua renda, origem familiar e deslocamento até a universidade. A terceira reportagem falará sobre o histórico escolar desses estudantes, como se deu o ingresso na universidade e aspectos da vida acadêmica e atividades culturais. A última delas vai tratar de assuntos delicados, mas relevantes, tais como as dificuldades estudantis e emocionais, saúde e qualidade de vida.

Confira AQUI o Relatório Executivo completo contendo os dados nacionais.

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Nicole Trevisol / Jornalista da Agecom / UFSC

*Arte: Leonardo Reynaldo / Agecom / UFSC

**Fotos e vídeos: Ítalo Padilha e Pipo Quint / Agecom / UFSC

Atualizado em 04/06/2019, às 11h04.

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