Perfil do Graduando UFSC: universidade é espaço de inclusão, diversidade e acesso à cultura

04/06/2019 14:51

Lucas Vinício Stank da Silva

Lucas Vinício Stank da Silva e Fernando de Almeida são estudantes no curso de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Ambos ingressaram no ensino superior por meio da Política de Ações Afirmativas, o primeiro pela cota Escola Pública/Deficiente e o segundo na de Escola Pública/Pretos, Pardos ou Indígenas (PPI). Os dois escolheram o curso de maneira estratégica: pretendem dar voz e visibilidade a um público normalmente esquecido e negligenciado pela mídia brasileira.

O telejornal Conexão UFSC de 21 de março de 2019 foi, pela primeira vez na história da universidade, apresentado por uma pessoa com necessidade especial. Com foco na acessibilidade na praça do bairro Carianos, em Florianópolis, Lucas assumiu a cadeira de apresentador junto com Ana Luiza Pedroso. “Eu sou duplamente uma minoria, uma porque sou cadeirante e duas porque vim de escola pública. É muito importante eu estar neste espaço porque posso trazer essas duas perspectivas que, sinto, estarem em falta no jornalismo”.

Fernando de Almeida

Os dados divulgados na V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFEs, edição de 2018, apontam que 36% dos graduandos que entraram na UFSC em 2018 foram por meio de ações afirmativas. A pesquisa identificou um universo de mais de 1,2 milhão de estudantes de 65 IFEs, sendo 63 universidades e dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), e contou com 424.128 respondentes, sendo que da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) participaram 34.205 graduandos, o que representou 2,8% do total de respondentes.

Dos 12.302 que ingressaram por cotas, 3.010 são Preto/Pardo/Indígena e 89 por Deficiência, esta última implantada na UFSC no Vestibular 2019.

Na UFSC, dos estudantes que declararam possuir alguma deficiência (4,8%), a maioria se concentra na de baixa visão/visão subnormal (983), seguido de Auditiva (188), Deficiência Física (184), Altas Habilidades/Superdotação (160), Deficiência Intelectual (91), Transtorno Global do Desenvolvimento (87), Surdez (43) e Cegueira (16). Para Stank, entrar na universidade é uma maneira de representar a comunidade de pessoas com necessidades especiais. “Isso é muito importante porque estou abrindo portas, estou encorajando muita gente. É difícil, exige muita motivação, mas serviu para mostrar as outras pessoas que elas também podem estar aqui”.

Outra revelação da pesquisa diz respeito à participação dos graduandos em atividades ou projetos acadêmicos: 52,2% dos respondentes (17.843 estudantes). Fernando é um deles, bolsista no Laboratório de Telejornalismo representa os 22,2% de estudantes que realizam Estágio Não Obrigatório (7.603). A primeira reportagem dele no projeto de Extensão TJ UFSC foi produzida na comunidade Xokleng, localizada em José Boiteux, Alto-Vale do Itajaí. “O objetivo de eu vir para a UFSC foi justamente dar visibilidade à minha comunidade. Ano passado eu fiz duas matérias lá na comunidade, na minha aldeia. O fato de eles poderem se ver na TV contando a história deles, é muito gratificante”, revela o estudante, que foi convidado pela comunidade indígena a retornar. “Eles queriam que eu fosse lá, e não outra pessoa, porque eu tenho uma visão diferente por ser de lá. Isso me deu uma experiência muito boa e me mostrou que eu estou no caminho certo”.

Segundo a pesquisa, os estudantes da UFSC participaram de diversas outras atividades ou projetos acadêmicos: Pesquisa (14,2%), Ensino/Monitoria/Pibid/PLI (8,4%), Extensão (8%), Empresa Júnior (5,2%), Programa de Educação Tutorial (2,2%), Outras (12,6%).

 

A vida acadêmica

O ingresso dos estudantes ao ensino superior gratuito provoca inúmeras transformações. Para além da sala de aula, existem atividades de pesquisa e extensão e espaços de acesso livre não só para os que frequentam as aulas na universidade, mas também para toda a comunidade. É o caso das bibliotecas distribuídas nos cinco campi da UFSC.

Os dados da pesquisa apontam que 46,5% dos estudantes não utilizam ou usam menos de uma vez por semana a Biblioteca Universitária, 17,1% usam uma vez por semana, 25,5% de duas a três vezes e 10,9% quatro ou mais vezes. Apesar da baixa frequência na BU, 43,2% dizem que aumentaram a leitura de obras literárias após ingressar na universidade. “Eu acho a BU fantástica, se a gente fosse tirar do nosso bolso para comprar cada livro que usamos na faculdade, não tinha como. Têm livros que custam R$ 1.000, R$ 2.000, e o acesso facilita bastante, porque muitas pessoas precisam dos livros que estão na BU para estudar”, salienta Cynthia de Pádua da Silva, estudante do curso de Farmácia.

Sobre o envolvimento com cultura, 4.905 graduandos aumentaram o número de peças de teatro que passaram a assistir após o ingresso na universidade, como também 12.120 passaram a assistir mais filmes após a entrada na UFSC. Os estudantes se informam mais pela mídia eletrônica formal (49,4%), seguido das Redes Sociais (25,3%).

A universidade pública federal tem se mostrado um lugar de acolhimento e mudanças na vida dos estudantes. “A UFSC foi um dos locais que eu mais me senti parte da sociedade, porque aqui as pessoas falam diretamente comigo. Em todos os lugares que eu vou as pessoas perguntam diretamente para mim. É muito legal ver isso em num lugar que eu não sou ignorado”.

Já para Fernando, o resgate da cultura indígena é algo que se tornou possível. “Por ter ficado muito tempo fora, não falo a língua dos Xokleng, mas estou buscando com professores da UFSC aulas para aprender a língua (Nepi). Assim, poderei me comunicar com o meu povo e resgatar essas histórias, sendo uma voz deles”.

 

Mais dados

77,2% ingressaram via Vestibular e 17,5% via Enem/Sisu

33% desenvolvem atividade ou programa acadêmico remunerado

48% possuem um bom domínio do inglês

5,3% participam de Programa de Mobilidade Estudantil nacional ou internacional

44,3% aumentaram a participação política após ingresso na universidade

 

Saiba mais

Relatório Executivo que apresenta os dados da realidade brasileira foi divulgado este mês. Para apresentar os achados da pesquisa, a Agência de Comunicação da UFSC (Agecom) preparou uma série composta por quatro reportagens especiais. A primeira abordou, de maneira geral, os dados encontrados na pesquisa que definem o perfil do graduando do Brasil e da UFSC, tais como faixa etária, cor/raça, orientação sexual/gênero. A segunda versou sobre a relação de trabalho e tempo para os estudos, como moram os estudantes, como se constitui sua renda, origem familiar e deslocamento até a universidade. A terceira reportagem falará sobre o histórico escolar desses estudantes, como se deu o ingresso na universidade e aspectos da vida acadêmica e atividades culturais. A última delas vai tratar de assuntos delicados, mas relevantes, tais como as dificuldades estudantis e emocionais, saúde e qualidade de vida.

Confira AQUI o Relatório Executivo completo contendo os dados nacionais.

Mais sobre o assunto nas reportagens

Perfil do graduando UFSC: série apresenta resultados de pesquisa nacional realizada com estudantes

Trabalho, estudo, deslocamento: perfil do graduando UFSC aponta uma rotina intensa

Ansiedade, dificuldades e superação: estudantes encontram na universidade apoio para seguir em frente

Nicole Trevisol / Jornalista da Agecom / UFSC

*Arte: Leonardo Reynaldo / Agecom / UFSC

**Fotos e vídeos: Ítalo Padilha e Pipo Quint / Agecom / UFSC

Tags: perfil do graduandoPRAEUFSCV Pesquisa Nacional do Perfil do Graduando 2018