Ansiedade, dificuldades e superação: estudantes encontram na universidade apoio para seguir em frente

06/06/2019 13:26

Foram quatro anos dedicados a transpor a primeira etapa para a realização do sonho de graduar-se em Farmácia na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Durante esse período, e mesmo depois, quando já havia ingressado no curso e na instituição pretendida por meio de Ampla Concorrência, Cynthia de Pádua da Silva enfrentou dificuldades financeiras e de saúde. Com muita determinação e apoio, superou-as, uma por uma, e hoje já se encontra na última fase do curso, a pouco de fazer do sonho, uma realidade.

Durante a infância e parte da juventude, a situação financeira familiar de Cynthia permitiu-lhe estudar em colégios particulares. O Relatório Executivo da V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFEs, edição de 2018, que identificou um universo de mais de 1,2 milhão de estudantes de 65 IFEs, sendo 63 universidades e dois Centros Federais de Educação Tecnológica (Cefets), constatou, a partir da resposta de 424.128 estudantes, um perfil distinto: 64,1% dos respondentes tinham realizado o Ensino Médio em escolas públicas, enquanto 35,9% frequentaram escolas particulares.

Mas o quadro de certa estabilidade financeira se transformou a partir da conclusão de Cynthia no Ensino Médio, quando precisou trabalhar para custear seus estudos de preparação para o Vestibular da UFSC. A partir de então, não parou mais, e atua desde o segundo semestre da graduação como bolsista na universidade. Nos períodos mais críticos, contou com o Programa de Assistência Estudantil da UFSC para isenção do valor de alimentação do Restaurante Universitário (RU), atualmente ao custo de R$ 1,50. “Precisei da ajuda da UFSC para comer no RU, porque eu não tinha dinheiro para pegar ônibus, minha mãe também não tinha. Eu dava quase toda a minha bolsa para ela para ajudar a pagar as contas em casa”.

As 34.205 respostas de graduandos da UFSC obtidas pela V Pesquisa Nacional de Perfil Socioeconômico e Cultural dos Graduandos das IFEs revelam que a maioria, 48,1%, realiza suas principais refeições no RU. Depois, que 39,7% realizam em casa ou na casa de familiares ou amigos, 5,5% no trabalho, 3,8% em outro restaurante e 0,2% no transporte. Dessas refeições, 50,6% são realizadas até três vezes ao dia, sendo que o percentual de graduandos que se alimentam com menos frequência do que o recomendado pelo Ministério da Saúde para a manutenção de uma vida alimentar saudável, de no mínimo três vezes por dia, é de 20.4%.

Diariamente, o RU serve uma média de 10.500 refeições, somando almoço e jantar, sendo que, desse total, 2.200 são servidas a discentes com cadastro socioeconômico aprovado na Coordenadoria de Assistência Estudantil (CoAEs). Dessa assistência estudantil oferecida pela UFSC, 10.427 disseram se beneficiar, o que corresponde a 30,5% dos graduandos respondentes. Quanto à alimentação, 23,3% são beneficiados, quanto à Bolsa Permanência da Instituição, são 2.808 beneficiados, totalizando 8,2%, e à Bolsa Permanência do MEC, 0,6%.

Por conta de todo o período de preparação e tentativa, Cynthia ingressou na UFSC com 24 anos. Considerando-se mais velha que a maioria dos colegas, relata que sentiu dificuldade em lidar com essa questão. Isso, aliado à sobrecarga dos estudos e trabalho e à sensação de falta de tempo, conduziu a episódios de ansiedade, em que chegava a desmaiar e era encaminhada ao Hospital Universitário (HU), local em que recebeu atendimento psicológico. Pela frequência com que ocorriam os episódios, para tratar dos sintomas precisaria ou recorrer a medicamentos ou exercer outras atividades além de estudo e trabalho. “Eu decidi que não ia tomar remédio de jeito nenhum, então comecei a buscar esportes, já fiz pilates, academia, hoje eu tenho uma banda marcial que desfila no 7 de setembro, a gente junta as meninas, todo mundo se ajuda, ensina”.

Os dados da pesquisa revelam que esse panorama de problemas emocionais, dificuldade financeira e acadêmica é presente na vida de vários dos estudantes respondentes da UFSC. A ansiedade tem afetado a vida acadêmica de 24.279 graduandos, o que corresponde a 71% do total de respostas. Depois, as dificuldades emocionais mais recorrentes são desânimo, falta de vontade de fazer as coisas, que 54% declarou possuir, insônia ou alterações significativas de sono, identificadas por 36,1%, sensação de desamparo / desespero / desesperança, apresentada por 33,1%, e sensação de desatenção / desorientação / confusão mental, que 27% declarou possuir. Somente 12,5% dos graduandos respondentes disseram não ter dificuldades emocionais.

Já as dificuldades financeira e acadêmica são enfrentadas, respectivamente, por 23,7%  e 88,2% dos graduandos respondentes, e se configuram como fatores significativos para os 42% que pensam em trocar de curso ou não sabem.

Para superar os problemas que surgem nesta caminhada, a prática de atividade física e ações de lazer surgem como uma alternativa necessária. Os dados da pesquisa apontam que 32,5% dos respondentes não praticam atividade física. Sobre as condições que a UFSC oferece para a realização de suas atividades físicas, 17,3% avaliam que a UFSC oferece boas condições e praticam atividade física no campus; 28,5% dizem preferir não praticar atividade na UFSC.

Mesmo diante de tantas dificuldades, Cynthia se apoiou nos estudos, na família, no lazer e contou com ajuda da estrutura da UFSC para seguir em frente. Para ela, a universidade é uma mãe que abraça os estudantes de todas as formas. “No começo, eu tive dificuldade para lidar com todas as informações, com a faculdade, porque é muita matéria, pouco tempo, tem que chegar em casa e estudar; e a hora de comer e dormir, fica onde? A gente tem que aprender a se organizar, é um processo difícil que depende de cada um. A UFSC dá várias possibilidades, se eu não estivesse aqui, não estaria conhecendo todas essas pessoas, trocando essas experiências. Sou bastante grata à UFSC”. 

Mais dados

48,5% estudam em período integral, 31,5% no diurno e 20% no noturno

42% pensam em trocar de curso ou não sabem, 58% não trocariam de curso

49,2% procuram a rede pública para atendimento de saúde e 4,4% utilizam os serviços de saúde oferecidos pela UFSC

44,7% raramente procuram serviço médico para exames de rotina ou tratamento de saúde

49,7% vão ao dentista somente quando apresentam algum problema

21% nunca consumiram bebida alcoólica e 82,5% nunca usaram tabaco

29,8% apresentam problemas emocionais

13,3% possuem ideia de morte e 11,2% pensamento suicida

 

Saiba mais

Relatório Executivo que apresenta os dados da realidade brasileira foi divulgado este mês. Para apresentar os achados da pesquisa, a Agência de Comunicação da UFSC (Agecom) preparou uma série composta por quatro reportagens especiais. A primeira abordou, de maneira geral, os dados encontrados na pesquisa que definem o perfil do graduando do Brasil e da UFSC, tais como faixa etária, cor/raça, orientação sexual/gênero. A segunda versou sobre a relação de trabalho e tempo para os estudos, como moram os estudantes, como se constitui sua renda, origem familiar e deslocamento até a universidade. A terceira reportagem falará sobre o histórico escolar desses estudantes, como se deu o ingresso na universidade e aspectos da vida acadêmica e atividades culturais. A última delas vai tratar de assuntos delicados, mas relevantes, tais como as dificuldades estudantis e emocionais, saúde e qualidade de vida.

Confira AQUI o Relatório Executivo completo contendo os dados nacionais.

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Maria Clara Flores / estagiária de Jornalismo na Agecom / UFSC

Supervisão e edição: Nicole Trevisol / Jornalista da Agecom / UFSC

*Arte: Leonardo Reynaldo / Agecom / UFSC

**Fotos e vídeos: Ítalo Padilha e Pipo Quint / Agecom / UFSC

Tags: perfil do graduandoPRAEUFSCV Pesquisa Nacional do Perfil do Graduando 2018