Programa que substitui Ciência sem Fronteiras deve promover internacionalização das universidades
Oferecer bolsas de estudos no exterior com foco em pós-graduação e ao mesmo tempo promover a internacionalização das universidades brasileiras: essa é a grande proposta do Mais Ciência, Mais Desenvolvimento (MCMD), programa do Ministério da Educação (MEC) com participação direta da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). O MCMD deve substituir o Ciência sem Fronteiras (CsF), lançado pelo governo federal em 2011 para contribuir com a internacionalização de universidades e permitir intercâmbio de alunos. A novidade dá prioridade para alunos de mestrado e doutorado, mas a participação de estudantes de graduação será possível se o aluno estiver envolvido em atividades de iniciação científica.
O MCMD foi anunciado durante encontro de gestores de Pós-Graduação, Pesquisa e Relações Internacionais de Instituições de Ensino Superior da Região Sul, em 17 de março na Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. O principal impacto do novo programa, segundo concordam o pró-reitor de Pós-Graduação, Sérgio Freitas, e o secretário de Relações Internacionais, Lincoln Fernandes, será levar as instituições a se internacionalizarem. A Capes determinou um cronograma para que as universidades encaminhassem primeiro um panorama geral, com dados sobre pós-graduação e pesquisa, bolsas concedidas, participação em programas e convênios, etc., que deve ser entregue até 17 de abril. Posteriormente, em julho, as instituições devem encaminhar seu plano de internacionalização para os próximos quatro anos. Após isso, serão lançados os editais e a partir de março de 2018, o programa terá início.
“Até agora a Capes não tinha uma política de internacionalização que fosse sistêmica, articulada. Temos várias atividades que fomentam a internacionalização, como os editais para bolsas-sanduíche, bolsas de pós-doutorado no exterior, ações isoladas. Agora resolveram agregar isso tudo para fazer com que as universidades tivessem uma política de internacionalização mais estruturada. A partir do ano que vem, não terão mais esses editais específicos, e sim uma proposta de internacionalização que eles irão analisar a viabilidade e vamos desenvolver essas atividades dentro dos limites orçamentários aprovados. É uma política mais permanente”, detalha o pró-reitor Sérgio Freitas.
Alunos de Graduação poderão participar, mas será de forma mais conectada à iniciação científica e às coordenações de curso. Lincoln Fernandes, secretário da Sinter, lembra que essas medidas evitarão que as disciplinas cursadas não sejam validadas após o retorno dos alunos. “Os alunos vão sair daqui com as disciplinas que irão cursar já listadas pelo coordenador de curso, já sabendo que terá o respaldo do seu curso aqui na UFSC. Vai ser muito bom para o aluno, mas extremamente importante para a instituição”, complementa. Fernandes acredita que o novo programa deverá corrigir problemas que aconteciam com o Ciência sem Fronteiras (CsF). “Apesar de suas falhas, o CsF foi o único e primeiro programa de internacionalização das universidades. O MCMD vem para melhorar essas falhas e eu estou vendo com bons olhos. Terá estrutura, controle, e tudo vai depender do projeto que vamos construir”, salienta.
Comprometimento e planejamento
Os objetivos do MCMD, conforme delineados no projeto da Capes, irão demandar comprometimento das instituições de ensino, com a apresentação de seu plano estratégico de internacionalização, além de maior rigor na seleção de bolsistas e ênfase na mobilidade de doutorandos, pós-doutorandos e professores para o exterior e do exterior para o Brasil. Ficou claro, segundo o pró-reitor de Pós-Graduação, Sérgio Freitas, que os programas de pós-graduação que estiverem melhor estruturados terão maior sucesso.
Freitas ressalta que fará a diferença ter uma infraestrutura para internacionalização, incluindo receber alunos e docentes estrangeiros, promover a interação entre unidades acadêmicas e bolsistas, incorporar temas internacionais nas aulas, disponibilizar conteúdo em outros idiomas nos sites dos cursos de pós-graduação, preparar bolsistas para a permanência no exterior e capacitar servidores para a internacionalização. No entanto, uma das principais ações que precisam ser desenvolvidas será oferecer disciplinas em língua estrangeira.
“A maior barreira que nós temos hoje para receber alunos estrangeiros é a falta de oferta de disciplinas em inglês e espanhol.” Essa ação, Freitas salienta, deve ser uma das primeiras a acontecer para que a UFSC consiga participar efetivamente do novo programa da Capes.
Etapas para a Internacionalização
O planejamento da internacionalização da UFSC atualmente está a cargo de uma comissão, formada pela vice-reitora Alacoque Lorenzini Erdmann, a Sinter, PROPG, Pró-Reitoria de Pesquisa, Pró-Reitoria de Graduação, Pró-Reitoria de Extensão e a Secretaria de Inovação.
A comissão de internacionalização espera conseguir uma verdadeira mudança de cultura na Universidade, e para isso planeja quatro etapas: comprometimento e planejamento (1º semestre de 2017), conscientização e operacionalização (2º semestre de 2017). Após março de 2018, quando a Capes deve divulgar os resultados dos editais do MCMD, o que se espera é que a UFSC tenha cursos de pós-graduação oferecendo disciplinas em inglês, ministradas por professores da UFSC e por professores visitantes estrangeiros. No último edital, foram abertas 32 vagas para a Universidade receber docentes de universidades que estejam entre as 150 melhores do mundo, para que essa interação resulte em novas parcerias para a UFSC.
Além disso, a PROPG espera implantar provas de proficiência em inglês que sejam mais rigorosas, que avaliem a capacidade do aluno não só ler e entender o que lê, mas também que possa escrever, falar e ser entendido. “Vamos nos aproximar do padrão Toefl [exame internacional de proficiência em inglês como língua estrangeira] e queremos que os programas da UFSC que hoje têm conceito 5, 6 e 7 adotem essa nova prova de proficiência, principalmente para a seleção de alunos do doutorado”, complementa Freitas.
A pró-reitoria planeja, também para 2018, um catálogo de disciplinas em inglês, com características de cursos mais transversais, que possam ser oferecidos para programas de diversas áreas. Freitas acrescenta que a medida é urgente, assim como traduzir as páginas dos programas de pós-graduação para o inglês e o espanhol. “Hoje em dia só temos 20 por cento das páginas dos programas traduzidas para o inglês. Precisamos dos cursos de conceito 6 e 7 com as páginas traduzidas, pelo menos. Os programas que não fizerem serão prejudicados na avaliação quadrienal”, salienta.
“Todo mundo tem que tomar consciência que a internacionalização é fundamental para o desenvolvimento da pesquisa e da pós. E tem que apostar nisso. O MCMD é um avanço, principalmente porque nos obriga a trabalhar com metas, com indicadores, pensando na evolução das atividades internacionais da UFSC.”, conclui Freitas.
Idiomas serão base para internacionalização
Lincoln Fernandes ressalta que oferecer disciplinas em língua estrangeira não é algo planejado apenas para os alunos estrangeiros. “Nossos estudantes brasileiros querem ter acesso a isso, já existe esse anseio. A internacionalização tem que começar em casa: se cada curso oferecer uma disciplina optativa em língua estrangeira na graduação, já seria maravilhoso, mas na pós-graduação é obrigatório. O que foi feito até hoje foi um primeiro passo para a internacionalização. Falta agora amarrar, adicionar a política linguística. Nada disso vai acontecer sem uma política linguística que dê uma sustentação para tudo o que estamos planejando”, detalha o secretário.
Dentre as ações planejadas está o foco no programa Idiomas sem Fronteiras, também da Capes, do qual a UFSC já participa desde que foi criado, em 2014. A proposta é continuar trabalhando os cursos de idiomas e passar a oferecer também capacitação para professores que queiram ministrar disciplinas em língua estrangeira.
“Esse programa vai mudar a cara da UFSC. É um apoio centralizado da Capes, que fará a internacionalização de forma sustentável. Estamos apostando nisso”, finaliza Fernandes.
Mayra Cajueiro Warren
Jornalista da Agecom/UFSC
agecom@contato.ufsc.br