UFSC na mídia: Pesquisadores do CCA buscam respostas para mortandade de abelhas e crise alimentar
Conhecidas também pelos efeitos medicinais da geleia real, da própolis e do próprio veneno, as abelhas não produzem apenas mel. Mais eficientes polinizadores da natureza e fundamentais na preservação de milhares de espécies vegetais e, principalmente, para a perpetuação de alimentos essenciais ao homem, elas estão desaparecendo no mundo todo, conforme alerta da FAO/ONU (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura). Em Florianópolis as causas do colapso das colmeias são pesquisadas em apiários e laboratório do CCA (Centro de Ciências Agrárias) da UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina), mas ainda não há respostas concretas da ciência.
Agrotóxicos, em particular os sintéticos fabricados a base de nicotinóides, floração de plantas transgênicas [soja e milho], desmatamentos, queimadas, urbanização e alterações climáticas formam o leque de alternativas, explica o professor Inácio Orth, 59, pesquisador do CCA/UFSC. Segundo estudos atuais, colmeias desnutridas por falta de alimentação natural nos longos períodos de chuva ficam mais fragilizadas imunologicamente e suscetíveis a velhas e novas doenças – como os vírus transmitidos pelo carrapato varroa no sistema linfático dos insetos ou as complicações da nozema, que ataca o aparelho digestivo.
“Varroa sempre existiu, mas há uma nova espécie, originária da Índia, que se espalhou pelo mundo”, diz o professor Orth, que revela também preocupação com o surgimento de nova praga no Brasil: o pequeno besouro da colmeia, já detectado em apiários de São Paulo e com potencial para entrada em Santa Catarina. A saída para produtores de Santa Catarina, principalmente em períodos de muita chuva, é a alimentação suplementar das colmeias, natural e artificial.
“É possível plantar árvores e flores polinizadoras que floresçam em diferentes períodos do ano”, ensina. Paralelamente, para garantir a sobrevivência e a produtividade das colmeias Orth reforça a necessidade de reforço alimentar com proteínas e energéticos e algumas práticas de manejo essenciais: troca anual de favos e renovação de rainhas a cada nove meses. “São práticas essenciais para manutenção do potencial produtivo das colmeias, mas, principalmente, para preservação do banco genético mundial de alimentos”, alerta.
Negócio de família há quatro gerações
Em Santo Amaro da Imperatriz e Águas Mornas, municípios da região serrana da Grande Florianópolis, a família de Leodete Rohling Pfleger, 56, está há quatro gerações com as abelhas. Tudo começou com o bisavô Augusto Hawerroht, um dos pioneiros na introdução de colônias europeias, no fim do século 19, e hoje ela maneja 200 colmeias com ajuda do marido Ideraldo, 55, e das filhas Daniela, 22, estudante de cinema, e Natália, 18, caloura de história na UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina).
A mesma rotina se repete na casa de Verônica, 54, Quiliano, 57 e do filho Júnior, 18, irmã, cunhado e sobrinho de Leodete, que também produzem mel, geleia real e própolis em 250 caixas espalhadas em áreas de mata atlântica da encosta da Serra do Tabuleiro. Lá, de outubro a janeiro a floração de árvores nativas como licurana, cafezeiro do mato, pau sangue, jacatirão e vassourão predomina entre eucaliptos australianos, e proporciona produção média anual de 35 a 45 quilos por colmeia – cada uma com população média de 6.000 abelhas.
“A produção depende, basicamente, de tempo seco e floração abundante”, explica Leodete, que aponta a safra de 2015 como uma das piores dos últimos anos. “Foi insignificante, choveu muito na primavera passada”, emenda. As irmãs Leodete e Verônica Rohling mantêm apiários no morro da Varginha e em Bom Jesus, em Santo Amaro; e nas localidades de Santa Isabel e Nossa Senhora de Lourdes, em Águas Mornas. Orgânicos, os enxames foram georreferenciados pelo Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas), um dos critérios que garantem padrão internacional de qualidade ao mel local.
Depois da perda, novas técnicas nos enxames
O mel garante a faculdade dos jovens e mantém o padrão de conforto conquistado pela família Rohling, mas nem sempre é assim. Além de a produtividade depender das condições climáticas, da preservação das florestas e do manejo adequado das colmeias, ainda é permanente a preocupação com doenças e mortandade.
A perda mais recente ocorreu há três anos, quando o carrapato varroa dizimou 28 das 32 caixas de uma das áreas de Leodete. “Tínhamos pouca informação. As causas só foram descobertas depois de estudos”, diz a produtora, que atualmente se mantém informada e atenta a novas tecnologias e formas de manejo para reduzir os impactos das doenças.
Desde então, a família passou adotar novas práticas, como alimentação suplementar com proteínas e energéticos (açucaras) em períodos de pouca floração, e troca anual de favos e das rainhas. “É preciso cuidar”, diz Leodete, que costuma ceder colmeias para pesquisas do CCA na antiga Cidade das Abelhas, em Florianópolis.
Como elas sempre estão por perto, enxames de espécies sem ferrão, nativas da mata brasileira, representam uma pitada de sofisticação no negócio da família. “Produzem menos, mas é um mel mais refinado e caro”, complementa a irmã Verônica.
Polinização de alimentos
Contribuição das abelhas
Amêndoas – 100%
Laranjas – 27%
Algodão – 16%
Maçã – 90%
Soja – 5%
Blueberry – 90%
Pêssegos – 48%
Mundo das abelhas
85% das plantas com flores nas matas e florestas e 70% das culturas agrícolas no mundo dependem dos polinizadores. A polinização das abelhas é fundamental para garantir a alta produtividade e a qualidade dos frutos em diversas culturas agrícolas. Estima-se que mercado anual de US$ 218 bilhões depende da polinização das abelhas em todo o mundo. No Brasil, o prejuízo seria de US$ 12 bilhões. São mais de 20 mil espécies no mundo. No Brasil, são mais de 3.000, a maioria sem ferrão e nativa das matas silvestres. Desde 1940, o número de abelhas vem caindo de forma drástica em todo o mundo; o país mais afetado é os Estados Unidos.
Fonte: FAO/ONU
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