Autonomia motiva alunos no aprendizado de Física
A tese de doutorado “Autodeterminação e ensino por investigação: construindo elementos para a promoção da autonomia em aulas de física”, desenvolvida pelo pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação Científica e Tecnológica (PPGECT) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Clement, conquistou menção honrosa no prêmio Capes de Tese 2014, na área de Ensino, e está entre as três premiadas neste campo de pesquisa.
A tese – que se desenvolveu a partir do projeto de pesquisa “Motivação, autodeterminação e afetividade: construindo elementos para promoção da autonomia e interesse em aulas de Física” – foi orientada por José Francisco Custódio Filho, coordenador do projeto, e coorientada por José de Pinho Alves Filho – ambos professores do Departamento de Física da Universidade.
O objetivo da pesquisa é a aplicação do ensino por investigação, técnica que visa promover a motivação e dar mais autonomia para os alunos realizarem atividades em sala de aula. O estudo teve início em abril e seguiu até dezembro de 2012, com a participação de 25 estudantes da terceira série do ensino médio de uma escola da rede pública estadual, em Joinville (SC).
Foram realizadas 11 atividades didáticas, desenvolvidas durante 28 aulas de 45 minutos cada. Luiz Clement relata que as atividades eram previamente elaboradas com o professor da turma, responsável pelo desenvolvimento das aulas. Este não possuía domínio do ensino por investigação nem experiência com ele.
Durante as aulas, os estudantes foram estimulados a realizar as atividades de maneira que se sentissem mais seguros, com maior autonomia para a resolução dos problemas e para a participação em sala de aula. Isso foi construído a partir do conceito teórico de motivação proposto por José Aloyseo Bzuneck, em “A promoção da autonomia como estratégia motivacional na escola: uma análise teórica e empírica”, obra na qual a motivação está ligada a três necessidades básicas: autonomia, competência e vínculo (ou pertencimento). A autonomia está ligada à liberdade dada aos alunos, que lhes permite escolher a melhor maneira de articular e resolver os problemas propostos na disciplina; a competência, à necessidade de conseguirem alcançar um bom desempenho nas atividades; e o vínculo, ao desejo de se sentirem pertencentes a um grupo.
As informações para a pesquisa foram coletadas a partir da utilização de escala para medir a motivação, o interesse e os suportes à autonomia; material produzido pelos alunos; e entrevistas realizadas com os estudantes e o professor. Com esta metodologia foi possível comprovar que, quando os alunos trabalham com autonomia, conseguem debater e participar mais das aulas e começam a considerar o conteúdo didático mais atrativo.
Em alguns casos, os alunos entrevistados relataram que “frequentavam as aulas apenas pela presença e para não reprovarem na matéria”, e que “não se interessavam em realizar as atividades, pois não viam utilidade nesse conhecimento”. Após a implantação do novo modelo de ensino, os alunos se sentiram motivados a realizar as tarefas, pois possuíam maior participação em sala de aula.
O pesquisador acredita que o ensino por investigação, da forma como foi utilizado na orientação e desenvolvimento das atividades, apresenta-se como uma perspectiva didático-pedagógica apropriada para construção do conhecimento escolar nas aulas de Física, bem como para promoção da motivação autônoma dos estudantes. “Com isso, penso que este trabalho possa vir a incentivar e fomentar a proposição de novos estudos, que venham dialogar com as considerações decorrentes desta pesquisa e complementá-las”, afirma Clement.
“O Luiz Clement fez o trabalho mantendo autodeterminação e espírito investigativo sempre de alta qualidade; fiquei feliz também porque o foco no trabalho e a motivação do aluno, embora relevantes, são pouco documentados na literatura em Educação Científica e Tecnológica”, afirma José Custódio.
O orientador do projeto diz estar satisfeito também intelectualmente com a conquista, pois foi a sua primeira orientação de doutorado. Para o professor, a maior importância está na contribuição para o avanço da educação científica brasileira, pois as atividades da pesquisa contribuíram para a melhoria da qualidade motivacional dos estudantes.
O professor cita a fala de um estudante sobre o seu grupo de trabalho: “Fizeram-me sentir que eu era importante! Da mesma forma, considero que cada um deles foi importante para a minha aprendizagem”. E finaliza: “Que os estudantes se sintam importantes, afetivamente vinculados ao saber científico e cresçam em sua cidadania é o que me deixa mais satisfeito e premiado”.
Mais informações:
Luiz Clement: (47) 4009-7855; luiz.clement@udesc.br.
Genaína Baumart/Estagiária de Jornalismo da Agecom/DGC/UFSC
Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC
Imagem destaque: internet