Projeto que mede usabilidade em aplicativos de celulares conquista terceiro lugar em prêmio nacional
O projeto “Match – Customização de Heurísticas de Usabilidade para Celulares Touchscreen” conquistou o terceiro lugar de uma das principais premiações sobre qualidade de software no Brasil, o Prêmio Dorgival Brandão Júnior promovido pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). A entrega do prêmio será em Salvador, no dia 2 de julho. O diferencial do projeto é colocar à disposição de desenvolvedores de aplicativos de celulares um questionário que possibilita medir a usabilidade, ou seja, saber se o software é fácil e simples de usar.
Coordenado pelos professores Christiane Gresse von Wangenheim e Adriano F. Borgatto, o projeto foi desenvolvido pelo Grupo de Qualidade de Software do Instituto Nacional para Convergência Digital (GQS/INCoD/INE), da Universidade Federal de Santa Catarina. Além dos professores, participam estudantes de graduação, bolsistas de iniciação científica (Pibic), uma estudante em fase de trabalho de conclusão de curso de graduação e também um doutorando (veja a lista de participantes no final da notícia).
Iniciado em março de 2012, o projeto teve como desafio criar um questionário conciso que permite medir avaliar nove aspectos relacionados à usabilidade de aplicativos de celulares touchscreen. A ferramenta pode apoiar a melhoria da qualidade nesta área que cresce a cada dia e que representa muitos desafios para os desenvolvedores. “Os aplicativos para celulares são diferentes dos computadores: a tela é menor, muitos usuários sofrem para digitar e clicar nos botões, além dos fatores do ambiente de uso que podem interferir, como barulho, luz e outros estímulos” explica a professora Christiane. “Tudo isso são aspectos que interferem no uso e que transformam a boa usabilidade em um fator ainda mais importante”.
Etapas da pesquisa
Como ponto de partida, a equipe realizou um levantamento sobre o que pesquisadores têm recomendado para tornar mais simples e fácil o uso de aplicativos em celulares. Entre os trabalhos mais recorrentes estão os de Jakob Nielsen. Foram as heurísticas de usabilidade de Nielsen, juntamente com outras pesquisas específicas sobre celulares, que se tornaram o fundamento para o questionário. As heurísticas de usabilidade para celulares touchscreen reúnem as recomendações do que já se sabe que funciona, como por exemplo, atenção ao tamanho de fontes, distância entre botões, significado dos ícones, entre outros. “As heurísticas são uma solução de ‘baixo custo’ que ajudam a identificar o que aumenta a aceitação e a usabilidade em termos técnicos”, explica a professora Christiane. O outro método disponível são os testes de usabilidade que, por envolver a participação de pessoas durante o uso de softwares, são mais caros e demorados.
Ao reunir as heurísticas de usabilidade, os pesquisadores chegaram a 92 itens passíveis de avaliação. A grande quantidade de itens levou a equipe a se questionar se todos eles contribuem para avaliar, ou seja, se realmente medem o que se pretende medir. A ideia era minimizar o número de questões e enfocar nas perguntas essenciais. Para isso, a estratégia foi utilizar um método estatístico chamado Teoria de Resposta ao Item. “É a mesma utilizada no pré-teste do ENEM com o objetivo de detectar e consequentemente excluir questões que não contribuem para medir a habilidade desejada” explica Adriano. “No nosso caso, eliminamos as questões que não ajudavam a discriminar aplicativos com usabilidade alta ou baixa. Um exemplo do que excluímos foram perguntas referente a ajuda (help). Ainda que eles sejam importantes para ajudar as pessoas usar o aplicativo, não contribuem para medir e separar os aplicativos que têm boa usabilidade dos que não têm”, completa.
A etapa seguinte envolveu muito trabalho. Com a ajuda do professor Adriano Borgatto, que orientou na aplicação da Teoria de Resposta ao Item, os pesquisadores definiram o questionário inicial com as 92 questões. Depois, identificaram os aplicativos de celulares que avaliaram a qualidade do instrumento, via TRI. Só assim seria possível validar as próprias questões. No total, foram avaliados 247 aplicativos, das mais variadas áreas, como jogos infantis, bancos, viagens, revistas, e-mail, jornais, redes sociais. A partir dessa base de dados foi possível chegar às 48 questões consideradas essenciais para medir a usabilidade.
Outro resultado foi a elaboração de uma escala de medida do grau de usabilidade. São quatro graus cumulativos, ou seja, as escalas mais altas englobam também os requisitos dos níveis anteriores. Os aplicativos classificados no nível mais baixo atendem principalmente requisitos mínimos de ‘Consistência e Padrões’, enquanto aqueles que estão no nível mais elevado estão possuem maior probabilidade de atender a todas as questões, contidas também em heurísticas como: ‘Visibilidade do status do sistema’, ‘Legibilidade e layout’, ‘Flexibilidade e eficiência de uso’ e ‘Controle e liberdade do usuário’. “Ao responder o questionário, o desenvolvedor poderá saber qual nível de usabilidade o software está, no entanto ainda não é possível indicar especificamente em que ponto é preciso melhorar”, explica a professora Christiane. “A recomendação é que, a partir de um baixo desempenho no questionário, o desenvolvedor realize um teste de usabilidade, para identificar de forma mais aprofundada os problemas de usabilidade do seu aplicativo”, completa.
Entre os próximos passos da equipe, um deles já está sendo encaminhado, que é disponibilizar o questionário na internet, possibilitando que qualquer desenvolvedor de software possa medir rapidamente o nível de usabilidade do seu aplicativo para celulares touchscreen. A previsão é que até o final de julho o questionário esteja disponível gratuitamente no site do projeto: http://www.gqs.ufsc.br. Outro passo será comparar um caso medido pelo questionário com um teste de usabilidade envolvendo usuários, para verificar se as duas avaliações chegam a resultados semelhantes. Outro objetivo é atualizar o questionário continuamente. “A cada dia sempre surgem novos tipos de dispositivos e aplicativos, por isso a avaliação precisa acompanhar esta dinâmica”, finaliza a professora.
Sobre o prêmio
O Prêmio Dorgival Brandão Júnior da Qualidade e Produtividade em Software é uma iniciativa do Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade – PBQP Software, do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). O objetivo é destacar os projetos voltados para a melhoria da qualidade e produtividade do software brasileiro, em sete categorias ou estratégias. Este ano o prêmio será entregue durante o Simpósio Brasileiro de Qualidade de Software (SBQS) no dia 2 de Julho de 2013 em Salvador/BA.
Equipe do Projeto MATCH – Measuring Usability of Touchscreen Phone Applications – Customização de Heurísticas de Usabilidade para Celulares Touchscreen
Coordenadores:
Profa. Christiane Gresse von Wangenheim
Prof. Adriano F. Borgatto
Estudantes:
A. Talita Witt (aluna de TCC do INE)
Juliane V. Nunes (bolsista do GQS)
Thaisa C. Lacerda (aluna do INE – bolsista do GQS)
Luiz H. Salazar (aluno do INE – bolsista PIBIC 2011-2012)
Caroline Krone (aluno do INE – bolsista PIBIC 2012-2013)
Laís de Oliveira (aluno do INE – bolsista PIBIC 2012-2013)
Paulo Battistella (doutorando do PPGCC – Programa de Pós-Graduação em Ciência da Computação)
Mais informações:
– Website do projeto: http://www.gqs.ufsc.br/match-measuring-usability-of-touchscreen-phone-applications/
– Professora Christiane Gresse von Wangenheim: gresse@gmail.com
Laura Tuyama / Jornalista da Agecom / UFSC
laura.tuyama@ufsc.br
Fotos: Henrique Almeida / Agecom / UFSC e imagens de divulgação do projeto.