Estilo de vida pouco saudável aumenta risco de depressão em jovens, aponta estudo da UFSC

11/08/2025 08:41

Estudantes que praticam atividades físicas apresentam menos sintomas de depressão. Foto: Leticia Schlemper/Acervo Agecom/UFSC

Dados preliminares de um projeto com participação da Universidade Federal de Santa Catarina sinalizam que um estilo de vida pouco saudável entre jovens universitários indica maior probabilidade de levar a sintomas de depressão. O estudo faz parte do projeto Unilife-M, em que um “grupo de cientistas internacionais investiga como os comportamentos de estilo de vida e saúde mental mudam ao longo da jornada acadêmica e como essas mudanças estão associadas”. O diferencial da pesquisa é a possibilidade de acompanhar como as variáveis se relacionam ao longo do tempo.

O professor Thiago Matias, responsável pela pesquisa na UFSC e coordenador do Grupo de Pesquisa em Motivação e Movimento Humano (Motus), explica que a jornada na universidade produz diferentes impactos na vida dos jovens. Estes impactos, associados ao estilo de vida, são mapeados nas pesquisas. A iniciativa para a colaboração partiu do professor Felipe Barreto Schuch, da Universidade Federal de Santa Maria, e envolve 60 instituições em 20 países.

“Estilo de vida, no nosso contexto, são aspectos que envolvam comportamentos de saúde. Por exemplo, o quanto se pratica de atividade física, o que se come, como se dorme, como se relaciona, o tempo que passa em frente às telas. E aí a gente tem observado que essas alterações, positivas ou negativas, podem de alguma forma relacionar com a saúde mental deles”, explica o professor.

Em junho, a equipe coordenada por ele foi premiada em um congresso nacional pelo trabalho A complexidade de um estilo de vida negativo pode expor universitário à riscos importantes para a depressão.  Neste estudo são apresentados dados sobre o estilo de vida e a saúde mental, especialmente os sintomas de depressão. Além do professor, fazem parte da pesquisa, pela UFSC, os acadêmicos Tuane Sarmento, Renato Claudino e Jhonatan Wélington Pereira Gaia.

Dentre o corpus analisado pelo estudo, três perfis de estilo de vida foram observados entre jovens. Os mais saudáveis, que chegam a 42,3% dos sujeitos da pesquisa, um grupo pequeno que combina aspectos bons e ruins , com 13,7%, e um grande grupo com perfil de risco para o estilo de vida, com 44%. “A gente observa que esse grupo com o pior estilo de vida, comparado ao mais saudável, está mais exposto e tem uma probabilidade maior de ter sintomas moderados e graves de depressão”, comenta Thiago.

O professor explica que o dado é bastante significativo porque os cientistas têm observado que mais de 50% dos universitários brasileiros apresentam o que se chama de triagem positiva para a sintomatologia de depressão. “Triagem positiva não é um diagnóstico, mas é um alerta muito forte de que tem muita gente com chances bem altas de ter sintomas moderados e graves de depressão.”

Abordagem inovadora

Sintomatologia de depressão é alta entre jovens universitários investigados no estudo

O professor explica que essa é uma abordagem bastante inovadora, porque analisa o agrupamento do estilo de vida e não apenas um indicador. Além disso, chama atenção para um problema de saúde pública, que aponta para o quanto escolhas do estilo de vida podem expor os jovens à depreciação da saúde mental.

Na amostra total, mais da metade dos jovens, um grupo de 54,4%, teve triagem positiva para sintomatologia de depressão. Na análise de subgrupo esse número sobe para 68,6% no grupo bom/ruim e 66,1% no grupo de risco.

Na análise ajustada para evitar que os dados possam ser distorcidos por variáveis, o risco para depressão é de 3,47 no grupo bom/ruim e 3,33  no grupo de risco, quando comparado com os estilos de vida mais saudáveis.  Em linhas gerais, isso significa que os estudantes nos grupos com estilos de vida menos saudáveis possuem três vezes mais chances de apresentar sintomatologia de depressão em comparação com o grupo de estilo de vida mais positivo.

“Já existem evidências de que o estudante que se exercita menos pode estar mais suscetível a sintomas de ansiedade, depressão e mais stress e que a alimentação influencia muito na saúde mental. Mas a gente não tem muita clareza de como isso acontece ao longo do tempo”, explica o professor. Além disso, a literatura disponível sobre o assunto indica um processo importante de adoecimento dessa população de jovens.

“Temos observado que boa parte dos transtornos mentais que esses jovens vão enfrentar acontecem justamente nesse período. Tem uma coincidência entre a fase que eles entram na universidade e também o surgimento de boa parte dos transtornos mentais. A gente quer entender o que acontece e se a a exposição a esse essas alterações do estilo de vida influenciam de alguma forma esses sintomas de transtorno mental”, pontua o professor.

UFSC também é estudada

Os universitários da UFSC também compõem a investigação, tendo como foco grupos de calouros dos anos de 2023 e 2024. Eles responderam questionários com perguntas referentes tanto ao estilo de vida quanto a sua saúde mental e aspectos de caracterização geral. O professor explica que esses alunos, todos os anos, vão novamente responder a esses formulários, completando o seu ciclo de formação, o que caracteriza um estudo longitudinal.

Além disso, os acadêmicos também são convocados a realizar testes físicos no Centro Desportos da UFSC, onde eles fazem testes de aptidão física. “A coleta tem essa essa característica longitudinal. Atualmente, mais de 500 alunos já foram investigados. Esses alunos agora estão nesses ciclos de recoleta anual”, explica. Este processo é automatizado, com os estudantes recebendo links para responder os questionários e uma posterior convocação para a realização dos testes.

Dados de mais de 50 mil adolescentes da América do Sul foram estudados (Imagem de Nino Souza Nino por Pixabay)

Sedentarismo

O grupo Motus também foi premiado por um outro trabalho no Congress on Brain Behavior and Emotions, uma colaboração internacional com agregação de dados de saúde. Nesta investigação, a equipe analisa dados de atividade física e de “tempo sentado”, o que se chama de comportamento sedentário.

“É um grande observatório em  que a gente é responsável por analisar e gerar pesquisa sobre como está a saúde da população da América do Sul”, comenta. No artigo premiado, dados de mais de 50 mil adolescentes da América do Sul foram analisados, em 11 países.

“O que a gente observa é que há, nesse grupo, uma alta prevalência de estudantes que passam muito tempo em comportamento sedentário. E a gente já sabe há muito tempo que comportamento sedentário pode resultar em prejuízos à saúde”, explica.

O que o estudo buscou entender é o quanto que esse tempo pode colocar esses adolescentes sob risco para para adoecimento psicológico. “Há mais de 40% dos estudantes da América do Sul que passam muito tempo em comportamento sedentário. Esse tempo pode aumentar em até 53% a chance de ele ter algum sofrimento psicológico”, resume o professor, responsável pelo estudo junto com o acadêmico Jhonatan Wélington Pereira Gaia e com cientistas de outras instituições.

Amanda Miranda | amanda.souza.miranda@ufsc.br
Jornalista da Agecom | UFSC

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