Especialista do HU alerta sobre riscos de infecções sexualmente transmissíveis no Carnaval
Os encontros e festas que acontecem durante o Carnaval chamam a atenção para formas de prevenção relacionadas a casos de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST). Mesmo com o cancelamento das festas e as medidas de distanciamento impostas pela pandemia, os cuidados e as medidas de prevenção devem ser mantidos. O ginecologista Luiz Fernando Sommacal, do Hospital Universitário Professor Polydoro Ernani de São Thiago (HU/UFSC), alerta sobre a influência do Carnaval na incidência de ISTs e outros dados que apontam o crescimento dos casos de infecção no Brasil.
Sommacal lembra que, na prática, muitas destas doenças são subnotificadas. “A minha opinião é que em todos os feriados festivos, em que há este apelo ao sexo e à exposição do corpo, nós temos este incremento natural, mas cientificamente não encontramos artigo que possa endossar esta relação”, explicou. As ISTs, de 60% a 80%, ocorrem em população jovem, considerando a faixa de 15 a 25 anos. Se for considerado uma faixa ampliada, dos 15 aos 49 anos, a frequência é maior, com prevalência de notificação para cada dois homens, uma mulher.
Conforme o especialista, houve um aumento no número de adultos e idosos afetados por ISTs. Atualmente, no Brasil, há 4,4 milhões de casos de tricomoníase, 1,9 milhão de casos de clamídia, 1,5 milhão de gonorreia e 931 mil de sífilis. A Organização Mundial de Saúde (OMS) estima que existem 340 milhões de casos de sífilis, gonorreia, clamídia e tricomoníase e um milhão de casos novos por dia de infecções de transmissão essencialmente sexual, exceto o HIV e hepatites, que vêm crescendo na mesma frequência.
Para Sommacal, estes dados têm causa multifatorial. Ele aponta, por exemplo, no caso de idosos, o comportamento sexual de risco, insegurança sobre a sexualidade, baixo índice de uso de preservativos (somente 47% dos homens usam e o percentual de adesão por parte das mulheres é baixo), uso de álcool e drogas que reduzem a inibição e, como dado relevante, o surgimento de medicações para tratamento de disfunção erétil. “Esta população mais idosa, que não tem ou não viveu uma cultura de tanta informação sobre estas ISTs, acabou sendo usuária destes medicamentos para tratar disfunção erétil, que trouxeram novas possibilidades de contatos sexuais”, analisou, ressaltando que realmente aconteceu este aumento no caso de adultos e idosos acometidos por infecções sexualmente transmissíveis. “Foi um aumento exponencial e não aritmético”, disse.
ISTs e pandemia
O professor Luiz Fernando Sommacal acha que ainda é cedo para falar sobre o impacto da pandemia no número de infecções transmitidas por via sexual. Para ele, o que é notório é que está havendo uma subnotificação devido à dificuldade de acesso ao sistema de saúde, que está em boa parte focado no combate à pandemia. Assim está havendo uma redução em níveis relativos, que não reflete provavelmente os números absolutos destas ISTs.
Outro dado importante neste cenário é que, segundo a OMS, aumentou o número de encontros por aplicativos. Por outro lado, existe um estudo que foi realizado no Acre que apontou uma redução de 27% dos casos durante a pandemia e nos Estados Unidos uma pesquisa mostra que houve redução da clamídia e gonorreia durante a pandemia. “Objetivamente, há uma tendência de esperarmos esta redução, mas é um viés de interpretação, como é chamado em epidemiologia. O fato de aglomerarmos menos, poderia gerar esta redução, mas, particularmente, não acho que isso sirva para todas as infecções. De qualquer forma, acho prematuro”, ressaltou.
Casos de ISTs em Santa Catarina
O fato de Florianópolis receber turistas de todo o Brasil e de países vizinhos, por ser uma cidade litorânea, com população jovem, além de cidades que costumam atrair visitantes em busca de festas, como Itajaí e Imbituba, torna razoável esperar que em Santa Catarina ocorra aumento no número de casos de notificações de IST em datas festivas. Sommacal aponta dados da pesquisadora Adele Schwartz Benzaken que estimam que no Brasil existem 112 mil pessoas que têm HIV e não sabem, 260 mil pessoas com o vírus e que não tratam e 827 mil pessoas que convivem com a doença.
O especialista aponta que a sífilis congênita (aquela em que a criança nasce com os estigmas da doença não rastreada e não diagnosticada e não adequadamente tratada na gravidez) aumentou em 200%. “Sim, é de se esperar que haja um aumento de IST em cidades onde há praias e onde o apelo ao turismo se dá pelo atrativo das pessoas, baladas, locais de festas com uso de drogas”, afirmou.
De acordo com Sommacal, o indivíduo deve procurar o posto de saúde toda vez que se expõe a uma atividade sexual insegura ou de risco para realizar os testes mínimos, sendo que para cada IST há uma metodologia de rastreio e um tempo que chamamos de silêncio sorológico. “No caso do HIV, ele vai dar positivo em 14 dias. Para sífilis, cerca de três semanas. Para clamídia, sete dias. Gonorreia, quatro dias. Então temos um tempo necessário para que se torne positivo”, detalhou.
Texto: Unidade de Comunicação Social HU/UFSC