Pesquisadores da UFSC testam protótipo de reanimador mecânico automatizado
Professores e pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) estão trabalhando no aprimoramento de um protótipo de automatização de um reanimador mecânico de uso hospitalar, conhecido popularmente como ambu. Depois de aprovado em todos os testes, o equipamento poderá ter vários de seus componentes produzidos em diversos pontos do País por intermédio de uma rede de manufatura distribuída. O ambu é um equipamento composto por um balão de ar autoinflável acionado manualmente, usado no socorro de pessoas com dificuldades respiratórias, um sintoma comum em casos graves de Covid-19.
O ambu automatizado desenvolvido no Brasil é um dos produtos do Fasten Vita, projeto do Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Pesquisa e Desenvolvimento do Brasil (Inesc P&D Brasil). O Inesc é uma associação privada sem fins lucrativos dedicada à cooperação em pesquisa, desenvolvimento e transferência de tecnologia em áreas da engenharia. É integrado por 19 universidades federais e estaduais do Brasil, entre elas a UFSC e a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc).
O protótipo brasileiro é uma adequação e nacionalização de um reanimador automatizado produzido em Portugal pelo Inesc TEC, com base em um projeto aberto do Massachusetts Institute of Technology (MIT). O aperfeiçoamento conduzido no Brasil envolve testes de funcionamento e adaptação de peças e componentes encontrados no mercado nacional ou que possam ser facilmente produzidos.
As primeiras versões do aparelho, chamado de Vita Pneuma, passaram por uma avaliação com a equipe da biomédica no Hospital São Lucas de Porto Alegre. Atualmente, o protótipo está em sua terceira versão e passando por testes no Laboratório de Eletromagnetismo e Compatibilidade Eletromagnética (MagLab), do Departamento de Engenharia Elétrica e Eletrônica do Centro Tecnológico da UFSC. Foram realizados ensaios de compatibilidade eletromagnética e segurança elétrica, para avaliar as emissões e a imunidade do equipamento.
O MagLab está capacitado para realizar uma série de serviços de pré-certificação e desenvolvimento de equipamentos eletroeletrônicos, voltados para verificação de conformidade a normas de diversos órgãos e agências governamentais, entre elas a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Depois, o equipamento será enviado para testes pré-clínicos em uma unidade de saúde da Universidade Federal de Sergipe (UFS), na cidade de Lagarto. Se os resultados desses testes forem positivos, o Pneuma Vita passará para os testes “in vivo” em hospitais e laboratórios.
“A ideia é desenvolver um equipamento para dar suporte respiratório aos pacientes antes da intubação”, explica o professor Rodrigo Antonio Marques Braga, do Departamento de Expressão Gráfica (EGR), que tem formação em engenharia de controle e automação. O ambu automatizado poderá ser usado em enfermarias e hospitais, mas os pesquisadores já estão estudando a possibilidade de desenvolver um aparelho com baterias para ser usado no socorro e transporte de pessoas com dificuldades respiratórias.
O objetivo dos desenvolvedores é fabricar muitos protótipos para serem usados em alta escala de testes, com o objetivo de mostrar a viabilidade do aparelho. Com isso, ele poderá ser produzido por empresas certificadas pela Anvisa.
Fabricação remota
Os protótipos deverão ser produzidos na rede de manufatura descentralizada mantida pelo Inesc. Assim, peças para montagem dos produtos podem ser fabricadas remotamente por impressoras 3D, máquinas de corte a laser ou de usinagem de laboratórios instalados em vários locais do País. Quando estas máquinas se conectam à rede Fasten Vita, podem receber tarefas para executar diretamente do servidor da rede.
Atualmente, o projeto Fasten Vita envolve mais de 40 pesquisadores de 12 universidades brasileiras, além de colaboradores do Inesc. Destes, 13 são ligados à UFSC, sob a coordenação do professor Mauro Augusto da Rosa, diretor de Ciência e Tecnologia do Inesc P&D Brasil e professor no Departamento de Engenharia Elétrica na UFSC. Além do ambu automatizado, o Fasten Vita também tem projetos para produção de protetores faciais (face shields), máscara de ventilação não invasiva – Spirandi, cabines de isolamento e cabines de desinfecção de máscaras N95 por radiação ultravioleta (UV). “Nosso objetivo é reduzir os impactos da pandemia”, afirma o professor Tarso Vilela Ferreira, da Universidade Federal de Sergipe (UFS).
Todos esses produtos podem ser fabricados localmente em diversos pontos do País através da rede de manufatura distribuída do Fasten Vita. Por enquanto, os custos do projeto têm sido bancados pelo Inesc, mas os pesquisadores envolvidos estão em busca de doações e pretendem lançar uma campanha de financiamento coletivo com o objetivo de obter recursos para que os produtos do projeto Fasten Vita possam ser fabricados em larga escala e doados às unidades de saúde.
Luís Carlos Ferrari / Agecom / UFSC