UFSC na Mídia: saiba mais sobre os estudos da UFSC com a estrutura da Ponte Hercílio Luz

02/01/2020 11:54

Reitor Ubaldo assina, juntamente com governador Carlos Moisés, o termo de cessão de uso da peça estrutural da Ponte Hercílio Luz, para estudos. (Foto: Ricardo Wolffenbuttel/SecomSC)

A Ponte Hercílio Luz, reinaugurada em 30 de dezembro de 2019, será objeto de estudos na UFSC, graças à cessão de uso de uma barra de olhal, estrutura de sustentação da ponte, rompida nos anos 70. Os estudos sobre os motivos que levaram a essa ruptura foi matéria no encarte especial do jornal Notícias do Dia, publicado em 27 de dezembro. Confira a matéria abaixo e entenda melhor como serão os estudos. 

Foto: Divulgação/Notícias do Dia

Uma investigação a caminho

O que causou a ruptura da barra de olhal que levou ao fechamento da ponte Hercílio Luz, em 1982 e a interdição definitiva da travessia, em 1991? Essa pergunta intriga engenheiros, mas não só eles – a população de Florianópolis gostaria de entender as razões pelas quais a peça rompeu e colocou a pesada estrutura, calculada em cinco mil toneladas sob o risco de colapso. A resposta deverá ser dada dentro de alguns meses pelo Grupo de Análise e Projetos Mecânicos (Grante), do Departamento de Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Uma série de ensaios e análises químicas vai tentar mostrar o que levou a peça a se partir e deixar a ponte a perigo, no início da década de 1980. O professor Edison da Rosa, que já foi diretor do Centro Tecnológico da UFSC (CTC), explica que durante quase 40 anos, a partir da entrega da obra, em 1926, a manutenção deixou a desejar. Isso só mudou a partir da década de 1960, quando uma equipe contratada para esse fim passou a cuidar da estrutura, embora pouco fizesse além de remover os focos de ferrugem e pintar a ponte, dando-lhe a aparência de nova.

Ele recorda de um episódio que assustou os usuários quando um estouro, seguido de uma forte sacudida, ocorreu no início dos anos de 1980. “Como não passou disso, o caso foi esquecido, mas o governo do Estado encomendou ao Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo (IPT/SP) a elaboração de um laudo que mostrou o avançado estado de corrosão e recomendou a interdição”, conta o professor. Nenhuma anomalia além do citado estouro foi constatada, porque a ruptura ocorreu dentro da cela, no alto da torre, num ponto acessível apenas aos operários que trabalhavam na ponte.

Depois desse fato, um funcionário que fazia a manutenção subiu nas torres do lado insular e percebeu uma fresta numa das barras de olhal, tomada por ferrugem. “Intrigado, ele removeu a sujeira e descobriu uma brecha que não deveria estar ali”, diz o professor Edison. Era a barra de olhal que havia cedido ao peso da estrutura, que não veio abaixo porque as outras três torres resistiram à pressão que resultou do colapso da peça.

Todos em busca da mesma resposta

Com grande experiência na área de Engenharia de Materiais, o professor Pedro Bemardini explica que o trabalho da equipe do Grante será identificar as características do aço utilizado, a sua composição química, a microestrutura, propriedades, resistência à tração e tenacidade, para verificar se tudo estava de acordo com o que foi especificado na época da construção da ponte. “Nossas investigações vão tentar responder às dúvidas existentes e descobrir o tipo de dano que houve no olhal”, diz ele. Ninguém até agora havia tido acesso à peça trancada, que foi substituída, assim como muitas outras, na reforma da ponte. As possibilidades incluem problemas de fabricação, corrosão ou fadiga da peça. Também pode haver mais de um fator que contribuiu para desencadear o
problema. “Queremos mapear essas possibilidades, usando microscópios eletrônicos”, complementa o professor Edison da Rosa. Foi a colaboração dada na busca de soluções, ao longo das últimas décadas, que levou o Estado a dar primazia à Universidade na análise da barra de olhal rompida. A peça era disputada pela Steimann, construtora da ponte, por universidades americanas e por
instituições de pesquisa no Brasil. “O governo priorizou a UFSC, que tem um dos melhores cursos de Engenharia Mecânica da América Latina”, diz Luiz Galvão, funcionário público aposentado que lidera o movimento pela recuperação da Hercílio Luz como patrimônio e símbolo de Santa Catarina.

Uma ponte nova para a cidade

O fato de haver resistido a uma carga maior que suas congêneres e ter sobrevivido a um ambiente altamente corrosivo fazem da Hercílio Luz um case de sucesso. De concepção idêntica, as americanas Tacoma Narrows Bridge, no estado de Washington, que caiu em 1940, e Solver Bridge. em Ohio, que colapsou em 1967, matando 46 pessoas, não resistiram aos ventos e à sobrecarga,  respectivamente, e deixaram no ar uma interrogação: até quando a Chamada “Ponte de Florianópolis”(assim chamada porque tem características construtivas peculiares) poderia resistir? O fato é que os florianopolitanos vão ver de perto a partir da reabertura uma ponte praticamente nova.

 

Paulo Clóvis Schmitz / jornal Notícias do Dia

Veja também o especial da TV UFSC com os engenheiros do Grante/UFSC

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