Egressos da UFSC se destacam no futebol profissional

Formado em Educação Física pela UFSC, Márcio Coelho atua como técnico do Figueirense – Foto: divulgação
Na próxima semana, no dia 23 de janeiro, Márcio Coelho tem seu jogo de estreia como técnico do Figueirense, na partida contra o Juventus pelo Campeonato Catarinense. Ele é um dos – pelo menos – 22 egressos do Centro de Desportos (CDS) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) que atuam em equipes de futebol profissional, segundo levantamento realizado pelo secretário de Esportes da Universidade e coordenador do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Futebol e do Futsal (Nupedeff) Juliano Fernandes da Silva. A maioria está no futebol catarinense, mas há também ex-alunos no Athletico Paranense, no Paraná Clube e no Internacional de Porto Alegre. As funções são as mais variadas. Há técnicos, auxiliares, preparadores físicos, fisiologistas e analistas de desempenho, além de um coordenador de Modelo de Jogo e Metodologia de Treinamento e um gerente geral das categorias de base.
“Até pouco tempo atrás, esse mercado de treinadores era ocupado apenas por ex-jogadores. Além disso, era muito comum virem profissionais de fora trabalhar em funções de preparação física, análise de desempenho e fisiologia. Hoje, a UFSC está conseguindo suprir as necessidades de Santa Catarina, assim como os profissionais formados aqui estão ocupando espaço em outros estados”, comenta Silva. Para Coelho, a formação acadêmica foi fundamental em sua trajetória profissional. Graduado em Educação Física em 2006, começou a trabalhar no Figueirense em 2011 com a categoria sub-13. Depois passou pela sub-15, pela sub-17 e pela sub-20, antes de chegar à equipe principal, na qual atuou como auxiliar técnico até que, em dezembro de 2019, foi anunciado como treinador.
“A Universidade me deu a base de muitas das coisas que hoje coloco em prática, trouxe novas perspectivas, ampliou minha visão em diversas situações. Sou muito agradecido, e ainda me lembro da influência de vários professores”, afirma Coelho, que destaca principalmente o papel da professora Rosane Carla Rosendo da Silva, que ministrou as disciplinas de adaptações orgânicas ao exercício, treinamento esportivo e fisiologia. “Ela me influenciou muito, e a carrego com muito carinho”, enfatiza.
Além do técnico, a equipe profissional do Figueirense conta com um auxiliar técnico, um preparador físico e um analista desempenho egressos da UFSC, enquanto o Avaí tem em seu quadro dois preparadores físicos, um fisiologista e três analistas de desempenhos formados no CDS. O Joinville e o Clube Atlético Tubarão também possuem fisiologistas que passaram pela Universidade. Isso sem contar os egressos que hoje atuam nas categorias de base dessas equipes.
Ensino, pesquisa e extensão
A participação nas atividades de pesquisa e de extensão ao longo da graduação foi determinante para a trajetória profissional de Gabriel Dutra, analista de desempenho e de mercado do Avaí. Um dos responsáveis pelas análises quantitativas e qualitativas dos jogadores do próprio clube e dos adversários, com vistas a subsidiar as estratégias montadas pela comissão técnica, e pela coleta de dados que colaborem para a seleção de novos jogadores para reforçar o time, Dutra começou no Leão da Ilha como estagiário, em 2016. Logo que finalizou a graduação, no início de 2019, foi efetivado pelo clube.
A vontade de trabalhar com futebol já era anterior à entrada no curso. O trabalho como repórter esportivo no interior do Rio Grande do Sul o levou a optar pela faculdade de Educação Física da UFSC. Foi no Nupedeff, contudo, que pôde contemplar melhor as possibilidades de trabalho na área. Fundado em 2017, o Núcleo tem como objetivo desenvolver trabalhos científicos e projetos de extensão que abordem diversos aspectos que englobam o futebol e o futsal, incluindo variáveis que possam influenciar aspectos técnicos, táticos, cognitivos e físicos dessas modalidades em diferentes categorias. “A nossa ideia a partir do Nupedeff é formar profissionais que possam atuar com futebol frente às demandas atuais”, comenta Silva.
Os alunos integrantes do projeto, além de participarem das atividades de pesquisa, compõem as comissões técnicas das equipes de futebol e futsal femininas e masculinas da UFSC. Cada um tem uma função: técnico, auxiliar, preparador físico e preparador de goleiros. “São dois treinos semanais, mas os alunos que fazem parte da comissão técnica permanecem bastante tempo estudando vídeos, artigos e outros materiais para fundamentar seus treinos. Além disso, eu acompanho os treinos dando feedbacks e auxiliando eles”, explica o secretário de Esportes.

Projetos de extensão do Nupedeff incluem treinamento das equipes femininas e masculinas – Foto: divulgação
Dutra foi bolsista de Iniciação Científica, participou dos treinamentos das equipes de futebol como técnico e preparador físico e ainda frequenta as reuniões semanais do Núcleo. “A UFSC nos proporciona professores do mais alto nível e experiências muito próximas das que vamos encontrar no mercado”, relata. O analista também destaca a importância das redes de contatos que criou tanto nos laboratório e nas salas de aula da Universidade como nos congressos e seminários dos quais participou enquanto bolsista.
Para Silva, o mercado do futebol vem passando por um período de renovação. “Basta ver o grande número de estrangeiros que está vindo trabalhar no Brasil. Sendo assim, a Universidade, como um ambiente de produção de conhecimento, também deve ser um local de formação desses novos profissionais. Mas para isso é necessária uma formação sólida com experiências práticas em projetos de extensão. A partir dessa experiência inicial, os acadêmicos estão mais preparados para ingressar nos clubes por meio de estágios e buscarem seus espaços”, salienta.
Laboratório de Esforço Físico
Outro ambiente da Universidade que vem colaborando com a formação dos profissionais do futebol é o Laboratório de Esforço Físico (Laef). Desde 2006, seus integrantes trabalham com pesquisa básica e aplicada sobre atividade física e índices fisiológicos relacionados à saúde e ao desempenho humano. Os trabalhos envolvem alunos de graduação e pós-graduação.

Preparador físico do Avaí, Jaelson Ortiz fez o mestrado e o doutorado na UFSC – Foto: André Palma Ribeiro/Avaí FC
O preparador físico do Avaí Jaelson Ortiz, graduado em Educação Física pela Faculdade Metodista de Santa Maria, foi um dos que buscou o Laef pensando em aprimorar suas práticas profissionais. Ortiz começou a frequentar as reuniões do grupo em 2011. Essa foi, segundo ele, uma oportunidade de agregar às suas experiências “informações atualizadas dentro do conhecimento científico, relacionadas ao preparo físico, ao desenvolvimento e à performance de atletas não só no futebol, mas de outros esportes também”.
No ano seguinte, ingressou no Mestrado em Educação Física da UFSC, orientado pelo professor Fernando Diefenthaeler e com coorientação do professor Luiz Guilherme Antonacci Guglielmo. Nessa etapa, estudou os efeitos do treinamento de futebol recreacional sobre indicadores fisiológicos, neuromusculares e bioquímicos em mulheres não treinadas. No doutorado, sob orientação de Guglielmo e coorientação do professor Ricardo Dantas de Lucas, teve a oportunidade de aproximar ainda mais a pesquisa de suas práticas profissionais, ao avaliar aspectos da performance de jogadores da categoria sub-20 e do elenco profissional do Avaí. “Todo o conhecimento científico foi, está e estará sendo transferido para a minha prática no futebol. E não só eu usufruo do conhecimento, mas tenho a missão de transferir esse conhecimento para os demais profissionais do clube. A transferência de conhecimento é fundamental para que a ciência e o campo profissional cresçam”, destaca o preparador.
Camila Raposo/Jornalista da Agecom/UFSC