Professores da UFSC falam sobre ‘Física Quântica’ e ‘Café’ em evento de divulgação científica

18/05/2018 16:52

O Pint of Science 2018, evento internacional destinado à divulgação científica em bares e restaurantes, ocorreu pela segunda vez em Florianópolis, com a participação de professores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Débora Peres Menezes, professora titular do curso de Física da UFSC, onde atua há quase 30 anos, falou sobre a Física Quântica e sua aplicação no cotidiano para o público presente no Mercado São Jorge, bairro Itacorubi. Rui Prediger, professor titular do departamento de Farmacologia, abordou o impacto do café na saúde, no Boteco Bacana, bairro Santa Mônica. As duas palestras ocorreram na quarta-feira, 16 de maio, último dia do evento.

Física Quântica

Professora Débora Menezes fala sobre Física Quântica. Foto: Andréa de Lima Pimenta/Divulgação.

A Física Quântica requer um formalismo matemático rigoroso, tudo é desenvolvido a partir da metodologia científica. Uma pessoa faz uma conta; outra faz a mesma conta; depois alguém faz uma experiência para validar essa conta… e depois de tudo isso, aí sim chegamos à conclusão de que aquilo é uma verdade científica”, afirmou a pesquisadora Débora Peres Menezes, ao final da sua apresentação para um público de cerca de 150 pessoas.

A professora explicou o que seria a “ciência revolucionária” e como se deu a passagem da Física Clássica para a Física Quântica, desmistificando algumas ideias equivocadas que se tem dessa última. “A Física Quântica não é probabilística porque é difícil ou complicada, mas sim porque é uma teoria ondulatória. Quem sabe onda já está a meio caminho para aprender Física Quântica, que tem característica de onda. Isso não significa que a Mecânica Quântica seja imprecisa, o que é outro jargão que se ouve por aí.”

O método científico, segundo Débora, não dá margem pra “acharmos” nada: “O achismo é uma praga nacional. Com a internet, então, todo mundo acha alguma coisa. E acha imbuído de argumentos que não têm nada de científico. As pessoas poderiam ter pelo menos a humildade de achar só aquilo sobre o que elas têm conhecimento. Na ciência, pelo contrário, os fatos são comprovados cientificamente porque seguiram uma metodologia científica, o que significa que, se eu fizer uma experiência, outra pessoa vai fazer a mesma experiência e vai chegar no mesmo resultado. Se isso não acontece, não é ciência.”

Para a pesquisadora, saber sobre ciência afeta as decisões que tomamos no dia a dia: “A Física Quântica está por tudo. Emendar um fio elétrico só é possível por causa da Física Quântica. Leitura de código de barras, transistores; chips das placas do computador, do celular… GPS, DVDs, Blu-ray, exames médicos… tudo isso está cheio de informações quânticas.”

Café na medida certa

Rui Prediger iniciou sua apresentação comentando a história da origem dessa bebida estimulante que, segundo relatos, foi descoberta no século VII por um pastor da Etiópia, após notar comportamentos estranhos em cabras que comiam folhas de uma certa planta. Em seguida, apontou outros produtos que utilizam cafeína na composição, como refrigerantes e energéticos.

Após a introdução, a conversa chegou ao foco principal: as consequências do café no organismo. Segundo Prediger, a cafeína atua no sistema nervoso central, e os efeitos iniciam entre 10 e 15 minutos após o primeiro gole, neutralizando a ação da adenosina, molécula responsável por estimular o sono. Por consequência, há um aumento na produção de dopamina e adrenalina, dois neurotransmissores. Esse processo ajuda a melhorar a atenção, concentração, memória, estado de alerta e diminui a sensação de cansaço mental. No entanto, também pode trazer riscos caso seja ingerida em excesso, acima de 400 ml por dia (medida para adultos), causando ansiedade, insônia e dependência.

Quanto ao uso da cafeína em tratamentos de doenças que atacam o sistema nervoso central, o pesquisador levanta resultados expressivos. De acordo com o estudo, a ingestão diária de 3 a 4 xícaras diminui de 9 a 20% o risco de depressão e 53% as chances de suicídio. Em contrapartida, oito ou mais xícaras por dia causam um efeito contrário, elevando a probabilidade de suicídio em 58 %.

Esta foi a segunda vez que Rui Prediger participou do evento, pois já havia palestrado no ano passado. “Em 2017, participei na Lagoa da Conceição. Percebi que o evento cresceu em 2018. A ciência normalmente é discutida apenas dentro do laboratório da universidade, e para população em geral parece algo distante. Quando você traz isso para uma linguagem mais acessível, você vê que tem um feedback legal. As pessoas têm dúvidas, perguntam. Bastante gente participa. Em Florianópolis temos excelentes cientistas, mas como não estamos no eixo Rio-São Paulo, pouco aparecemos na mídia. Então esse evento ajuda o público a conhecer nosso trabalho”, relata Prediger.

Sobre o Pint of Science

O Pint of Science surgiu em 2013, na Inglaterra, e rapidamente se espalhou pelo mundo — em 2018 o evento ocorreu em 21 países. A primeira edição no Brasil surgiu em 2015, em São Carlos (SP), e hoje já está presente em todas as regiões do país. O evento chegou em Florianópolis em 2017 por iniciativa das professoras Andréa de Lima Pimenta, que atua no departamento de Engenharia Química e Engenharia de Alimentos (EQA) e no departamento de Odondologia da UFSC; e Larissa Zeggio, da Faculdade de Ciências, Educação, Saúde, Pesquisa e Gestão (Censupeg). As pesquisadoras estão felizes com o resultado, com a ampla participação do público, e pretendem organizar também a edição de 2019.

Para a professora Débora Peres Menezes, iniciativas que promovem a divulgação científica são super importantes: “É o retorno social, já que nossas pesquisas são financiadas pelo governo, com dinheiro público. É importante divulgar a ciência, mas também é difícil. Sobretudo porque é algo pouco valorizado. Quando vamos concorrer para conseguir auxílio de órgãos de fomento, ninguém pergunta se fazemos divulgação científica. O que importa é quantos papers publicamos, qual o fator de impacto das revistas.”

Débora afirma que, apesar de considerar fundamental, entende que os pesquisadores acabam não fazendo por não ser valorizado. Ela mesma não se dedicou muito à divulgação científica no início da carreira: “Comecei a ter essa preocupação quando meu filho era criança. Tentava explicar as coisas pra ele e vi que não eram triviais, que isso precisava ser feito.” Hoje a pesquisadora coordena um projeto de extensão destinado à divulgação científica. “Todo começo de semestre um professor é convidado para falar de um assunto de ponta para o público leigo. E sempre temos um auditório de 200 pessoas abarrotado. Isso mostra que as pessoas realmente têm interesse.”

Alan Christian /estagiário de Jornalismo da Agecom/UFSC

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

 

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