Alunos classificados pelas cotas sociais e raciais realizam validação da autodeclaração na UFSC

21/02/2018 11:24

Para grande parte dos alunos que ingressam na Universidade, passar pelo processo seletivo não é a etapa final. Um longo caminho acompanha os futuros alunos que entraram pelas cotas, no Vestibular ou SiSU. Os dias em que são realizadas as validações das autodeclarações marcam os últimos momentos de apreensão e o alívio de finalmente se matricular e fazer parte da comunidade universitária. 

Angie veio de Porto Alegre para cursar Cinema, pois em seu estado o curso não é oferecido na universidade federal. Ainda na sala de espera, ela passaria por duas comissões: de renda – para os candidatos classificados nas categorias escola pública, renda familiar bruta mensal igual ou inferior a 1,5 salário mínimo per capita –  e PPI (autodeclarados pretos, pardos ou indígenas). “Tô muito nervosa pra passar nessas comissões, mas creio que vai dar tudo certo. É muito documento, não sei se tenho maturidade pra fazer tanta documentação”, conta Angie, rindo. 

Angie espera ser atendida pela comissão. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

A comissão para validação da autodeclaração de Pretos, Pardos e Indígenas é a mesma que analisa os candidatos provenientes das vagas suplementares do vestibular para negros. A comissão, que já existia desde 2008, foi extinta em 2014 e voltou esse ano. Francis Tourinho, secretária de Ações Afirmativas e Diversidades da UFSC, explica que esse retorno se deve a questões internas, como denúncias de fraudes; e questões externas como a solicitação do Ministério Público. A comissão é formada por servidores da universidade, estudantes e representantes do movimento negro externo à Universidade. A análise é a partir do fenótipo, ou seja, a aparência, e não a ascendência. Mas Francis esclarece que a comissão funciona mais como um acolhimento do que uma verificação: “Eles chegam, são acolhidos na sala de espera e a gente explica a importância que a vaga seja realmente pra quem é de direito pela lei. A comissão é uma conversa”.

A validação das autodeclarações de indígenas e quilombolas é feita através da comprovação de pertencimento à etnia. O candidato indígena deve trazer uma declaração da liderança da comunidade à qual pertence, assegurando que está culturalmente inserido nela. A comissão é formada por antropólogos, representantes da Funai e de etnias indígenas. Os quilombolas devem declarar pertencimento às comunidades remanescentes dos quilombos, reconhecidas pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra). A comissão conta com representantes do movimento negro e do Incra.

Camile, de 17 anos, veio de Itajaí para fazer a validação da autodeclaração de renda para o curso de Farmácia. Ela, que tinha acabado de ser aprovada no processo, conta com um sorriso tranquilo como foi a sua experiência: “É difícil, principalmente na hora de correr atrás da documentação. É bastante coisa, a gente fica nervosa. Mas é bem tranquilo depois que tu faz”.

Camile, caloura de Farmácia. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

No campus de Florianópolis, são cerca de 25 comissões para avaliação de renda, além dos quatro campi do interior, cujas validações ocorrem ao mesmo tempo. As comissões de renda são formadas por servidores da universidade que participaram de um curso para formação de validação de renda, muitos deles contadores e assistentes sociais. As pessoas responsáveis pela validação são nomeadas em uma Portaria.

Sala de espera para atendimento na comissão de validação de renda. Foto: Ítalo Padilha/Agecom/UFSC

Em 2018, uma nova modalidade foi incluída na divisão por cotas: pessoas com deficiência, ainda dentro do recorte das vagas reservadas para alunos oriundos de escola pública. Lucas Vinicio, 18 anos, é cadeirante, já mora em Florianópolis  e conta que escolheu o curso de Jornalismo por dois motivos: dar mais voz às pessoas com deficiência, que têm pouquíssimos representantes na mídia, e agir sem esperar pelos outros, com um papel efetivo naquilo que acredita. As expectativas, ele diz, são as melhores possíveis.

Miriam é mãe de Gustavo e foi fazer por procuração a matrícula do futuro aluno do curso de Física, que possui deficiência visual. “Ele não vê a prova, vê o que a outra pessoa está descrevendo pra ele, então depende muito de como a outra pessoa está interpretando. Então não é justo ele competir com uma pessoa que pode ler e interpretar. Então a cota abre uma possibilidade enorme”. Além da dificuldade na prova, ela fala sobre os diversos obstáculos na formação de Gustavo, que sempre estudou em escola pública. Ela conta que teve que entrar na justiça para conseguir matricular seu filho no ensino fundamental, pois o diretor lhe dissera que a escola não tinha condições de aceitá-lo. Desde então, manteve-se lutando para conseguir na prática a educação que é de Gustavo por direito. Sobre a entrada de seu filho na universidade, Miriam diz que sente medo, mas apoia. “Eu não vou isolar meu filho dentro de casa. As pessoas precisam saber que essas deficiências existem e o que precisa ser feito”.

Saiba mais sobre as cotas na UFSC.

Lavínia Beyer Kaucz/Estagiária de Jornalismo/Agecom/UFSC

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