José Hamilton Ribeiro aborda a grande reportagem na abertura da 16ª Semana de Jornalismo da UFSC

03/10/2017 16:41

“Eu sinto muito estar aqui na universidade neste dia.” Na abertura da 16ª Semana de Jornalismo da UFSC, na segunda-feira, 2 de outubro, o jornalista José Hamilton Ribeiro não podia deixar de se referir ao trágico acontecimento que deixara a comunidade universitária perplexa poucas horas antes. A morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, reitor afastado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), despertou questionamentos sobre a atuação da Polícia Federal (PF) e seu envolvimento com a mídia. Cancellier foi afastado do cargo após ser preso em ação da “Operação Ouvidos Moucos” no dia 14 de setembro, e solto no dia seguinte. “A espetacularização das ações da polícia tem que ser vista com atenção e até com pesar. A polícia tem sua função, e merece elogios quando a cumpre. Mas tem que cumprir com discrição e sem exageros.” Após essa afirmação, Zé Hamilton recebeu uma salva de palmas da plateia.

Jornalismo

Zé Hamilton foi vencedor por sete vezes do Prêmio Esso de Jornalismo, a premiação mais importante da área. Atualmente, trabalha na equipe do Globo Rural, tanto no programa da TV, como na revista. A palestra, proferida por ele no auditório do Espaço Físico Integrado (EFI), às 14h, deu início à extensa programação da Semana de Jornalismo, que será realizada até sexta-feira, 6 de outubro.

“O que eu vou falar aqui é com a humildade e a consciência de que as coisas que eu faço não são só minhas”, disse Zé Hamilton, ressaltando a importância do trabalho em equipe na produção jornalística. Ele dá o exemplo da televisão, em que o cinegrafista é fundamental e pode arruinar ou elevar uma reportagem. Ele explica, também, que se refere especificamente à sua área de atuação e experiência: a grande reportagem. “As grandes reportagens não são assim chamadas porque são grandes. A diferença é que dão tempo ao repórter: tempo de pesquisa, de entrevista e de elaboração.” Esse tipo de jornalismo mais aprofundado, explica Zé Hamilton, sobreviveu no Brasil com revistas próprias do gênero, como a Realidade, da década de 1960 e 1970, da qual fez parte. Mas também sobreviveu devido aos jornais que, pelo menos uma vez por semana, cediam espaço para textos do gênero.

Zé Hamilton lamentou que o jornalismo diário muitas vezes não tenha tempo para uma verdadeira compreensão dos assuntos: “Se o próprio repórter não entendeu a notícia, o público entende muito menos.” Ele afirmou, porém, que fazer esse jornalismo do dia a dia é mais desafiador que fazer reportagem. “É um teste de matar um leão por dia”, enfatizou. Em seguida, explicou sua conhecida fórmula da grande reportagem: GR = BC + BF x (TxT’) n: um bom começo (para fisgar o leitor), mais um bom final (que dê a sensação de um filme que deveria durar mais tempo), multiplicado por trabalho e talento, na potência necessária.

O jornalista conta que, ao ser questionado sobre a permanência na carreira após 60 anos, ele responde: “Isso só prova que sou um jornalista velho.” Sempre bem humorado, ele contou várias histórias de suas vivências como repórter, em que teve que lidar com o fator “imponderável”: a imagem perdida de uma sucuri engolindo um pato; um mineiro de 84 anos que tinha resposta para tudo; um baiano com uma versão diferente da criação do homem e da mulher. E afirma que para fazer uma boa reportagem é importante achar um bom personagem, o que exige uma grande dose de sorte, mas também de talento: “Qualquer pessoa, por mais simples que seja, tem um brilho interno. O papel do jornalista é aflorar esse brilho.”

Lavínia Beyer Kaucz/Estagiária de Jornalismo/Agecom/UFSC

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