José Hamilton Ribeiro aborda a grande reportagem na abertura da 16ª Semana de Jornalismo da UFSC
“Eu sinto muito estar aqui na universidade neste dia.” Na abertura da 16ª Semana de Jornalismo da UFSC, na segunda-feira, 2 de outubro, o jornalista José Hamilton Ribeiro não podia deixar de se referir ao trágico acontecimento que deixara a comunidade universitária perplexa poucas horas antes. A morte de Luiz Carlos Cancellier de Olivo, reitor afastado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), despertou questionamentos sobre a atuação da Polícia Federal (PF) e seu envolvimento com a mídia. Cancellier foi afastado do cargo após ser preso em ação da “Operação Ouvidos Moucos” no dia 14 de setembro, e solto no dia seguinte. “A espetacularização das ações da polícia tem que ser vista com atenção e até com pesar. A polícia tem sua função, e merece elogios quando a cumpre. Mas tem que cumprir com discrição e sem exageros.” Após essa afirmação, Zé Hamilton recebeu uma salva de palmas da plateia.
Jornalismo
Zé Hamilton foi vencedor por sete vezes do Prêmio Esso de Jornalismo, a premiação mais importante da área. Atualmente, trabalha na equipe do Globo Rural, tanto no programa da TV, como na revista. A palestra, proferida por ele no auditório do Espaço Físico Integrado (EFI), às 14h, deu início à extensa programação da Semana de Jornalismo, que será realizada até sexta-feira, 6 de outubro.
“O que eu vou falar aqui é com a humildade e a consciência de que as coisas que eu faço não são só minhas”, disse Zé Hamilton, ressaltando a importância do trabalho em equipe na produção jornalística. Ele dá o exemplo da televisão, em que o cinegrafista é fundamental e pode arruinar ou elevar uma reportagem. Ele explica, também, que se refere especificamente à sua área de atuação e experiência: a grande reportagem. “As grandes reportagens não são assim chamadas porque são grandes. A diferença é que dão tempo ao repórter: tempo de pesquisa, de entrevista e de elaboração.” Esse tipo de jornalismo mais aprofundado, explica Zé Hamilton, sobreviveu no Brasil com revistas próprias do gênero, como a Realidade, da década de 1960 e 1970, da qual fez parte. Mas também sobreviveu devido aos jornais que, pelo menos uma vez por semana, cediam espaço para textos do gênero.
Zé Hamilton lamentou que o jornalismo diário muitas vezes não tenha tempo para uma verdadeira compreensão dos assuntos: “Se o próprio repórter não entendeu a notícia, o público entende muito menos.” Ele afirmou, porém, que fazer esse jornalismo do dia a dia é mais desafiador que fazer reportagem. “É um teste de matar um leão por dia”, enfatizou. Em seguida, explicou sua conhecida fórmula da grande reportagem: GR = BC + BF x (TxT’) n: um bom começo (para fisgar o leitor), mais um bom final (que dê a sensação de um filme que deveria durar mais tempo), multiplicado por trabalho e talento, na potência necessária.
O jornalista conta que, ao ser questionado sobre a permanência na carreira após 60 anos, ele responde: “Isso só prova que sou um jornalista velho.” Sempre bem humorado, ele contou várias histórias de suas vivências como repórter, em que teve que lidar com o fator “imponderável”: a imagem perdida de uma sucuri engolindo um pato; um mineiro de 84 anos que tinha resposta para tudo; um baiano com uma versão diferente da criação do homem e da mulher. E afirma que para fazer uma boa reportagem é importante achar um bom personagem, o que exige uma grande dose de sorte, mas também de talento: “Qualquer pessoa, por mais simples que seja, tem um brilho interno. O papel do jornalista é aflorar esse brilho.”
Lavínia Beyer Kaucz/Estagiária de Jornalismo/Agecom/UFSC