Estudo mostra diferenças entre meninos e meninas na prática de ‘bullying’
Pesquisa do Programa de Pós-Graduação em Psicologia (PPGP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) analisou as diferentes percepções de bullying para meninos e meninas dos ensinos fundamental e médio. A dissertação de Michelly do Rocio Dellecave, orientada pelo professor Mauro Luis Vieira, foi defendida em março de 2013.
A pesquisadora – que investigou as diferentes percepções de bullying dentro de uma escola de médio porte em Itajaí, litoral de Santa Catarina – demonstrou diferenças entre meninos e meninas na forma de encarar o problema, e evidenciou como o fenômeno evoluiu do sexto ano do ensino fundamental para o primeiro ano do ensino médio. Os principais resultados envolvem formas distintas de encarar o perfil da vítima, as reações diante das agressões e o modo como elas são praticadas.
A palavra bullying surgiu na Grã-Bretanha em 1710 para se referir à crueldade entre adolescentes e crianças. As pesquisas sobre o assunto no Brasil começaram somente a partir de 2000, e, em comparação a outros países, há ainda poucos artigos publicados sobre o tema.
Nem toda violência no contexto escolar pode ser classificada como bullying. Encaixam-se nesta classificação comportamentos agressivos intencionais – que ocorrem repetidamente ao longo do tempo – e relações pessoais em que há certo desequilíbrio de poder. As consequências à vítima são várias: problemas relacionados ao desempenho escolar, dificuldade para relacionamentos, diminuição da autoestima, ansiedade, fobia social, pânico e depressão. A pesquisa, porém, estudou a diferença das perspectivas de meninos e meninas diante do bullying, e não se ateve às consequências.
Foram analisados cem alunos: metade do sexto ano do ensino fundamental e metade do primeiro ano do ensino médio, aos quais foram apresentadas pequenas histórias em quadrinhos, sem falas, envolvendo agressões características do bullying. A partir dos exemplos, um questionário foi aplicado para saber como cada aluno reagiria diante das situações – como testemunha, vítima ou agressor.
A psicóloga constatou que os meninos tendem a destacar as características individuais da vítima como a causa do bullying, e acreditam que o jeito de ser da pessoa ocasione as situações. As meninas, por outro lado, relacionam a causa ao fato de as vítimas não estarem inseridas no grupo dos agressores. A pesquisa comprova também que, enquanto os meninos envolvem-se com o bullying direto – agressões físicas e verbais –, as meninas praticam o indireto – difamação, insulto, calúnia, fofoca e manipulação das relações de amizade. A estratégia de enfrentamento dos alunos varia também de acordo com o gênero – enquanto as alunas dizem ajudar a vítima, os meninos preferem não interferir.
Quanto à idade dos participantes, comprovaram-se diferenças significativas: os alunos do sexto ano do ensino fundamental praticam mais o bullying direto; os do primeiro ano do ensino médio, o indireto. Os do fundamental veem a vítima como orgulhosa e mandona; os do médio, como alguém bondoso.
Os resultados da pesquisa mostram que os alunos do sexto ano, diante das agressões, contam aos pais ou responsáveis; os do ensino médio mantêm-se calados, muitas vezes se isolando.
Para a pesquisadora “as testemunhas têm medo de se tornarem a vítima, mas acham que ela deveria contar esses problemas aos pais ou responsáveis”. Dessa forma, Michelly defende que a escola deveria trabalhar com os alunos a importância da comunicação: “O bullying diminuiria se as vítimas ou testemunhas contassem o que está acontecendo para um adulto”, defende.
Não é a primeira vez que o tema é discutido por pesquisadores da UFSC. Em 2011, Patrícia Bieging concluiu a dissertação “Da busca da popularidade às práticas de bullying: crianças e produção de sentidos a partir de artefatos midiáticos”, no Programa de Pós-Graduação em Educação. No estudo foi analisada a construção de estereótipos dentro do meio escolar em seriados de TV. Após as crianças assistirem aos episódios dessas séries, um questionário foi aplicado com o objetivo de fazer análises sobre as interpretações. O que se constatou foi que a mídia contribui para a criação de uma hierarquia de identidades dentro da escola, que acabam gerando o bullying.
Mais informações com Michelly do Rocio Dellecave pelo e-mail mi_psico@yahoo.com.br
Gabriel Volinger/Estagiário de Jornalismo/DGC/UFSC
Ana Carolina Prieto/Estagiária de Jornalismo/DGC/UFSC
Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC
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