Pesquisadores alertam sobre a fragilidade da atual legislação ambiental
O destaque da manhã desta terça-feira, dia 14, no I Simpósio de Integração das Pós-Graduações do Centro de Ciências Biológicas, foi a mesa redonda “Toxicologia e Meio Ambiente”, com os professores convidados Maria do Carmo Bittencourt de Oliveira, da Universidade de São Paulo (USP), e Adalto Bianchini, da Universidade do Rio Grande (FURG). Apresentando seus estudos na área ambiental, os professores expuseram os riscos de contaminação nos sistemas aquáticos e a preocupação com a atual legislação ambiental brasileira.
A professora Maria do Carmo especializou-se no estudo de cianobactérias, organismos responsáveis pela formação da atmosfera por meio da liberação de oxigênio pelo processo de fotossíntese. A pesquisadora alertou sobre o perigo de altas concentrações desses organismos que se proliferam principalmente em ecossistemas aquáticos sujeitos a fontes poluidoras, como esgoto doméstico, hidrocarbonetos, pesticidas, e em locais sem o devido tratamento da água.
O perigo maior está em alguns tipos de cianobactérias que liberam toxinas no meio em que vivem, como as neurotoxinas, hepatotoxinas e dermatoxinas. Concentrações dessas cianotoxinas estão presentes no veneno de algumas serpentes e na toxina que causa o botulismo e o tétano. Náuseas, diarréia e hemorragia são efeitos gerais causados pela intoxicação com cianobactérias e comuns a muitas doenças, o que dificulta o diagnóstico da contaminação. A substância microcistina é a maior responsável pelas mortes e é muito difícil de ser separada de outros componentes da água.
O tratamento de água continua sendo um dos principais problemas atuais e que atinge vários países de diferentes economias. É o caso da China, que sofre com sérios problemas ambientais devido a contaminação da água, e dos Estados Unidos, onde os estuários são comprometidos pela construção civil.
Maior problema ambiental dos sistemas aquáticos, a contaminação por cianotoxinas deixa o ser humano exposto a riscos a saúde, seja por inalação, contato ou ingestão direta de água e alimentos contaminados. A bioacumulação das toxinas em alimentos podem causar doenças neurodegenerativas. Um exemplo é a acumulação de toxinas nos tecidos e músculos de um peixe exposto a um sistema aquático contaminado, que servirá de alimento a população. Doses homeopáticas de cionatoxinas que podem comprometer a saúde do ser humano.
Legislação frágil
A professora Maria do Carmo aponta para a fragilidade da atual legislação ambiental do Brasil. Em estudos sobre a qualidade de água realizados no estado de Pernambuco, somente dois dos 19 reservatórios analisados não apresentavam a presença de cianobactérias. “Desta forma percebemos a importância do monitoramento obrigatório das águas e a necessidade de revisão da legislação ambiental para a segurança das pessoas”, frisa a professora da USP.
A mesma preocupação também é apontada pelo professor da FURG, Adalto Bianchini. A resolução 357 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) classifica os sistemas aquáticos brasileiros e define para cada classe a quantidade aceitável de compostos químicos. “O que preocupa é que toxicidade de cada ambiente – água doce, água salobra, água salina, etc. – é variável, mas a legislação ambiental não comporta essas diferenças”, explica o professor. “Precisamos criar uma avaliação mais refinada. Nosso trabalho é usar conhecimento biológico e físico-químico ajudar os tomadores de decisão”.
Um estudo realizado na Lagoa dos Patos, Rio Grande do Sul, reuniu dados de todas as bacias que compõe a lagoa, como volume, vazão. A partir desses dados, os pesquisadores criaram uma tabela com a modelagem toxicológica que aponta a capacidade de suporte do meio ambiente de elevar o nível de metais sem causar danos à bacia. O resultado demonstrou que os arroios fora da área de preservação ambiental não suportariam um aumento na concentração de metais, mesmo com 90% de nível de tratamento. O desafio é convencer as autoridades dos riscos ambientais causados pelo crescimento industrial e populacional na região.
Mas o Brasil estaria pronto para uma nova legislação ambiental que garanta a preservação dos sistemas aquáticos? De acordo com os professores, sim. “Capacidade técnica nós temos, oferecemos treinamento gratuito e as análises de toxicidade são simples. É preciso mais interesse político associado à ação do poder público, que é onde a universidade pode atuar”, garante o professor Bianchini.
A mesa redonda “Toxicologia e Meio Ambiente” fez parte do terceiro dia do Simpósio de Integração das Pós-Graduações do CCB (I SIP-CCB), que começou dia 12 e acontece até o dia 16 de agosto no Centro de Eventos da UFSC. Para Gustavo Campos Ramos, presidente da Comissão Organizadora do evento, o encontro é indisciplinar. “A ideia não é trazer vários especialistas e falar de um assunto específico. Nesse evento pessoas curiosas sobre biologia têm espaço para discutir ciência”. Com 140 alunos inscritos, 40 professores convidados e mesas redondas sobre “Código Ambiental”, “Estresse e Doenças” e “Comportamento”, o simpósio é, de acordo com Gustavo, onde a ciência conversa com a sociedade.
Mais informações e programação completa: http://sipccb2012.ufsc.br/
Poliana Dallabrida / Estagiária de Jornalismo da Agecom
poliana.dallabrida@gmail.com