Café Philo discute Pierre Clastres e as sociedades sem estado

Pierre Clastres reinventou o selvagem como um sujeito que conseguiu livrar-se das artimanhas do poder estatal de que é feita a história das culturas ocidentais
Na conferência do dia 22 de agosto, antropólogo Oscar Calavia-Sáez conduz o debate sobre o pensador que colocou em xeque a organização política estatal das sociedades ditas civilizadas
Um antropólogo francês que causou impacto nos anos 70, conhecido por seu traço transgressor, é o foco do próximo encontro da série Café Philo do dia 22 de agosto. Para conduzir o debate de ideias, outro antropólogo, o professor da UFSC Oscar Calavia-Sáez, vai apresentar o pensamento de Pierre Clastres (Paris, 1934-1977). Pouco conhecido do grande público, o francês Pierre Clastres reinventou o selvagem, não mais como um ser que teria ficado congelado no início dos tempos, mas como um sujeito que conseguiu, século após século, livrar-se das artimanhas do poder estatal de que é feita a história das culturas ocidentais.
Sob o título “Pierre Clastres e a sociedade contra o estado”, a conferência começa às 19 horas, no auditório da Fundação Badesc, e termina às 21 horas, com um café oferecido pela Secretaria de Cultura da UFSC. Com sua obra breve, Pierre Clastres conseguiu um lugar definitivo no pensamento contemporâneo deixando um traço profundo no estudo das sociedades indígenas. Sem cair em um primitivismo absoluto, construiu uma antropologia política “desenvestida” do etnocentrismo evolucionista que caracteriza boa parte das teorias antropológicas do século XX, ao contrapor as “sociedades sem estado” ao modo de organização política repressor das sociedades brancas.
Uma única etnografia, A crônica dos índios Guayaqui (1972), e duas coletâneas de artigos, A sociedade contra o estado (1974) e Antropologia da violência, publicada após sua morte em acidente de trânsito, conseguiram alterar o paradigma da supremacia dos ditos povos civilizados e lançar o conceito de sociedade sem estado. “Por mais relevância que continue a ter entre os etnólogos especializados na América do Sul, essa obra é, sobretudo, um marco do pensamento político, ou do pensamento contra a política, entendida como um exercício de construção do Estado”, anota Calavia-Sáez.
O Café Philo é um projeto de extensão coordenado pelo professor de Literatura e Linguística Pedro de Souza, do Centro de Comunicação e Expressão da UFSC, em parceria com a Aliança Francesa e Secretaria de Cultura da UFSC. Buscando promover o diálogo com um público sem necessária vinculação com o meio acadêmico, o projeto prevê reuniões mensais, sempre as quartas-feiras. A idéia é permitir que os participantes se aproximem da filosofia e conheçam diferentes pensadores franceses clássicos ou contemporâneos sob o intermédio de um intelectual da atualidade. No próximo Café, do dia 19 de setembro, a professora de Literatura da UFSC, Eleonora Frenklel falará sobre “Maurice Blanchot e o silêncio da palavra”.

O professor da UFSC Oscar Calavia-Sáez é quem irá apresentar o pensamento de Pierre Clastres no evento
Sobre o palestrante
Graduado em Geografia e História pela Universidad Complutense de Madrid (1986), Oscar Calavia-Saez fez mestrado em Antropologia Social pela Universidade Estadual de Campinas (1991), doutorado em Ciência Social (Antropologia Social) pela Universidade de São Paulo (1995) e pós-doutorado pelo Centre National de la Recherche Scientifique (2003). Atualmente é professor adjunto da Universidade Federal de Santa Catarina, da Universidad Complutense de Madrid e pesquisador associado do Centre National de la Recherche Scientifique e da Societé des Americanistes. Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em Etnologia Indígena, atuando principalmente nos seguintes temas: etno-história, com foco nas etnias Pano, Yaminawa e Amazonia-China. Este ano publicou Dos viajes de vuelta pela National Geographic, de Barcelona.
Serviço
Quando: 22 de agosto, das 19 horas às 21 horas
O quê: 45º Café Phillo “Pierre Clastres e a Sociedade contra o estado”
Quem: Professor Oscar Calavia-Sáez (Pós-Graduação em Antropologia)
Onde: Auditório da Fundação Badesc (2º andar).
Rua Visconde de Ouro Preto, 216 (Esquina com a rua Artista Bittencourt) – Centro, Florianópolis / SC
Quanto: Gratuito, aberto ao público.
Próximo Café Philo: “Maurice Blanchot e o silêncio da palavra”
Quando: 19 de setembro, das 19 horas às 21 horas
Quem: Professora Eleanora Frenkel
Onde: Auditório da Fundação Badesc
Raquel Wandelli / Jornalista da SeCult / UFSC
raquelwandelli@yahoo.com.br