Café Philo discute nesta quarta as ideias do filósofo Foucault
Sociólogo e professor de psicologia da UFSC, Kleber Prado Filho falará sobre as idéias de Michel Foucault nesta quarta, às 19 horas, na Aliança Francesa
A edição número 40 do Projeto Café Philo é dedicada ao filósofo francês Michel Foucault. O autor de Vigiar e punir, Microfísica do poder e História da Loucura é o foco da conferência desta quarta-feira, 16 de maio, às 19 horas, sobre o corpo disciplinar. Kleber Prado Filho, doutor em sociologia pela USP e docente do Departamento de Psicologia da UFSC é o palestrante convidado para conduzir as discussões que acontecem na sede da Aliança francesa, na rua Visconde de Ouro Preto, 282, Centro.
Questões como a disciplinarização do corpo e do sujeito na modernidade e as diferenças entre a concepção de corpo no oriente e ocidente estão no centro da sessão. O professor Kleber Filho fará uma exposição de 40 minutos e depois abrirá para o debate com a plateia. Ao mesmo tempo ousado e rigoroso, o filósofo francês postula o nascimento de uma nova forma de poder coercitivo surgida no Ocidente no século XVIII, baseada na sofisticação psíquica dos mecanismos políticos e sociais de vigilância das multidões e exceção pública. Foucault propõe que as relações entre vigilância e punição se estabelecem pelo olhar e pela disciplina do corpo.
Essa economia repressiva do poder pela descentralização dos sistemas de controle e vigilância nasce de uma nova concepção da sociedade com a queda do chamado poder soberano predominante nos regimes absolutistas da Europa. Torna-se, segundo sua teoria, o poder disciplinar mais eficaz para garantir a ordem, substituindo os suplícios e espetáculos de execução pública por uma silenciosa forma de controle, onde o vigiado é também o vigia do outro e de si mesmo.
Gratuito e aberto ao público, o Café Philo é um projeto de extensão do Centro de Comunicação e Expressão em parceria com a Aliança Francesa e com apoio na divulgação da Secretaria de Cultura (Secult) da UFSC. Organizado pelos professores Pedro de Souza, do Departamento de Línguas e Literaturas Vernáculas da UFSC, e Rogério Luiz de Souza, docente do curso de História, ocorre quinzenalmente às quartas-feiras, sempre com a apresentação de um intelectual da atualidade abordando obras de pensadores franceses clássicos ou contemporâneos. Em edições anteriores foram discutidas as ideias de autores como Foucault, Paul Ricoeur, Blanchot, Rousseau, Deleuze, Albert Camus, Derrida, entre outros. Permeadas pela informalidade, as reuniões buscam facilitar o diálogo com um público sem vinculação direta com o meio acadêmico.
O pensador
Filho do cirurgião Paul Foucault e de Anna Malapert, Paul-Michel Foucault nasceu em Poitiers, no dia 15 de outubro de 1926. Embora pertencesse a uma tradicional família de médicos, Michel caminhou em outra direção. Na sua educação escolar encontrou todas as influências necessárias para guiá-lo no caminho da
filosofia. Seu primeiro mentor foi o Padre De Montsabert, do qual herdou seu gosto pela história. Além disso, era um autodidata e adorava ler. Foucault viveu o contexto da Segunda Guerra Mundial, o que estimulava ainda mais seu interesse pelas Ciências Humanas. Mesmo contrariando os desejos paternos de que seguisse a Medicina, suas condições sócio-financeiras lhe permitiam seguir com seus estudos.
Em 1945, com o fim da Guerra, Michel passa a morar em Paris e, neste mesmo ano, tenta pela primeira vez entrar na Escola Normal Superior, mas é reprovado. Vai estudar então no Liceu, onde tem aulas com o famoso filósofo hegelianista Jean Hyppolite. No ano seguinte ele consegue finalmente ingressar na Escola Normal Superior da França, e aí tem aulas com Maurice Merleau-Ponty. Foucault realiza sua graduação em Filosofia na Sorbonne, em 1949 obtém o diploma de Psicologia e coroa seus estudos filosóficos com uma tese sobre Hegel, orientado por Jean Hyppolite. Foucault foi sempre mentalmente inquieto, curioso e angustiado diante da existência, o que o levou a tentar o suicídio várias vezes. Politicamente ele tentou se enquadrar no Partido Comunista Francês, mas essa filiação durou pouco tempo, porque não suportou suas ingerências na vida pessoal.
Michel Foucault, em 1951, passa a ministrar aulas de psicologia na Escola Normal Superior e, entre seus alunos, estão Derrida e Paul Veyne, entre outros. Ainda neste ano ele adquire uma experiência fundamental no Hospital Psiquiátrico de Saint-Anne, que irá repercutir posteriormente em seus escritos sobre a loucura. O filósofo começa a seguir as trilhas do Seminário de Jacques Lacan, e neste mesmo período aproxima-se de Nietzsche, através de Maurice Blanchot e Georges Bataille. No campo psicológico, ele conclui seus estudos em Psicologia Experimental, estudando Janet, Piaget, Lacan e Freud. De 1970 a 1984, Michel ocupa o cargo de Professor de História dos Sistemas de Pensamento no Collége de France, no qual ele toma posse com uma aula que se
torna famosa sob o título de “Ordem do Discurso”.
Suas obras, desde a “História da Loucura” até “A História da Sexualidade”, que com sua morte ficaria inacabada, enquadram-se dentro da Filosofia do Conhecimento. Anteriormente, porém, publicou “Doença Mental e Psicologia”, quando ainda tinha 28 anos. Mas foi realmente com “História da Loucura”, de 1961, sua tese de doutorado na Sorbonne, que ele se consolidou na Filosofia. Neste livro ele explora as razões que teriam levado, nos séculos XVII e XVIII, à marginalização daqueles que eram considerados desprovidos da capacidade racional. Seus estudos sobre o saber, o poder e o sujeito inovaram o campo reflexivo sobre estas questões. Tudo que se concebia sobre estes temas em termos modernos é transgredido pelo pensamento foucaultiano, o que levam muitos a considerarem o filósofo, a despeito de sua própria auto-opinião, um pós-moderno.
A princípio Foucault seguiu uma linha estruturalista, mas em obras como “Vigiar e Punir” e “A História da Sexualidade”, ele é concebido como um pós-estruturalista. A questão do ‘poder’ é amplamente discutida pelo
filósofo, mas não no seu sentido tradicional, inserido na esfera estatal ou institucional, o que tornaria a concepção marxista de conquista do poder uma mera utopia. Segundo ele, este conceito está entranhado em todas as instâncias da vida e em cada pessoa, ninguém está a salvo dele. Assim, Michel considera o poder como algo não só repressor, mas também criador de verdades e de saberes, e onipresente no sujeito. Ele estuda o que de mais íntimo existe em cada cultura ou estrutura, investigando a loucura, o ponto de vista da Medicina, em
“Nascimento da Clínica”, a essência das Ciências Humanas, no livro “As Palavras e as Coisas”, os mecanismos do saber em “A Arqueologia do Saber”. Na sua produção acadêmica ele investiu contra a psiquiatria e a psicanálise
tradicionais. Além da sua obra conhecida, muitos cursos e entrevistas do autor contribuem para uma melhor compreensão de sua forma de pensar. No mês de junho de 1984, o filósofo foi vítima de um agravamento da AIDS, que provocou em seu organismo uma septicemia.
Fontes: Ana Lúcia Santana:
http://www.unb.br/fe/tef/filoesco/foucault/
http://www.pucsp.br/~filopuc/verbete/foucault.htm
Serviço:
O que: 40 Café Phillo
Quando: 16 de maio (quarta-feira), às 19h
Onde: Sede da Aliança Francesa, Rua Visconde de Ouro Preto, 282 – Centro – Florianópolis/SC
Quanto: Gratuito, aberto ao público.
Próximos eventos:
30 de maio – Wladimir Antônio da Costa Garcia – tema: Levinas
13 de junho – Marcos Montysuma – tema: H. Bergson e a questão da memória
Por Raquel Wandelli, coordenadora de Comunicação Social da Secult/UFSC
raquelwandelli@yahoo.com.br
www.secarte.ufsc.br