Projeto da UFSC com a Petrobras pretende reduzir danos de vazamento de combustível

23/01/2024 11:01

Imagem de simulação (Revista Fapeu)

As áreas contaminadas por combustíveis são causadoras de grandes impactos ambientais. O derramamento de gasolina, etanol, diesel e outros produtos semelhantes provoca a poluição do solo, das águas superficiais e subterrâneas. Um projeto desenvolvido na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com patrocínio da Petrobras, vem buscando formas de reduzir esses danos ambientais e diminuir os custos em processos de recuperação de locais atingidos.

O trabalho Estratégias de recuperação de áreas contaminadas por vazamentos de combustíveis conta com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu) e é coordenado pelo professor Admir José Giachini, do Núcleo Ressacada de Pesquisas em Meio Ambiente (Rema).

O projeto busca dar suporte técnico na tomada de decisão sobre eventos de contaminação ambiental e apontar as melhores estratégias de ação para conter ou resolver o problema. A iniciativa adota a ferramenta Solução Corretiva Baseada no Risco (SCBR), um software desenvolvido na UFSC com elementos inteligentes que ajudam o profissional do meio ambiente nas decisões sobre procedimentos de gerenciamento de áreas contaminadas.

O SCBR é um modelo matemático bidimensional de solução numérica, desenvolvido para apoiar a tomada de decisão em todas as etapas do gerenciamento ambiental de áreas impactadas ou de forma preventiva, em locais onde são desenvolvidas atividades potencialmente poluidoras. Além disso, pode ser empregado como instrumento facilitador do diálogo com órgãos de controle ambiental.

A ferramenta surgiu devido à ausência no mercado de um modelo matemático que simulasse o comportamento de plumas de hidrocarbonetos de petróleo sob influência de etanol, como no caso de derramamentos de gasolina. Os resultados obtidos nas áreas experimentais da Fazenda da Ressacada, localizado no Sul da Ilha de Santa Catarina, em Florianópolis, são usados na concepção da ferramenta e definem os grandes diferenciais do SCBR em relação aos demais softwares de simulação de contaminantes em solos e águas subterrâneas. Os outros modelos não emulam os efeitos dos biocombustíveis e não são baseados em dados de campo.

“Há mais de duas décadas, a Rema e a Petrobras mantêm uma parceria que vem apresentando resultados inéditos como o desenvolvimento de protótipos matemáticos inovadores para a previsão de cenários de derramamentos e controle de riscos no setor petrolífero e de biocombustíveis”, lembra o professor Admir Giachini. “Um exemplo disso foi o desenvolvimento do simulador SCBR, que vem sendo adotado no gerenciamento ambiental de áreas contaminadas em refinarias e em terminais da Petrobras, tornando a tomada de decisões mais objetiva, com base em critérios científicos e promovendo a economia de recursos financeiros”, ressalta.

Benefícios

O professor diz esperar que o projeto ofereça um gerenciamento ambiental mais orientado e com redução dos custos. “Também se estimam ações mais efetivas de gerenciamento ambiental, com resultados mais favoráveis, uma vez que a escolha da metodologia é embasada em conceitos técnicos orientados pela ferramenta”, destaca o professor Giachini.

Ele também pontua os muitos benefícios para a sociedade, dentre eles a implementação de metodologias mais assertivas para os problemas atrelados ao gerenciamento de áreas contaminadas. “A escolha por métodos orientados para cada situação aumenta as chances de sucesso. Além disso, a escolha das técnicas/ações mais adequadas para cada situação faz com que seja possível reduzir os custos de intervenção em processos de recuperação ambiental”. Dessa forma, segundo ele, faz-se um uso mais racional do recurso financeiro, possibilitando, inclusive, que ele seja utilizado nas áreas que efetivamente mais precisam.

Texto baseado em reportagem que integra a edição 14 da Revista da Fapeu

Tags: Modelo matemáticoNúcleo Ressacada de Pesquisas em Meio AmbienteSolução Corretiva Baseada no Riscovazamento de combustível

Professor da UFSC apresenta ferramenta para investigar subnotificação de casos de covid-19

13/12/2021 09:00

Uma ferramenta matemática que ajuda a investigar a subnotificação de casos de infecção por covid-19 foi um dos resultados do trabalho de um grupo que estuda a dinâmica de doenças infecciosas a partir de modelos matemáticos. O professor Vinicius Albani, do Departamento de Matemática da UFSC, foi um dos autores do artigo Covid-19 underreporting and its impact on vaccination strategies, publicado no BMC Infectious Diseases, periódico da Springer Nature, e recentemente pauta do portal internacional de divulgação científica Scidev.net.

O professor explica que o índice de soroprevalência é o que costuma ser utilizado para se investigar a proporção de casos de infecção em uma determinada região. Esse indicador, entretanto, depende da testagem massiva, política à qual muitos países não tiveram acesso. O objetivo do grupo, composto também pelos pesquisadores Jennifer Loria, Eduardo Massad e Jorge Zubelli, foi apresentar essa nova metodologia para estimar infecções subnotificadas com base em aproximações das taxas estáveis ​​de hospitalização e mortalidade.

Imagem ilustrativa (Pixabay)

“A gente propõe um modelo para descrever a dinâmica da covid-19 e da disseminação do vírus que fosse aderente aos dados, que conseguisse fazer boas previsões – pelo menos previsões de curto prazo – para saber quantos vão ser os números de casos, de mortes e de hospitalizações nos próximos dez dias, quinze dias, visando auxiliar o poder público”, conta. Para isso, a equipe utilizou dados públicos da pandemia para o cálculo das taxas diárias de internações e óbitos, procurando por períodos em que essas taxas apresentaram uma estabilização. Estes períodos, aponta o professor, em geral são aqueles em que há um alto volume de testes com baixos índices de resultado positivo.

Na prática, foram utilizados dados de Chicago e Nova York, cidades que estavam testando muito sua população. Esse era um fator importante para o desenvolvimento da ferramenta, pois era necessário que houvesse uma alta taxa de testagens e um volume pequeno de testes positivos para se fazer um corte numérico e compará-lo com as taxas de hospitalização e óbitos. As taxas observadas nos períodos em que houve estabilização eram consideradas como as taxas reais de mortalidade e de hospitalização associadas à covid-19, que depois eram usadas para fornecer estimativas de números de infecções para ouros períodos e regiões.

Segundo Albani, a metodologia funciona da seguinte forma: se a taxa de mortalidade considerada como real é de 1% e, num dado dia, a taxa de mortalidade observada é de 10%, então o número de infecções naquele dia deve ser 10 vezes maior do que o número reportado. A taxa de mortalidade diária é calculada como a razão entre o número de mortes num dado dia e o número de infecções reportadas 12 dias antes, em que 12 dias é o tempo médio entre uma pessoa começar a apresentar os sintomas da doença e vir a óbito. A taxa de hospitalização diária é calculada de forma similar.

A ferramenta foi testada usando dados da Cidade do México, da Dinamarca e da província de Buenos Aires. “Então, quando a gente comparava os nossos números, especialmente usando taxas de mortalidade, com os números de estudos de soroprevalência, a gente viu que nossos números eram muito parecidos”, reforça o pesquisador. Esse confronto dos resultados da ferramenta com os resultados de soroprevalência serve, também, como mais uma validação do instrumento proposto pelos pesquisadores.

Para os cálculos, a equipe utilizou médias móveis de sete dias sobre as novas infecções, hospitalizações e mortes. Entre outras coisas, o estudo também apontou que a infecção entre as populações estudadas pode ter chegado a 30%, um índice pelo menos seis vezes maior do que aquele apresentado nas notificações. De acordo com o professor, a vantagem de utilizar a ferramenta é porque ela é complementar aos estudos de soroprevalência, com o benefício de poder ser utilizada a qualquer momento. “Quando você tem uma ferramenta matemática que te permite ver a subnotificação você pode calcular a qualquer momento, desde que você tenha os dados. Você também pode pegar os números de um lugar e aplicar em outro”, indica.

O estudo, que foi realizado em 2020, também previu um impacto desses dados nas políticas de vacinação, considerando, hipoteticamente, que cidadãos que já tivessem imunidade contra o vírus poderiam ser vacinados depois dos grupos de prioridade.

Com reportagem de Luana Consoli/Agecom/UFSC

Tags: BMC Infectious DiseasesCovid-19Modelo matemáticopandemiasubnotificação