Hugo Gallardo: uma vida dedicada à Química

06/06/2016 16:00
Foto: Henrique Almeida/Agecom;UFSC

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

O departamento de Química da UFSC tem hoje mais um pesquisador membro titular da Academia Brasileira de Ciências (ABC): o professor Hugo Alejandro Gallardo Olmedo. A cerimônia de posse na ABC ocorreu em maio, na Escola Naval, Rio de Janeiro. Além de Hugo, outros 27 cientistas reconhecidos nacional e internacionalmente tornaram-se membros da ABC. Para o professor, sua posse aconteceu em um contexto muito especial: nas comemorações dos 100 anos da entidade. “É algo bem memorável ser empossado nos 100 anos da Academia. Foi uma festa especial.”Dificilmente um pesquisador é selecionado em sua primeira indicação. Hugo foi indicado em três anos consecutivos. Havia, portanto, muita expectativa para esse momento. Sobretudo porque o contexto lhe era favorável: outros quatro professores de seu departamento já se tornaram membros da ABC: Faruk José Nome Aguilera, em 2001; Ademir Neves, em 2008; Adilson José Curtius, em 2011; Antonio Luiz Braga, em 2013.

O pesquisador considera que seu ambiente de trabalho sempre contribuiu significativamente para seu desenvolvimento como pesquisador: “O departamento de Química foi um dos primeiros departamentos da UFSC a ter todo seu quadro docente formado por doutores. Tive a sorte de conviver em um meio jovem e competitivo, de forma salutar. Para crescer, nos anos 1980 e 1990, era preciso ter um ambiente propício para a pesquisa. Sem dúvida, devo muito às condições que me proporcionaram. Meus colegas tinham e têm uma bagagem científica e uma formação muito boa. Dificilmente você encontrará, em uma instituição, cinco representantes da ABC em um único departamento.”

Trajetória

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Hugo é chileno e cursou a graduação e pós-graduação na Universidad de Concepción, no Chile. Após concluir seu doutorado, em 1980, a situação no país não era favorável para a carreira acadêmica e não havia perspectivas para concurso de professor universitário. Hugo optou então por iniciar os estudos de pós-doutorado, enquanto buscava novas oportunidades em instituições estrangeiras. Em 2 de agosto de 1982, o professor chegou ao Brasil para  integrar o grupo de pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), liderado por Giuseppe Cilento. “Esse foi meu primeiro passo aqui no Brasil”. Alguns meses depois, quando participava de um congresso da área, conheceu docentes da UFSC e logo foi convidado a integrar o departamento de Física da universidade. Hugo é preciso com as datas: “Em 18 de abril de 1983 fui contratado como professor visitante do departamento de Física. Em 1986, fui efetivado como professor adjunto. Em 1995, fui transferido para o departamento de Química”. No ano seguinte, em 1997, ele se tornou professor titular. Hugo também é bolsista de produtividade em pesquisa do CNPq desde 1983. Em 2013, conquistou o nível 1A. Seu desempenho está em sintonia com a avaliação de seu programa de pós-graduação, que também tem o conceito máximo da CAPES: nota 7.

A vocação para a química, segundo ele, vem da facilidade que sempre teve com a disciplina: “Era a matéria que eu achava mais fácil de aprender. Sem muito esforço, conseguia bons resultados. Penso que ninguém nasce pré-determinado para uma atividade. Em princípio, somos todos iguais. A diferença é a idade e a dedicação. Perseverança é fundamental. É importante gostar, porque assim fica bem mais fácil dedicar o tempo necessário para atingir seus objetivos e estar na fronteira do conhecimento”.

A pesquisa

A maior parte de sua trajetória acadêmica tem sido dedicada à pesquisa na área de cristais líquidos. “Hoje essa é uma área muito popular. Os cristais líquidos estão inseridos no dia a dia de todos nós. Esse visor, essa tela do computador, todos esses dispositivos contêm cristal líquido. Ele é conhecido como o quarto estado da matéria, para além do sólido, do líquido e do gás. Pode-se dizer que é um estado intermediário. A pesquisa nessa área existe há mais de cem anos, já está consolidada tecnologicamente. Mas a ciência básica ainda tem muito potencial para crescer. Cada estado da matéria tem sua aplicação, o potencial do cristal líquido é muito grande e abre muitas possibilidades”.

Segundo o professor, os cristais líquidos são promissores como semicondutores orgânicos. “Isso é basicamente o que estudamos: no laboratório, variamos a estrutura das moléculas para obter novos comportamentos, propriedades específicas. Introduzimos novas funcionalidades, de tal maneira que esse cristal líquido possa conduzir, medir luz etc. Como guarda propriedades do sólido e tem a fluidez do líquido, ele permite novas aplicações. O estado líquido cristalino sem dúvida fará parte dos novos avanços tecnológicos”.

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

Foto: Henrique Almeida/Agecom/UFSC

O ensino

Hugo afirma que um dos seus principais objetivos na universidade é a formação de pesquisadores altamente qualificados. É com essa perspectiva que ele orienta continuamente novos estudantes de  mestrado, doutorado, pós-doutorado, além de contribuir significativamente com a publicação de artigos científicos. “Isso é o que a gente faz: formar gente, formar gente, publicar, publicar… A universidade precisa fazer ciência, é a única forma de avançarmos. O país precisa de pesquisador. O investimento em ciência, em termos de inovação, deve ser uma política de estado, um investimento sempre crescente”. O professor acrescenta que esse investimento deve se destinar não apenas às pesquisas de curto prazo, mas também às de médio e longo prazo: “A pesquisa de excelência pode demorar muito. Quem trabalha com fármacos pode levar anos, décadas, sem saber se esse fármaco terá algum dia aplicação. A pesquisa é lenta, mas necessária”. Justamente por considerar sua atividade tão importante – e também prazerosa – Hugo, aos 65 anos, afirma que, “obviamente”, não pensa em aposentadoria: “Sem dúvida ainda tenho muita força para continuar”.

Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC

daniela.canicali@ufsc.br

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