Legislação prevê reconstrução mamária para pacientes com câncer

23/10/2013 15:33

Quando é diagnosticada com câncer de mama, a mulher precisa iniciar logo o seu tratamento, que pode ou não envolver intervenções cirúrgicas. Muitas pacientes precisam submeter-se a algum tipo de mastectomia – cirurgia de retirada total ou parcial das mamas – e, simultaneamente ao tratamento, restaurar os seios por meio da cirurgia para reconstrução mamária. O Hospital Universitário Prof. Polydoro Ernani São Thiago da Universidade Federal de Santa Catarina (HU/UFSC) realiza o procedimento. O processo acontece de acordo com a gravidade da lesão, muitas vezes em etapas, incluindo o trabalho de profissionais como o cirurgião plástico e o mastologista. O objetivo é devolver a aparência natural aos seios e, com isso, elevar a autoestima da mulher.

Dados do Ministério da Saúde apontam que, em 2012, foram realizadas pelo SUS 1.392 reconstruções mamárias, a um custo de aproximadamente R$ 1,15 milhão. A reconstrução é prevista em lei desde 1999 para as mulheres que sofrerem a retirada total ou parcial da mama, decorrente de utilização de técnica de tratamento de câncer, inclusive pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Em abril deste ano, a lei foi alterada para incluir que a reconstrução pode ser efetuada no momento da mastectomia. Dados da Sociedade Brasileira de Mastologia apontam que, das cerca de 20 mil mulheres operadas, menos de 10% saem dos centros cirúrgicos com os seios reconstruídos.

O chefe do Serviço de Cirurgia Plástica e Queimados do HU, Jorge Bins Ely, explica que foi feito um cadastramento de centenas de pacientes no ano passado para receberem a cirurgia, mas o hospital precisa de mais profissionais para realizar todas elas. “Hoje há 247 mulheres aguardando a sua vez de receber uma reconstrução mamária pelo HU. O Serviço de Cirurgia Plástica está entre os 10 melhores do Brasil, e estamos cada vez mais aumentando o número dessas cirurgias”, explica Ely.

No ano passado, o HU realizou, com o apoio da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), 59 cirurgias de reconstrução mamária em um mutirão, que envolveu, além dos médicos residentes e da equipe de professores, cirurgiões plásticos voluntários. O professor Ely acrescenta que, independentemente do mutirão, as cirurgias continuam acontecendo. “Não é pelo fato de ter o mutirão que estamos fazendo essa cirurgia. Fazemos toda semana, normalmente pelos médicos residentes, no terceiro ano de Cirurgia Plástica, sob supervisão direta do staff [equipe de professores]. Oferecemos o serviço; há uma fila grande, mas que não está parada – ela anda”, explica.

Ely é enfático a respeito das cirurgias de reconstrução que ocorrem simultaneamente à mastectomia. “Pessoalmente, sou contra – porque faz parte da mudança de autoimagem a pessoa ver o que ficou; a paciente tem que se ver sem a mama. Além disso, um diagnóstico definitivo, com o exame patológico completo, com contraste, leva até uma semana. É ideal esperar esse tempo, pois se pode acabar retirando menos do que o necessário, e o câncer voltar”, argumenta.

O cirurgião plástico Rodrigo d’Eça Neves, professor titular de Cirurgia Plástica da UFSC, afirma que o processo de reconstrução depende do estágio no qual a lesão é descoberta.

Conforme enumerado pelo especialista, há quatro possíveis cenários nos quais a cirurgia plástica pode ajudar: o primeiro, quando a descoberta é precoce, demanda a retirada de um pequeno segmento da mama, que é corrigido na mesma cirurgia;  o segundo, quando a lesão é maior, mas permite a manutenção de pele e aréola, o que possibilita a reconstrução do seio no mesmo ato da retirada, podendo-se utilizar diretamente uma prótese mamária ou não; o terceiro, que demanda que haja cirurgias separadas, acontece quando há maior retirada de pele, com manutenção ou não da aréola – para este último caso, é preciso utilizar um expansor de pele, que fica no local da mama até que possa ser substituído pela prótese definitiva –; já o quarto cenário, que também precisa de mais de uma cirurgia, ocorre quando é retirada muita pele, sem possibilidade de distensão.

“Nesse último caso, utiliza-se o retalho do músculo grande dorsal [costas da paciente], com ilha de pele para cobrir a prótese mamária, que fará o volume. Da mesma forma, quando se retira também o músculo peitoral da mama, e uma grande porção de pele, utiliza-se o retalho abdominal, que leva um bom volume de pele e evita o uso de prótese”, explica o cirurgião. Neves acrescenta que há também o uso da tatuagem, para devolver a pigmentação à aréola do seio, principalmente em caso de perda da cor da pele transplantada, o que pode ocorrer com o tempo.

O médico destaca que a cirurgia plástica brasileira continua sendo referência. “Estas opções são as melhores técnicas que existem. Muito nos orgulha o fato de o Brasil ser proa da cirurgia plástica mundial. Temos melhor qualidade individual por cirurgião, mas perdemos no número de cirurgias para os Estados Unidos, pelo maior poder aquisitivo de sua população”, complementa.

Limitações

Apesar de ser garantida por lei, a cirurgia de reconstrução nem sempre é buscada. “Algumas [pacientes], por qualquer motivo, não desejam realizar nenhuma cirurgia; outras, têm o desejo e não buscam socorro por medo ou desconhecimento. As instituições oferecem este tratamento, mas elas têm capacidade de absorção reduzida, o que gera um pré-agendamento, às vezes de espera prolongada. O mesmo serviço que se ocupa destas correções atende outras patologias, muitas delas mais urgentes”, detalha o cirurgião.

Neves deixa o seu recado às mulheres com câncer de mama que porventura tenham abalada a sua autoestima: não sentir vergonha. “As pessoas somente devem ter vergonha daquilo que fazem de forma intencional ou omissa, e não de um mal desagradável que as acometa”, finaliza.

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Mais informações:
Página do Instituto Nacional do Câncer sobre o Outubro Rosa
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Infográfico em vídeo com técnicas de reconstrução mamária
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Mayra Cajueiro Warren
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