Mesa na SBPC discute Copa do Mundo e uso de dinheiro público

Professor Arlei Sander Dalmo, da UFRGS, debateu “As copas e a reordenação do espaço e das economias urbanas”, cuja mesa foi aberta pela professora da UFSC Carmen Sílvia Rial.
Foto: Laura Tuyama/Agecom/UFSC
O debate disseminado entre a população sobre o uso do dinheiro público é o grande legado intangível trazido pela copa. Esta é a tese defendida pelo professor Arlei Sander Dalmo, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). O tema foi debatido na mesa “As copas e a reordenação do espaço e das economias urbanas”, que teve abertura pela professora da UFSC Carmen Sílvia Rial. “O futebol sempre é importante, pois tem a capacidade de antecipar várias dinâmicas e demandas sociais”, explica. Proposta pela Associação Brasileira de Antropologia, a mesa teve participação dos professores Russell Parry Scott e Eduardo Araripe de Souza, da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).
O professor Arlei cita que, embora seja um argumento de que os eventos trarão retornos para os locais, os estudos de Wladimir Andreff indicam que não existe uma metodologia que possa avaliar com precisão qual é o retorno desses investimentos. Ao mesmo tempo, os megaeventos esportivos levantam questões sobre a moralidade em torno do uso do dinheiro público. “O surgimento deste debate, que se disseminou entre espectro amplo da população, é o legado intangível da Copa 2014”, afirma. Ao analisar as manifestações populares que tomaram as ruas brasileiras, o professor explica que, para esses movimentos, a questão moral é mais importante do que a econômica. “Para a população, os projetos se mostram incompatíveis com a realidade brasileira e os movimentos sociais questionam se é legítimo fazer esses gastos da forma como foram feitos e com essas finalidades”, explica. O valor envolvido na copa está em torno de R$7 bilhões.
Eduardo Araripe traçou um cenário desses eventos, lembrando da importância adquirida por instituições com a Fifa, que consegue agregar mais países do que a Organização das Nações Unidas (ONU). Segundo o professor, a copa da Fifa move em torno de 300 bilhões de dólares por ano, mais do que uma empresa como a General Motors, que gira em torno de 170 bilhões por ano. Para Eduardo, uma referência que não pode ser esquecida é a do Pan de 2007, que envolveu gastos em torno de 3 a 4 bilhões, mais do que oito vezes do inicialmente previsto, além de ter sido 15 vezes maior do que o Pan 2003 e o mais caro de toda a história do evento. “Até hoje não foram indenizadas famílias que tiveram que se mudar do local”, explica.
O professor Russell Parry Scott compara a construção de arenas esportivas com obras de grande porte como hidrelétricas e portos. Em comum, esses projetos criam uma história local, surgem como uma ideia de polo de desenvolvimento que irá trabalhar com as vocações locais. Essas obras têm também o caráter simbólico de mostrar que a população local tem capacidade de repercutir seu trabalho positivamente, de transmitir a ideia de que “somos capazes de realizar”.
Laura Tuyama / Jornalista da Agecom / UFSC
laura.tuyama@ufsc.br