UFSC busca subsídios para aproveitamento de areias descartadas pela indústria de fundição

25/02/2013 08:43

A carência de informações técnicas para subsidiar a tomada de decisão por parte de órgãos reguladores é um dos entraves para a reutilização de areias descartadas de fundição – um dos resíduos com maior volume produzido no mundo. Para colaborar com a produção de conhecimento na área e subsidiar órgãos ambientais no desenvolvimento de políticas públicas, um estudo caracterizou areias descartadas em indústrias de fundição de ferro, aço e alumínio de Santa Catarina.

Foram analisadas 16 amostras. As coletas seguiram parâmetros estabelecidos pela norma ABNT 10.007 e o material foi avaliado com relação a Hidrocarbonetos Policíclicos Aromáticos (HPA), compostos fenólicos, metais totais e metais lixiviados. O trabalho foi realizado via Fundação de Apoio à Pesquisa e Extensão Universitária (Fapeu), contando com a participação da professora Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto, do Centro de Engenharia da Mobilidade/Campus de Joinville, e da mestranda do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental da UFSC Bárbara Samartini Queiroz.

O relatório final do trabalho ressalta que outros estudos precisam ser realizados para assegurar a confiabilidade dos resultados – mas os dados obtidos mostram que as areias estudadas estavam de acordo com as legislações utilizadas como parâmetro no Brasil e também de acordo com literatura internacional. Ainda que duas das amostras tenham chamado atenção com relação aos dados de compostos fenólicos, todas ficaram abaixo do limite de prevenção de solo estabelecido pela Resolução Conama n° 420 para metais, demonstrando nenhuma ou limitada contaminação.

O trabalho recomenda que em próximos estudos seja ampliado o número de amostras estudadas, contemplando material representativo das indústrias de fundição de Santa Catarina – e se possível do Brasil. Calcula-se que o número representativo para as 1.300 fundições brasileiras seria de 90 amostras.

As pesquisadoras também orientam a repetição dos testes ao longo do tempo (o ideal seria de seis em seis meses, por um ou dois anos), assim como a caracterização de amostras de areias virgens como comparação. Além disso, sugerem a realização de testes de toxicidade aguda, toxicidade crônica, mutagênicos e epigenéticos.

“Estes dados auxiliariam órgãos responsáveis por políticas públicas e também as fundições na melhoria de seus processos”, considera a professora Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto. “A utilização das areias descartadas de fundição na agricultura e em práticas de remediação ainda é incipiente, mas há aplicabilidade e perspectiva de crescimento”, complementa a bióloga Bárbara Samartini Queiroz, que aproveitou as amostras em uma modelagem matemática para simular o comportamento das areias em diversas práticas. O estudo gerou um artigo que será publicado em um periódico internacional.

Segundo ela, no Brasil, o reaproveitamento desse resíduo é permitido somente em artefatos de concreto, sem função estrutural, e em agregado para misturas asfálticas. Nos Estados Unidos, o Departamento de Agricultura (U.S.DA), em conjunto com a Agência de Proteção Ambiental (U.S. EPA), realizou esforço para caracterizar quantidade representativa de areias, com análise de 118 amostras e determinação de avaliação de riscos ambientais e para a saúde humana.

Os estudos indicam que não há evidencia de que a reutilização das areias descartadas por fundições de ferro, aço e alumínio possa impor risco significativo ao homem ou ao ambiente em aplicações na construção civil, na geotecnia ou na agricultura. A partir deste trabalho foram gerados outros documentos e a Associação Americana das Indústrias (AAI) e a Sociedade Americana de Fundições (AFS) colocaram a meta de aumentar o percentual de reaproveitamento do volume total de geração das areias descartadas de fundição de 28%, em 2006, para 50%, até 2015.

Mais informações:
– Cátia Regina Silva de Carvalho Pinto / Centro de Engenharia da Mobilidade / UFSC/ Campus de Joinville /catia@reitoria.ufsc.br
– Bárbara Samartini Queiroz Alves / Programa de Pós-Graduação em Engenharia Ambiental / UFSC / basamartini@yahoo.com.br

Material produzido para a revista da Fapeu  ∕  www.fapeu.br
Jornalista responsável: Arley Reis  ∕  arleyreis@gmail.com

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