Parceria entre UFSC e indústria impulsiona criação de polo de tecnologia automotiva em Joinville

Cemac será instalado junto ao Ágora Tech Park, em Joinville, em uma área com mais de 2 mil metros quadrados. Imagem: divulgação
Um projeto desenvolvido em parceria entre a Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Campus de Joinville, a Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e a empresa Walbert tem a ambição de transformar Joinville em um dos principais polos de manufatura avançada, ciência aplicada e inovação industrial do País. O projeto do Centro de Excelência em Manufatura Avançada e Cluster Automotivo (Cemac) foi aprovado em uma chamada pública conjunta da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
A proposta entra agora na fase de negociação com a Finep, etapa do edital que envolve o detalhamento técnico-operacional e a formalização do apoio financeiro, no montante de R$ 94 milhões. Assim que os recursos forem liberados será iniciada a implantação, que prevê a obra civil, aquisição de equipamentos e contratação de pesquisadores e bolsistas. A expectativa é de que o Cemac inicie suas atividades em 2026.
De acordo com o planejamento, o Cemac será instalado junto ao Ágora Tech Park, em uma área com mais de 2 mil metros quadrados. Trata-se de uma infraestrutura inédita em Santa Catarina, que integrará uma planta piloto industrial inteligente (smart factory), uma plataforma digital de serviços tecnológicos especializados e cinco laboratórios temáticos interconectados e voltados a áreas-chave da manufatura avançada: simulação computacional, automação inteligente, metrologia e certificação, materiais avançados e sustentabilidade industrial.
“Esses ambientes permitirão que professores pesquisadores e estudantes de pós-graduação, junto às empresas, desenvolvam e validem tecnologias com o mesmo nível de complexidade e precisão exigido pelas montadoras globais, algo que antes só era possível em centros de excelência no exterior”, afirma o professor Modesto Hurtado Ferrer, do Departamento de Engenharias da Mobilidade do campus da UFSC de Joinville e coordenador técnico do projeto. A proposta do Cemac está conectada com programas de pós-graduação da UFSC e da Udesc, que atuarão como núcleos de formação de pesquisadores e especialistas.

Projeto prevê cinco laboratórios temáticos interconectados e voltados a áreas-chave da manufatura avançada. Imagem: divulgação
Nas justificativas explanadas na submissão do projeto, os proponentes destacam que o Cemac dará origem ao Cluster Automotivo Catarinense, uma rede colaborativa que reunirá montadoras, ferramentarias, startups, instituições científicas, tecnológicas e de inovação (ICTs) e órgãos públicos em torno de desafios comuns da transição industrial.
“Essa governança permitirá que pequenas e médias empresas tenham acesso a tecnologias que antes estavam fora de seu alcance. Um exemplo prático: uma ferramentaria de Joinville poderá, junto ao Cemac, desenvolver um novo molde para injeção de alumínio com controle térmico ativo e certificação de desempenho, algo que antes exigia recorrer a fornecedores estrangeiros ou testar em escala de risco”, argumentaram na proposta.
Reindustrialização inteligente
Ainda de acordo com as justificativas do projeto, depois de instalado, o Cemac terá capacidade, entre outras, de simular digitalmente e otimizar o desempenho térmico e estrutural de moldes e gabinetes de baterias para veículos elétricos antes da fabricação física; aplicar novos materiais metálicos e revestimentos funcionais, como ligas leves e filmes de grafeno e também instrumentar moldes e máquinas com sensores inteligentes e gêmeos digitais, monitorando parâmetros de processo em tempo real para aprimorar qualidade e reduzir desperdícios.

Centro de pesquisa será um instrumento de transformação territorial, aponta a justificativa do projeto. Imagem: divulgação
“Essas tecnologias não existem de forma integrada no país, elas são importadas, ou desenvolvidas de maneira isolada em universidades e empresas sem infraestrutura de validação compartilhada”, expõe um trecho da justificativa do projeto.
A cidade de Joinville foi escolhida para sediar o projeto porque já é reconhecida como um dos maiores polos da indústria metalmecânica do Brasil e um abriga um robusto ecossistema de inovação.
O professor Modesto Hurtado Ferrer destaca a articulação entre universidades, empresa e o ecossistema de inovação e enfatiza o potencial do projeto do Cemac. “Mais do que um centro de pesquisa, trata-se de um instrumento de transformação territorial e de reindustrialização inteligente, conectado com os grandes desafios do país e com a formação de pessoas altamente qualificadas”.
Universidade como agente ativo
Francine Kasulke, coordenadora de inovação da Udesc em Joinville e colaboradora institucional no projeto, afirma que “o Cemac nasce com uma visão sistêmica, capaz de articular conhecimento

Centro de pesquisa será um instrumento de transformação territorial, aponta a justificativa do projeto. Imagem: divulgação
científico, demanda industrial e formação profissional. É um exemplo de como a universidade pode atuar como agente ativo no desenvolvimento regional, colocando seus recursos a serviço da sociedade”.
Segundo Edna Schmitt, executiva da Walbert e idealizadora da proposta, “a aprovação do Cemac representa o reconhecimento de uma trajetória construída com muito trabalho, inovação e visão de futuro. Investir em pesquisa aplicada, em conexão com universidades, é essencial para que a indústria brasileira ocupe um lugar de protagonismo global. Estamos orgulhosos em liderar esse movimento a partir de Joinville”.
Além do projeto do Cemac, a chamada pública conjunta do BNDES e da Finep aprovou também o projeto do Centro de Pesquisa Wetzel de Manufatura Avançada e Eletrotécnica Industrial, que contou com o apoio técnico da mesma equipe envolvida na proposta da Walbert.