Powerlist Mundo Negro: estudante da UFSC é premiada por empreendedorismo social

30/10/2025 14:38

Jamile Lima ganha o prêmio no Powerlist Mundo Negro – Mulheres Negras Mudam Historia na categoria Empreendedorismo Social (Foto: acervo pessoal)

Do interior da Bahia até o prêmio Powerlist Mundo Negro – Mulheres Negras Mudam Historia, Jamile Lima é premiada na categoria Empreendedorismo Social. A trajetória da intérprete de Libras, pesquisadora e empreendedora social é uma história de representatividade. A UFSC está presente nesta história: Jamile é formada em Letras/Libras e atualmente faz pós-graduação em Gestão do Conhecimento na Universidade. O prêmio, promovido pelo portal Mundo Negroé concedido por votação popular e celebra mulheres negras que transformam a sociedade com iniciativas de impacto. A empreendedora é fundadora da Interpres, uma empresa de tradução e interpretação de Libras. 

“Esse prêmio não é só meu. É de todas as pessoas negras, surdas e neurodivergentes que continuam resistindo e transformando o mundo com o que têm. Eu apenas abri uma porta e quero que muitos outros passem por ela”, conta Jamile.

Para Jamile, o reconhecimento é simbólico: “Quando uma mulher negra, do interior da Bahia, neurodivergente, ganha um prêmio nacional, isso prova que nossos corpos e nossas histórias importam”. Ela dedica o troféu à comunidade surda e a todas as pessoas negras que enfrentam exclusão no meio acadêmico e profissional. “Esse prêmio é sobre abrir caminhos. Quero que meninas negras e pessoas surdas olhem para mim e pensem: se ela conseguiu, eu também posso”.

Acessibilidade

A história da Jamile não começou ao ser premiada. Antes de empreender, passou por dificuldades ao deixar a Bahia rumo a Florianópolis, em busca de oportunidades e formação. “Cheguei com a mala cheia de sonhos e o bolso vazio. Morei de favor, pulei refeições, pensei em desistir muitas vezes. Mas a vontade de mudar minha história era maior”.  Foi na Universidade Federal de Santa Catarina, durante o Bacharelado em Letras/Libras, que ela encontrou seu propósito: lutar por acessibilidade e por uma educação verdadeiramente inclusiva. 

Jamile Lima é proprietária da Interpres, uma empresa de tradução e interpretação de Libras (Foto: acervo pessoal)

Neurodivergente, diagnosticada com Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH ) e dislexia,  Jamile encontrou obstáculos que vão além do conteúdo acadêmico.  “O curso de Letras/Libras é visual-espacial, e eu precisava de apoio de audiodescrição. No começo, me senti perdida. Mas tive professores incríveis, como o professor Marcos Luchi e a professora Janine Soares, que me acolheram e acreditaram em mim”, explica Jamile.

Com apoio de bolsistas e recursos de acessibilidade, ela conseguiu concluir a graduação e defender seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Jamile segue determinada a defender sua dissertação no mestrado em Gestão do Conhecimento na UFSC e em 2026 avançar para o doutorado. “Eu não cheguei até aqui para parar. Cada degrau que subo é por mim e por todas as pessoas que ainda não conseguiram ocupar esses lugares”.

Formatura de Jamile Lima em Letras/ Libras na UFSC (Foto: acervo pessoal)

Referências 

Entre as referências que moldaram sua caminhada acadêmica, Jamile destaca a professora Silvana Aguiar, uma das poucas docentes negras da UFSC. “Ver uma mulher negra, doutora, professora, ocupando um espaço de poder, me deu força para acreditar que nós também pertencemos a esses lugares”.  A intérprete de Libras se define como educadora, empreendedora e ativista pela inclusão. E seu maior desejo é continuar estudando, ensinando e transformando realidades através da acessibilidade.  “A inclusão, quando é feita com propósito, se torna uma forma de amor. E o amor é a revolução mais poderosa que existe”.

Com a Interpres em expansão e novos projetos de formação para intérpretes negros em andamento, Jamile planeja levar o trabalho para fora do país e fortalecer redes de acessibilidade entre Brasil e América Latina. “Tudo o que vivi me mostrou que a educação muda o destino de uma pessoa. E quando essa pessoa muda, ela muda o mundo”.

João Hasse agecom@contato.ufsc.br
Estagiário da Agecom | UFSC

Rosângela Matos agecom@contato.ufsc.br
Estagiária da Agecom | UFSC

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