UFSC integra grupo de 664 cientistas que assinam relatório da ONU sobre o clima no mundo

Professora Regina Rodrigues está entre cientistas selecionados pela ONU para escrever documento que analisa impactos dos extremos climáticos
A professora Regina Rodrigues, da coordenadoria de Oceanografia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), foi uma das 664 especialistas de 111 países selecionada pelo Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da Organização das Nações Unidas para atuar como autora do relatório do IPCC, um dos documentos mais importantes no mundo sobre a temática ambiental, referendado por todos os países signatários da ONU.
Regina foi indicada pelo governo federal, que seleciona os cientistas autores dos relatórios do IPCC a partir de sua expertise e contribuição científica. Três grupos de trabalho com diferentes atribuições são designados. Sua participação ocorre justamente em um grupo de difícil acesso para pesquisadores do chamado “Sul Global”, que estão às margens da produção científica hegemônica. O grupo é dividido em capítulos, e a pesquisadora da UFSC será uma das responsáveis por trazer dados, evidências e projeções a respeito dos extremos climáticos.
“O diferencial deste relatório vai ser a regionalização. Então, principalmente nesse capítulo dos extremos climáticos é importante que a gente tenha todos os continentes contemplados, todas as regiões, senão realmente fica uma coisa muito guiada para o o norte global”, comenta Regina, que vai participar da primeira reunião, de todos os grupos, no mês de dezembro. Depois, os encontros se afunilam em torno da especialidade de cada capítulo.
A metodologia de produção dos relatórios ainda prevê que os documentos recebam considerações e sugestões de cientistas e dos próprios governos signatários, que terão de aprovar o sumário extraído dos documentos, que contam também com compromissos a serem assumidos pelos signatários. O relatório do qual Regina vai participar como autora deve sair em 2027. Em outras edições, ela participou como revisora do documento.

20 cientistas do mundo todo integram capítulo do grupo I do IPCC
Liderança no Sul Global
A pesquisadora da UFSC afirma que participar da equipe do relatório do IPCC é uma experiência enriquecedora e um aprendizado. “É a minha primeira participação como autora e aí é um trabalho que eu acho importante para ter certeza de que os a problemas e a literatura relacionada à América do Sul estarão contemplados, que a nossa ciência vai ser contemplada, que tudo que a gente levantar estará contemplado”, comenta.
Regina lembra que essa dimensão local da ciência impacta no resultado do relatório. “Quando a gente tem aquelas figuras de projeções para o futuro, se é com confiabilidade ou incerteza, as regiões do sul global ficam geralmente com alta incerteza, porque às vezes os autores não conheciam os trabalhos que já mostravam alguma projeção mais certeira”, explica. No capítulo sobre os extremos, a cientista da UFSC é a única brasileira e uma das três da América do Sul. Nos demais capítulos do grupo 1, há outros cinco pesquisadores do Brasil.
Atribuição de extremos
O grupo do qual Regina faz parte é liderado pela pesquisadora do Imperial College London, Friederike Otto, idealizadora da metodologia de atribuição desenvolvida pelo World Weather Attribution Project, projeto internacional para analisar e comunicar a possível influência das mudanças climáticas em eventos climáticos extremos, como tempestades, chuvas extremas, ondas de calor, ondas de frio e secas.
“Trabalhei com ela nos três relatórios que a gente fez de atribuição dos eventos extremos: da seca da bacia amazônica de 2023, das enchentes do Rio Grande do Sul de 2024 e das queimadas no Pantanal de 2024, que foram os maiores desastres que a gente teve no Brasil”, conta.
A cientista da UFSC explica que essa atribuição é muito importante, inclusive nos debates sobre o fundo de perdas e danos que deverá destinar recursos para comunidades e cidades e que tiveram desastres relacionados à mudanças climáticas. “Então você tem que provar, por exemplo, que um desastre como de Rio Grande do Sul ocorreu devido à mudanças climáticas para poder acessar o fundo, por isso esses trabalhos de atribuição vão ser super importantes daqui para frente se a gente quiser acessar esses fundos”. O fundo será um dos temas de discussões da COP 30, que ocorrerá em Belém (PA).
Sobre o grupo I do IPCC
Segundo o site do IPCC, cientistas do mundo todo avaliam regularmente a literatura científica, contribuindo para uma compreensão sobre como o sistema climático funciona e como ele muda em resposta à atividade humana.
Os tópicos científicos avaliados pelo Grupo de Trabalho I incluem: gases de efeito estufa e aerossóis na atmosfera; mudanças de temperatura no ar, na terra e no oceano; o ciclo hidrológico e as mudanças nos padrões de precipitação (chuva e neve); condições meteorológicas extremas; geleiras e camadas de gelo; oceanos e nível do mar; biogeoquímica e o ciclo do carbono; e sensibilidade climática. A avaliação do Grupo de Trabalho I combina observações, paleoclima, estudos de processos, teoria e modelagem em um quadro completo do sistema climático e de como ele está mudando, incluindo a atribuição (ou causas) das mudanças.
A avaliação do Grupo de Trabalho I fornece informações científicas relevantes para a comunidade global enfrentar o desafio das mudanças climáticas. Além da escala global, o Grupo de Trabalho I analisa a variabilidade e as mudanças que ocorrem em nível regional, o que está intimamente ligado à forma como os impactos e riscos aos sistemas humanos e naturais estão mudando ao longo do tempo.
Amanda Miranda | amanda.souza.miranda@ufsc.br*
Jornalista da Agecom | UFSC
*Com informações do IPCC/ONU