Pesquisadores da UFSC descrevem nova espécie de planta exclusiva da Mata Atlântica
Pesquisadores do Laboratório de Sistemática Vegetal (LSV), do Departamento de Botânica da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), descobriram e descreveram uma nova espécie de planta do gênero Miconia, exclusiva da Mata Atlântica. A Miconia leonorae foi nomeada em homenagem a Maria Leonor D’El Rei Souza, professora e pesquisadora aposentada da instituição. A pesquisa sobre a descoberta começou em 2020 e, neste ano, foi finalizada e publicada na revista científica Phytotaxa, dedicada ao registro de novas espécies da flora.
Miconia é um dos maiores gêneros botânicos do Brasil e do mundo, sendo nativo de regiões tropicais da América, composto por arbustos até árvores de grande porte. A espécie descrita pelos pesquisadores da UFSC varia de dois a 19 metros de altura e pertence à mesma família de plantas como o manacá e a quaresmeira, comuns em áreas de Mata Atlântica.
Diferentemente da maioria das descobertas atuais de novas espécies, a Miconia leonorae possui uma abrangência geográfica relativamente ampla. O estudo, realizado pelos pesquisadores Ana Flávia Augustin, Eduardo Koerich Nery e Mayara Caddah, encontrou registros da planta nos estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo.
Segundo Mayara Caddah, pesquisadora e professora do Departamento de Botânica da UFSC, o registro comum da espécie, apesar da descoberta recente, deve-se ao fato da Miconia leonarae ter sido historicamente identificada como outra planta, a Miconia lepidota, popularmente conhecida como pixirica. Desde 1867, os pesquisadores e os herbários tratavam as duas espécies como iguais de maneira equivocada, explica.
Apesar das similaridades, a árvore descoberta pelos pesquisadores da UFSC possui diferenças nas folhas — que são mais estreitas e possuem colorações diferentes —, nos ramos e nos estames — órgão reprodutor masculino das flores, responsável pela produção do pólen.
“Conhecer as espécies que existem na natureza é o primeiro passo para qualquer estudo dentro da Biologia. A partir do momento que essa espécie tem um nome e é reconhecida, é possível estudar ela e as interações que ela tem com outros animais e plantas do ambiente”, diz. A professora ainda destaca que o estudo do gênero Miconia é, em muitos casos, ligado à farmacologia, uma vez que diversas plantas do gênero apresentam propriedades medicinais.
A constatação da diferenciação das espécies foi realizada por análises morfológicas moleculares no LSV e no Laboratório Multiusuário de Estudos em Biologia (Lameb), que compararam amostras encontradas em herbários de outros estados com amostras do Herbário FLOR, da UFSC, o que gerou o ponto de partida da pesquisa.
“Desconfiávamos que essa espécie existia há alguns anos, mas não tínhamos nos debruçado sobre isso ainda. Tive uma aluna que fez uma pesquisa de mestrado com esse grupo e, realizando análises moleculares, evidenciamos que a espécie poderia ser nova”, resume Mayara.
Embora a descoberta dos pesquisadores não tenha sido afetada de forma evidente, a professora alerta que as mudanças climáticas e a devastação ambiental impactam diretamente os estudos de biodiversidade. “Com a degradação ambiental, muitas espécies se tornam extintas ou cada vez mais raras e difíceis de encontrar. Isso é um problema enorme para a natureza e para os ecossistemas”, aponta.
As árvores do gênero Miconia são consideradas “pioneiras” em seus ecossistemas, sendo as primeiras a ocuparem o ambiente, propiciando sombra para o desenvolvimento do restante da flora local. “Essa característica torna Miconia um gênero importante na recuperação de áreas degradadas. Na Mata Atlântica, as espécies de Miconia são fundamentais ao ecossistema por formarem uma grande quantidade de frutos, que alimentam os animais e semeiam novas plantas”, acrescenta Mayara.
De acordo com dados do Atlas da Mata Atlântica, coordenado pela SOS Mata Atlântica e pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), o desmatamento no bioma caiu 27% de 2022 para 2023, uma queda de 5.378 hectares desmatados. Minas Gerais, um dos estados em que a Miconia leonorae pode ser encontrada, destacou-se positivamente, com baixa de 57%.
Homenagem a professora aposentada da UFSC
A escolha do nome Miconia leonorae homenageia a professora aposentada da UFSC Maria Leonor D’El Rei Souza, que foi docente do Departamento de Botânica e pesquisadora do LSV e do Herbário FLOR. Em seus mais de 30 anos de carreira na universidade, Leonor se dedicou a descrever e estudar plantas da família Melastomataceae, que abrange o gênero Miconia.
“Fiquei surpresa e feliz por esta deferência dos pesquisadores, e sei, através do artigo, que os autores prestaram essa homenagem, por entenderem que contribuí para o conhecimento da família. Vejo isto como um presente oferecido pela generosidade dos autores, jovens que valorizaram o trabalho daqueles que os antecederam”, diz Leonor.
Hoje, a professora Mayara ocupa a vaga que era de Leonor, aposentada desde 2013, no Departamento de Botânica, seguindo os estudos na área da família Melastomataceae. “Considerando que era uma professora do nosso laboratório e uma especialista que fez grandes contribuições, decidimos homenageá-la com essa espécie”, relata Mayara.
Vinícius Graton
Estagiário de Jornalismo | Agência de Comunicação | UFSC
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