Professora da UFSC é coautora de artigo sobre restauração das florestas tropicais publicado na revista Science
A professora Ana Catarina Conte Jakovac, do departamento de Fitotecnia do Centro de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Santa Catarina (CCA/UFSC), é uma das coautoras do artigo Multidimensional tropical forest recovery (Regeneração multidimensional das florestas tropicais), publicado na revista científica Science nesta sexta-feira, 10 de dezembro. O trabalho mostra que as florestas tropicais em regeneração alcançam, depois de 20 anos, quase 80% da fertilidade, do estoque de carbono do solo e da diversidade de árvores das florestas maduras.
O estudo é fruto da rede de colaboração internacional 2ndFOR, que conta com mais de 90 pesquisadores de 20 países que juntos buscam entender a dinâmica de regeneração das florestas tropicais e seu papel na restauração florestal.
Sobre a pesquisa
Uma equipe internacional de ecólogos tropicais analisou como 12 atributos florestais se recuperam durante o processo natural de regeneração florestal e como sua recuperação está inter-relacionada. A análise usou 77 paisagens e mais de 2.200 parcelas de florestas na América tropical e subtropical e na África Ocidental. Apesar das florestas tropicais sofrerem uma taxa alarmante de desmatamento, elas também têm o potencial de crescer naturalmente em terras abandonadas. O estudo conclui que a regeneração natural é artigo solução de baixo custo para a mitigação das mudanças climáticas, conservação da biodiversidade e restauração do ecossistema.
Catarina Jakovac, que é a terceira autora do artigo, afirma: “Analisamos como a recuperação de diferentes atributos florestais estava inter-relacionada. Descobrimos que o tamanho máximo da árvore, a variação na estrutura da floresta e a riqueza de espécies de árvores são indicadores robustos de recuperação de múltiplos atributos da floresta. Esses três indicadores são relativamente fáceis de medir e podem ser usados para monitorar a restauração florestal. Atualmente já é possível utilizar sensoriamento remoto para monitorar atributos como o tamanho e a variação das árvores em grande área espacial e temporal.”
O autor principal, professor Lourens Poorter, da Universidade de Wageningen, na Holanda, diz: “Embora seja essencial proteger ativamente as florestas antigas e impedir o desmatamento, as florestas tropicais têm o potencial de crescer naturalmente em áreas já desmatadas em terras abandonadas. Essas florestas em crescimento cobrem vastas áreas e podem contribuir para metas locais e globais de restauração de ecossistemas. Eles fornecem benefícios globais para a mitigação e adaptação às mudanças climáticas e para a conservação da biodiversidade, além de muitos outros serviços para a população local, como água, energia, madeira e produtos florestais não madeireiros.”
Poorter ressalta que essas florestas se recuperam surpreendentemente rápido, indicando que há grandes benefícios de curto prazo na regeneração natural de florestas tropicais. Mas ele também faz uma ressalva: “A velocidade de recuperação difere fortemente entre os atributos da floresta: a recuperação a 90% dos valores da floresta madura é rápida para a fertilidade do solo (ocorre em menos de 10 anos) e para o funcionamento das plantas (ocorre em menos de 25 anos), intermediária para a estrutura e diversidade de espécies (ocorre em 25 a 60 anos), e mais lento para a biomassa acima do solo e para a composição de espécies (demora mais de 120 anos).”

Este gráfico mostra como quatro grupos de atributos florestais – solo, funcionamento do ecossistema, estrutura florestal e biodiversidade arbórea – se recuperam em florestas tropicais que voltam a crescer em antigas áreas agrícolas e pastagens. Para cada categoria, a imagem mostra a porcentagem média de recuperação em comparação com as florestas maduras após 20, 40, 80 e 120 anos. As porcentagens em quadrados pretos mostram a recuperação média de toda a floresta em cada intervalo. Pixels e tinta, CC BY-ND
Outro autor do trabalho, Bruno Hérault, do Centro de Cooperação Internacional em Pesquisa Agronômica para o Desenvolvimento (CIRAD), da Costa do Marfim, explica: ”Dada a importância local e global das florestas secundárias e sua rápida recuperação após 20 anos, encorajamos a adoção da regeneração natural (assistida) como uma solução de baixo custo baseada na natureza para cumprir as metas de desenvolvimento sustentável das Nações Unidas, a década da restauração do ecossistema da ONU (2020-2030), o quadro da ONU para a mitigação das mudanças climáticas (COP 26) e a Convenção da Diversidade Biológica (COP 15).
Hérault, por outro lado, alerta que não há solução mágica para a restauração: “Uma combinação de restauração natural e ativa pode ser necessária. É um gradiente de soluções, que vão desde a regeneração natural, regeneração natural assistida, agrossilvicultura, até plantações. A solução ideal depende das condições locais do local, da população local e de suas necessidades. Usando essa combinação de abordagens, podemos criar paisagens mais naturais, biodiversas e resilientes. ”
Para mais informações sobre o estudo, entrar em contato com a professora Catarina Jakovac pelo e-mail: catarina.jakovac@ufsc.br
> Link para acesso à publicação na Science
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