Apufsc e Laboratório de Sociologia do Trabalho traça perfil dos professores da UFSC

11/05/2020 18:05

Mais da metade dos 2,5 mil docentes ativos da UFSC tem entre 30 e 49 anos de idade e foi contratada na última década. Um em cada quatro trabalham mais do que 40 horas semanais. Homens e brancos ainda são maioria, mas, na comparação com os aposentados, é possível perceber um aumento (ainda que tímido) no número de mulheres, de pretos e de pardos. A maioria mora em Florianópolis, nos bairros próximos ao campus da Trindade, e vai trabalhar de carro. Esses são alguns dos dados levantados pelo Laboratório de Sociologia do Trabalho (Lastro) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no ano passado em uma pesquisa encomendada pelo Sindicato dos Professores das Universidades Federais de Santa Catarina (Apufsc).

Sob a coordenação dos professores Jacques Mick, do Departamento de Sociologia Política, e Samuel Pantoja Lima, do Departamento de Jornalismo, a pesquisa traçou o perfil da docência na UFSC. Os dados foram relatados na revista Plural, relançada neste mês pela Apufsc.  

O levantamento, escancara, por exemplo, a precarização do trabalho na universidade, com o alongamento das jornadas, as múltiplas atividades, a necessidade de levar tarefas para casa e avançar com elas pelos fins de semana para dar conta de tudo: 80% dos entrevistados afirmaram trabalhar mais do que as 40 horas semanais para as quais foram contratados. Não sobra muito tempo para a vida fora da UFSC. Só um em cada quatro docentes dedica-se com frequência a atividades artísticas e culturais. E poucos se doam ao voluntariado ou à ação política.

A intensificação da jornada tem outro reflexo mais alarmante: um terço dos professores e professoras da UFSC já recebeu diagnóstico de estresse e outros 17% relataram transtornos psicológicos relacionados ao trabalho.  Adicionalmente, 54% já presenciaram alguma situação de assédio moral e 35% foram constrangidos no trabalho a ponto de acreditar que se tratava de assédio moral.

Na análise dos resultados, a equipe do Lastro concluiu que “a docência se vê solitária”. “Cada professor tem de encontrar seu próprio modo de administrar o inadministrável: infraestrutura defasada ou inadequada, sem que haja perspectiva de melhoria; excesso de atribuições burocráticas impossíveis de transferir a técnicos ou bolsistas; infinitos pareceres sobre cada detalhe do processo de pesquisa – o recrutamento, o esboço, o projeto, o desenvolvimento, a publicação, a consagração”, diz o relatório final.

Segundo o presidente da Apufsc, Carlos Alberto Marques, os dados levantados pelo Lastro serão uma ferramenta importante no planejamento estratégico da entidade, de modo a orientar as lutas sindicais para os problemas que mais afligem a categoria. “A pesquisa supera a prática sindical do achômetro”, destaca Marques. “Ela revela uma fragilidade cada vez maior nas nossas condições de trabalho e uma frustração dos docentes, que acabam buscando saídas individuais para problemas que são comuns a todos nós e que precisam de caminhos coletivos”, complementa. “Construir essa unidade, respeitando a pluralidade ideológica e política dos professores e professoras, é uma das missões do nosso sindicato.”

Ao assumir o comando da Apufsc, no fim de 2018, a atual diretoria sentiu a necessidade de conhecer melhor os professores e professoras que iria representar a partir de então. “A primeira motivação foi a necessidade de aprimorar os instrumentos de comunicação do sindicato, entender como os docentes se informam”, comenta o professor Eduardo Meditsch, diretor de Imprensa e Divulgação da Apufsc. “Mas tínhamos também a curiosidade de saber como os professores encaram o sindicato, se a entidade está atendendo às expectativas e o que mudou no perfil da categoria nos últimos anos.”

Em 2000,  a Apufsc realizou uma pesquisa que ouviu 333 ativos e aposentados na tentativa de levantar informações que ajudassem a compreender o corpo docente da UFSC. Desta vez, 943 professores e professoras, de um universo de 4.141 pessoas, responderam, anonimamente, ao questionário online, entre os dias 16 de agosto e 16 de setembro de 2019. O número superou em 80% a amostra mínima ideal, com a participação de filiados e não filiados. Entre os ativos que responderam ao questionário, quase 40% não têm vínculo com o sindicato. A comparação entre os levantamentos de 2000 e de 2019 mostra que, duas décadas depois, há mais mulheres, mais jovens, mais negros e negras, e mais recém-chegados entre os professores da UFSC.

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