Pesquisadores da UFSC participam de estudo que compara mortalidade por causas respiratórias
Pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e de outras sete instituições de São Paulo, Brasília, Rio Grande do Sul e Londres assinam o artigo Covid-19 em contexto: comparação com a mortalidade mensal por causas respiratórias nos estados brasileiros, publicado na revista científica InterAmerican Journal of Medicine and Health. Conforme destaca Emil Kupek, professor do Departamento de Saúde Pública da UFSC e um dos autores do estudo, a pesquisa ressalta a necessidade de atualização mais rápida dos dados de mortalidade no Brasil e o impacto dos fatores sazonais para mortalidade por causas respiratórias.
Buscando produzir subsídios técnicos para o enfrentamento da crise, o grupo compara os óbitos pelo novo coronavírus até a primeira quinzena de abril, com os dados de mortes por doenças respiratórias e outras enfermidades nos anos de 2014 a 2018 (os últimos cinco anos completos para os quais os dados estão disponíveis). Adicionalmente, identificaram o período típico de pico na mortalidade por essas doenças para cada estado. São apresentadas análises sobre a taxa de mortalidade típica por doenças respiratórias, em cada faixa etária e estado brasileiro, mês a mês.
Os resultados indicam que a porcentagem de óbitos pela Covid-19 até 15 de abril equivale a 24% da mortalidade esperada por causas respiratórias no mesmo período, com base em anos anteriores. Há grande variação entre os estados (desde o Amazonas, 151%, até o Tocantins, com 3%). Essa é a época típica de pico de mortalidade associada a doenças respiratórias em grande parte do Norte e Nordeste (com exceção de Roraima). Nas regiões Sudeste e Sul, esse pico é mais tardio, de junho a agosto.
Na impossibilidade de realização de testes suficientemente representativos, destaca o artigo, uma forma alternativa de estimar a severidade da epidemia é o cálculo do “excesso” de mortes em cada momento do ano em relação ao que seria esperado. “Tais dados poderão servir de referência para comparação entre a mortalidade típica por causas respiratórias e aquela causada pela pandemia em curso, bem como para o ajuste dos planos de ação em cada região brasileira.”
Um dos empecilhos para esse tipo de pesquisa, segundo os cientistas, é que os dados de mortalidade são publicados no site do Ministério da Saúde somente no ano seguinte à sua ocorrência, impedindo sua análise para epidemias em curso. “Lamentavelmente, os dados atualizados necessários para este tipo de análise ainda não foram disponibilizados. Assim, não é possível afirmar que conhecemos todos os óbitos ocorridos por Covid-19, nem há como estabelecer quantos óbitos notificados como associados à infecção pelo SARS-CoV-2 representam mortes adicionais às esperadas tipicamente, e quantos são de indivíduos que irremediavelmente viriam a óbito por outras infecções respiratórias ou causas, mas que foram infectados com o vírus SARS-CoV-2.”