Uma pausa no campus para celebrar o yoga
“Mantenha a atenção no seu corpo, esteja nesse momento presente… Respire tranquilamente… Alongue o tronco, abra o peito…” A voz doce e serena da professora Camila de Lucca reverberava suavemente entre as árvores em frente ao prédio da Reitoria da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Um grupo de aproximadamente 60 pessoas ouvia suas instruções atentamente. “Nosso corpo é uma manifestação da nossa mente. Não existe um ponto onde o corpo termina e a mente começa. Então controlar o corpo é uma forma de conseguir controlar a mente.”
A última terça-feira, 18 de junho, foi mais um dia agradável de outono, com sol e temperatura amena. Por volta da hora do almoço, entre 12h e 13h, membros da comunidade interna e externa à UFSC fizeram uma pausa na rotina para participar de uma aula especial em celebração ao Dia Internacional do Yoga. “O yoga é um trabalho para acalmar as flutuações da mente. E os asanas são ferramentas que a gente usa pra controlar a mente e se autoconhecer.” Os asanas de que falava Camila são as posturas de yoga, que ela orientava passo a passo, com paciência e gentileza. Os comandos, precisos e minuciosos, eram intercalados com ensinamentos sobre a filosofia do yoga, seus fundamentos e objetivos.
“Ao sentar e cruzar as pernas, procure deixar a coluna o mais alto possível. A coluna ereta é um símbolo do ser humano. Somos os únicos seres aqui na Terra que temos a capacidade de deixar a coluna ereta dessa forma. É algo muito digno.” Alguns dos presentes eram praticantes experientes, outros estavam tendo ali seu primeiro contato com o yoga. Uma jovem de 17 anos, caloura recém-ingressa na universidade, chegou atrasada, mas com agilidade logo encontrou espaço para estender seu tapetinho no meio do grupo. Uma senhora idosa se acomodou timidamente mais atrás; dois praticantes surdos eram auxiliados por um intérprete de libras; uma mãe praticava enquanto ficava atenta ao filho que brincava logo ao lado; um senhor cadeirante se esforçava para fazer tudo que lhe fosse possível. A diversidade do público evidenciava um dos princípios do yoga: é uma prática para todos.
“Vamos unir as palmas das mãos em frente ao peito. Mantendo a coluna ereta, com as mãos em frente ao peito, saudamos essa força que temos em nosso coração. Feche os seus olhos. Procure, nesse momento, estar conectado com o seu corpo, procure habitar o seu corpo.” A voz da professora se harmonizava com o som do vento que batia nas folhas das árvores. Aos poucos, aquele espaço de passagem era preenchido com uma sensação de quietude e leveza. Também era evidente o esforço de cada um dos praticantes para realizar os asanas. As atividades cotidianas do campus universitário seguiam seu curso, mas muitos dos que passavam por ali paravam para assistir. E também usufruíam de alguma forma do pouco que viam e ouviam. “Yoga é bem diferente do que eu imaginava”, sussurrou uma moça. “Vai ter toda semana?”, perguntou outra.
“A primeira coisa que o yogui aprende é a estar em harmonia com o seu corpo. E uma das formas da gente se relacionar com o corpo é trazendo a atenção pras nossas pernas e pés. Estabelecendo uma conexão com as pernas e os pés, nós também fazemos uma conexão com a terra.” Com essa introdução, Camila ensinou Tadasana, a “postura da montanha”. “Vamos unir os pés. Procure deixar as pernas firmes, como se você abraçasse os ossos das pernas com seus músculos e com isso você ficasse cada vez mais alto. Estenda as pernas e alongue o tronco pra cima. Olhar à frente. Relaxa o rosto, respira…” O que poderia parecer simplesmente um “estar de pé” requeria muita atenção e empenho dos praticantes.
“Para termos a consciência de que realmente estamos preenchendo nossos pés e nossas pernas com atenção, vamos elevar os dedos dos pés. Mantendo as pernas firmes e os dedos dos pés elevados, estamos treinando a mente para se manter focada. E nesse momento a gente consegue observar como nossa mente funciona.” Para Suzana Moro, doutoranda em Engenharia de Produção, a ação de elevar os dedos dos pés, aparentemente tão simples, fez toda a diferença: “Quando cheguei, fiquei bem atrás e logo pensei: ‘Acho que não vou conseguir me concentrar aqui, com gente passando pra todo lado.’ Mas teve várias coisas que para mim foram muito diferentes. Já faço yoga, mas isso de elevar os dedos dos pés me obrigou a me concentrar bastante. Toda hora eu olhava e meus dedos estavam no chão, então eu realmente tinha que me concentrar pra conseguir fazer, tinha que focar nisso.”
A doutoranda também gostou da oportunidade de praticar no meio do campus e fazer um intervalo em sua rotina intensa de pesquisa: “Adorei, adorei! Foi super gostoso praticar ao ar livre, olhar para cima e ver o céu, as árvores. Também achei a professora ótima, ela traz uma paz… Essa prática me trouxe tranquilidade. Estou com energia nova, vou voltar para o trabalho bem inspirada.” Outra estudante, Isadora Camargo, que está na primeira fase do curso de Jornalismo, relatou algo parecido. “Saí dessa aula muito leve. Hoje de manhã eu estava bastante ansiosa, tomei um monte de café, e tive dificuldade para fazer um trabalho. Tentava, tentava, e não conseguia. Agora estou bem mais tranquila, sinto que vou voltar e vou fazer bem mais focada.”
“O yoga é uma viagem que a gente faz para dentro”, explicou a professora, “e o primeiro país que a gente visita é nosso próprio corpo. Quando temos a atenção nas pernas, começamos a perceber nosso mundo psíquico. Então, se alguém reclama dentro de você, você observa isso, mas mantém a mente focada.” Isso é possível, segundo ela, com uma prática contínua. “O que é a prática? É algo que você você faz constantemente, intensamente e sem interrupção. Observem o quão rápido a perna adormece, o quão rápido a mente flutua. Mantenha esse contato constante com seu corpo. Não deixe que a atenção vá para algum lugar distante de você.”
Yoga também requer estar consciente da respiração, do ar que entra e sai pelas narinas. “Procure manter uma respiração tranquila”, lembrava Camila a todo instante. “Quando os asanas são mais intensos, nossa respiração flui de forma mais intensa. Mantenha a calma. Procure manter a tranquilidade da mente através de uma respiração tranquila. Existe um esforço, mas esse esforço não pode fazer você sair do seu centro, da sua tranquilidade. Por isso a prática dos asanas nos ajuda a desenvolver a paciência. Assim aprendemos a enfrentar os desafios que a vida constantemente nos coloca, mas sem perder o controle, sem perder a cabeça, sem se desesperar.”
Essa atenção constante no corpo, na mente e na respiração proporcionou uma experiência nova àqueles que nunca haviam praticado yoga. Foi o caso da veterinária Iara Nakao, que foi até a UFSC especialmente para participar da atividade: “Achei muito legal. A gente trabalha várias coisas ao mesmo tempo, fazendo vários movimentos simultâneos, usando bastante os músculos, então acaba sendo um exercício mais completo.” Luiza Santos de Souza, que é surda e estudante do curso de Letras – Libras, teve a mesma sensação: “Eu gostei muito de poder mover as diferentes partes do corpo, de trabalhar a flexibilidade, e ao mesmo tempo acalmar a mente.”
“Uau!!!” – exclamou Victor Hugo Sepúlveda da Costa, que é professor do curso de Libras da UFSC e também surdo, quando lhe foi perguntado o que achou da prática. “Foi uma experiência maravilhosa! Essa foi minha quarta aula de yoga e sinto que estou conhecendo meu corpo melhor. Na verdade, percebi que eu sequer conhecia meu corpo. Nas posturas de equilíbrio, por exemplo, eu não conseguia me equilibrar. A yoga está me trazendo um conhecimento profundo sobre meu corpo e minha mente, quero muito continuar a praticar.”
A celebração do Dia Internacional do Yoga na UFSC foi uma iniciativa do projeto de extensão Yoga no CFH em parceria com o Centro Iyengar Yoga Florianópolis, coordenado pelos professores Camila de Lucca e Pedro Pessoa. Formada em Educação Física pela UFSC, Camila foi a responsável por iniciar o primeiro projeto de extensão de aulas de yoga na universidade. Ao final da prática, ela expressou seu contentamento de poder retornar ao campus para difundir novamente o yoga: “O yoga traz ferramentas para nos autoconhecermos. Independentemente do que a vida nos apresente, permanecemos tranquilos. E quando temos essa tranquilidade, conseguimos resolver os problemas, ter novas ideias e criar soluções pros desafios que surgem. Por isso fico feliz de podermos estar aqui, nesse lugar tão próspero e tão abençoado que é a universidade.” Com uma salva de palmas e muitos sorrisos, os praticantes corresponderam com alegria e gratidão pela oportunidade de usufruir dos benefícios do yoga no coração do campus.
Daniela Caniçali/Jornalista da Agecom/UFSC