Projeto da UFSC, que alia ecoalfabetização e preservação das abelhas, recebe nova colmeia

13/05/2019 15:30

O Recanto das abelhas sem ferrão, iniciativa do Projeto Cheiro Verde no Quintal da Escola do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (CA/UFSC), coordenado pela professora Mariza Konradt, terá mais uma colmeia para compor o espaço que alia educação à divulgação da importância das polinizadoras. O Recanto, que contava com uma colmeia da espécie mandaçai e com uma caixa para acolher uma colmeia de jataís, recebeu da Empresa de Pesquisa Agropecuária e Difusão Tecnológica (Epagri) uma colmeia da espécie mirim droryana.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 75% da produção mundial de frutas e sementes para o consumo humano depende da ação de polinizadores. Por serem tão essenciais, a professora do Colégio de Aplicação, Mariza Konradt, salienta a importância do projeto Recanto das abelhas sem ferrão, uma vez que demonstra que é possível conviver harmoniosamente com as abelhas e fomenta ações que fazem diferença. “A gente precisa muito cuidar do meio ambiente, e os grandes detentores desse poder são as crianças”, comenta.

Confira abaixo a reportagem completa produzida pela Agecom e pela TV UFSC sobre o projeto:

Os alunos do 1° ano do ensino fundamental do Colégio de Aplicação e a professora Mariza Konradt divulgam a importância das abelhas por meio do projeto.

Elas estão no planeta há 130 milhões de anos. Em todo o mundo, estima-se que existam mais de 20.000 espécies – só no Brasil, são conhecidas cerca de 3.000. Por serem numerosas e por precisarem visitar muitas flores para satisfazerem suas necessidades, as abelhas são as mais eficientes polinizadoras da natureza. A turma do 1° ano do ensino fundamental do Colégio de Aplicação da Universidade Federal de Santa Catarina (CA/UFSC) sabe disso, e para divulgar a importância dessas polinizadoras montou o “Recanto das abelhas sem ferrão”.

A iniciativa integra o Projeto Cheiro Verde no Quintal da Escola do Colégio de Aplicação, coordenado pela professora Mariza Konradt. “A gente trabalha com a concepção de ecoalfabetização, em que as crianças já são inseridas num contexto de alfabetização usando elementos da natureza”, explica. Na turma do 1° ano de 2018, a professora conta que tudo começou com a chegada da Mel, uma abelha de pelúcia escolhida para ser a mascote da sala e o motivador lúdico do processo de alfabetização dos alunos.

Entre colmeias e colônias

O LANUFSC contém cerca de 15 mil exemplares de abelhas.

“A Mel veio de Rancho Queimado, para aprender a ler e a escrever, e para ensinar a gente sobre as abelhas e sobre a natureza”, diz Rafael Dantas, estudante do Colégio de Aplicação e participante do projeto. Ele e os demais alunos, que têm entre 6 e 7 anos, explicam que Mel representa uma jataí, espécie de abelha sem ferrão.

“Ao longo da evolução, o ferrão dessas abelhas perdeu sua função original por falta de uso, tornando-se vestigial ”, explica a professora do Departamento de Biologia Celular, Embriologia e Genética (BEG) da UFSC e coordenadora do projeto Laboratório de Abelhas Nativas da UFSC (LANUFSC), Josefina Steiner. No LANUFSC encontram-se cerca de 15 mil exemplares de abelhas – entre eles, estão coleções de diversas espécies de abelhas sem ferrão, também conhecidas como meliponíneos.

Vivendo em colônias perenes, principalmente na região neotropical, do México ao sul do Brasil, as abelhas sem ferrão se instalam em cavidades de troncos de árvores e constroem a colônia com favos de cria e alimentos. “A partir do momento em que o homem coleta um enxame e o instala em caixas por ele construídas, passamos a utilizar o termo colmeia”, esclarece a pesquisadora.

Parte de colônia de abelha sem ferrão, conservada pelo LANUFSC.

Por meio do projeto Recanto das abelhas sem ferrão, o Colégio de Aplicação conta, atualmente, com duas colmeias abrigadas em casinhas de madeira. “Nós montamos esse recanto mais humanizado, em que as casinhas são feitas pelo homem, para ser um espaço de educação”, diz Mariza Konradt. Além disso, encontram-se na escola colônias das espécies jataí e mirim droryana, abelhas sem ferrão que se instalaram por lá de forma natural. No Recanto, há também uma horta, cultivada por alunos do colégio. Por isso, a professora destaca que os estudantes participam ativamente de todas as etapas do projeto: “são eles que plantam, que colhem e produzem pratos com os alimentos que colheram”.

Muito mais que mel

Os participantes do projeto enumeraram as funcionalidades das abelhas, citando a produção de geleia real, mel, cera e própolis. Mas, para a aluna Manuella Mendonça,  “as abelhas são muito importantes porque produzem o alimento para o homem”. Isso se dá por meio da polinização, processo que garante a produção de frutos e sementes e a reprodução de diversas plantas. 

A coordenadora do LANUFSC, Josefina Steiner, explica que as flores fornecem o néctar, que consiste no alimento das abelhas adultas, e o pólen, coletado para alimentar as larvas. “Ao visitar as flores para realizar as coletas, as abelhas transferem o pólen da antera (parte masculina) para o estigma (parte feminina) da flor, realizando a polinização”, descreve.

Segundo dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO), cerca de 75% da produção mundial de frutas e sementes para o consumo humano depende da ação de polinizadores. De acordo com Josefina Steiner, mesmo nas culturas em que as plantas não necessitam de polinizadores por apresentarem flores que se auto-fecundam, como é o caso do feijão, a presença de abelhas garante aumento de cerca de 20% da produção.

A pesquisadora destaca também a importância das abelhas para a manutenção de ecossistemas. “As florestas, em sua forma natural, dependem em grande parte de agentes polinizadores, que na sua maioria são as abelhas”, diz, ressaltando que para plantas de culturas agrícolas, como tomate, pimentão, melancia e morango e para árvores frutíferas, como a pereira e a macieira, as abelhas são indispensáveis.

Por serem tão essenciais, a professora do Colégio de Aplicação, Mariza Konradt, salienta a importância do projeto Recanto das abelhas sem ferrão, por promover a conscientização de que é possível conviver harmoniosamente com as abelhas e por fomentar ações que fazem diferença. “A gente precisa muito cuidar do meio ambiente, e os grandes detentores desse poder são as crianças”, comenta.

Diminuição maciça 

A fim de demonstrar sua preocupação com a preservação das abelhas, a coordenadora do projeto Recanto das abelhas sem ferrão cita uma frase do físico Albert Einstein: “se as abelhas desaparecerem da face da Terra, a humanidade terá apenas mais quatro anos de existência”. De acordo com relatórios da FAO, as atuais taxas de extinção de espécies são de 100 a 1.000 vezes mais altas do que o normal devido a impactos humanos.

“A nível mundial, os pesquisadores têm diagnosticado uma alteração no sistema imunológico das abelhas, seguida de doenças provocadas por fungos, protozoários, vírus, bactérias e ácaros, causando a diminuição das populações de abelhas nas colmeias até o desaparecimento completo ”, destaca a pesquisadora Josefina Steiner. A diminuição maciça de populações de abelhas na América do Norte e na Europa é um fenômeno conhecido como Desordem do Colapso das Colônias (DCC).

Segundo dados da ONU, houve redução de 3,5 milhões de colmeias nos Estados Unidos entre 1950 e 2007. Na Alemanha, 75% dos insetos, não só polinizadores, desapareceram entre 1989 e 2012. As causas ainda são desconhecidas, mas Josefina Steiner aponta que alguns fatores estão nas interferências do ser humano no meio ambiente, “na medida em que utiliza pulverizações em excesso nas lavouras, realiza o desmatamento em grande escala, alterando em muito os ambientes naturais e investe cada vez mais em grandes monoculturas, dificultando a manutenção da biodiversidade da fauna de abelhas”.

Algumas medidas sustentáveis são apontadas por Josefina Steiner para a preservação das abelhas, como evitar a expansão do desmatamento, das monoculturas e do uso de defensivos agrícolas e garantir o crescimento natural de plantas de pequeno, médio e grande porte. Ela esclarece: “quanto maior o equilíbrio dos ecossistemas, mais chances as abelhas terão de sobreviver”.

Assista à reportagem sobre o projeto Recanto das abelhas sem ferrão, veiculada no canal do YouTube da TV UFSC.

Confira mais imagens do projeto Recanto das abelhas sem ferrão e do Laboratório de Abelhas Nativas da UFSC.

Texto e fotos por Maria Clara Flores / Estagiária de Jornalismo na Agecom / UFSC

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