EdUFSC traduz clássico das lutas políticas minoritárias contra o Estado

09/12/2014 19:11

O clamor de AntígonaCom elogiada tradução do pesquisador André Cechinel, a Editora da Universidade Federal de Santa Catarina (EdUFSC) brinda os leitores brasileiros com um texto clássico da pesquisadora Judith Butler. O clamor de Antígona: parentesco entre a vida e a morte, cuja primeira edição saiu nos Estados Unidos em 2000, é a principal novidade da Coleção Gênero e Sexualidade.

A edição brasileira é apresentada pela antropóloga Miriam Pillar Grossi, que, para facilitar a leitura, lembra que Antígona foi personagem secundária na obra de Sófocles, consequência direta da “centralidade que Édipo teve para a psicanálise freudiana”. Fantástica figura, Antígona é a filha direta de Édipo, assinala. “Antígona, na tragédia grega com seu nome, é a personagem que enterra secretamente o irmão Polinices, morto na guerra por seu próprio irmão Etéocles. O ato de Antígona, que expressa as obrigações do parentesco e o significado da morte e do respeito aos mortos na Grécia Antiga, é interpretado como uma afronta à lei do Estado, representada pelo rei Creonte, seu tio”, sintetiza. E Édipo? “Édipo,  sem saber, é claro, dorme com a sua mãe e assassina seu pai, sendo então conduzido ao deserto, acompanhado de Antígona. Embora Sófocles tenha escrito Antígona muito antes de Édipo em Colono, a ação que ocorre aí segue a mesma ação”.

Judith Butler, reconhecida internacionalmente como influente intelectual no campo do feminismo, da filosofia política e da ética, oferece, a partir da sua obra, preciosa munição para as lutas políticas minoritárias diante das leis do Estado. A autora faz uma leitura inovadora sobre parentesco e Estado. Mostra, por exemplo, que “tanto Estado como parentesco são estruturas inconscientes ordenadas por regras e leis”. Só que essas leis, na opinião de Butler, “não são imutáveis, pois mudam a partir do questionamento, revolta e enfrentamento de alguns sujeitos contra as estruturas que as instituem, legitimam e reproduzem”.

A Coleção Gênero e Sexualidade da EdUFSC, ao publicar o ensaio, socializa com os seus leitores um dos eixos centrais da reflexão teórica feminista: a tensão entre as regras (representadas pelas leis do Estado) e o desejo dos sujeitos. Judith Butler “supera” as teses de Lévi-Strauss, Hegel e Lacan sobre Antígona. “Quando reli a peça de Sófocles, fiquei impressionada, de forma perversa, com a cegueira que aflige essas próprias interpretações”, escreveu a autora. Afinal, como os leitores sabem, “o crime de Antígona foi enterrar o irmão após Creonte, seu tio e rei, ter publicado um decreto proibindo tal enterro” (Desobediência civil). Judith Butler, através de Antígona, desafia estruturas e leis vigentes, muitas vezes lançadas contra práticas e direitos de minorias. “Antígona simboliza sim certa fatalidade heterossexual que ainda deve ser revista”, adverte a pensadora.

A raiva e o luto que estruturam a tragédia, interpreta Judith, revelam algo sobre a experiência do tempo, especialmente quando o tempo é marcado pela distinção instável entre vida e morte.

– Quando a minha vida está de tal modo vinculada à vida de outra pessoa, a ponto de sua morte significar a minha destruição, quem sou eu, então, senão esse vínculo?

Antígona deixa muitas portas abertas à interpretação. Mas a obra de Judith Butler não permite dúvidas sobre as injustiças do Estado cometidas em nome do preconceito e de falsos valores. Antígona presta um relevante serviço às causas feministas que são também de toda a sociedade  que se pretende plural, justa e democrática. Antígona é uma metralhadora giratória contra todas as fobias.

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Moacir Loth/Jornalista da Agecom/UFSC

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