Pesquisa mostra que vulnerabilidade marinha independe de diversidade de peixes

14/10/2014 09:29

O professor Sergio R. Floeter, do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e parceiros da França, Austrália, Estados Unidos e México publicaram artigo sobre a vulnerabilidade e a má distribuição de funções entre as espécies de peixes recifais, na edição de setembro da Proceedings of the National Academy Of Sciences of the USA (PNAS) uma das publicações científicas multidisciplinares mais abrangentes e conceituadas do mundo, com cerca de 3.800 artigos publicados por ano.

O artigo “Functional over-redundancy and high functional vulnerability in global fish faunas on tropical reefs” (Alta redundância e vulnerabilidade funcionais da fauna global de peixes recifais) é fruto de um estudo liderado por David Mouillot, da Universidade de Montpellier 2, França; mas o seu caráter global deve-se à parceria com pesquisadores de outros países e aos dados coletados por eles em faunas marinhas de todo o mundo. Foram avaliados os diversos grupos funcionais existentes entre os peixes recifais e como esses ecossistemas reagem à perda de espécies. A edição da PNAS de setembro tratou inteiramente da biogeografia de questões funcionais, ou seja, as diferentes funções existentes dentro de vários ecossistemas – terrestres ou marinhos.

O estudo teve início a partir de questionamentos sobre a possível imunidade dos ecossistemas à perda de espécies, já que vários indivíduos desempenham funções equivalentes, definidas de acordo com suas características biológicas, como hábitos alimentares, tamanho, comportamento, acasalamento, entre outros.

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Capa da edição de setembro da revista PNAS

O professor Floeter aponta que o resultado da pesquisa deve ser aplicado a Santa Catarina para conscientização da população. “No Sul do Brasil, temos muitos grupos sem redundância que podem deixar de existir, seja pela pesca predatória – que é muito forte no estado –, por doenças próprias ou poluição. Intervenções humanas, então, podem impactar e até desmontar o equilíbrio dinâmico do ecossistema marinho”.

Dentro do tema da funcionalidade, os conceitos de redundância e vulnerabilidade são palavras-chave da pesquisa: a redundância funcional corresponde a várias espécies desempenhando a mesma função, o que garante mais segurança ao ecossistema e o permite perdurar, independentemente de possíveis perdas; já a vulnerabilidade funcional é o oposto, diz respeito a funções desempenhadas por apenas uma ou nenhuma espécie.

Como exemplo da vulnerabilidade funcional do ecossistema marinho de Santa Catarina, é possível comparar o mero (espécie Epinephelus itajara) – encontrado no oceano Atlântico e muito importante no estado – com a garoupa que ilustra a capa da PNAS (espécie Epinephelus lanceolatus), encontrada no oceano Índico. Os dois peixes são predadores de topo de cadeia alimentar, e não existem, em nenhum dos dois ecossistemas, muitas espécies que se igualem a eles em tamanho e características biológicas.

Além da possível imunidade dos ecossistemas redundantes, havia também a suposição de que o ambiente tropical, por apresentar maior riqueza de espécies, teria maior redundância funcional; no entanto, o resultado obtido foi diferente do esperado e até mesmo surpreendente para os pesquisadores. Os recifes ricos em diversidade de espécies não são, necessariamente, menos vulneráveis à perda de funções, pois nestas as espécies se acumulam desproporcionalmente.

Alguns grupos funcionais apresentam muitas espécies, enquanto outros são representados por apenas uma ou nenhuma. Esse cenário de vulnerabilidade é encontrado em todos os ecossistemas, o que vai contra a proposição de que nos ambientes tropicais, onde há mais riqueza de espécies, sempre haverá mais redundância.

A pesquisa e a elaboração do artigo duraram dois anos. Semestralmente, o grupo se reunia no Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), na França, para apresentar os dados coletados por cada pesquisador. Na UFSC, as informações colhidas pelo professor Sérgio Floeter eram analisadas no Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha.

Mais informações com o professor Sergio R. Floeter pelo e-mail sergio.floeter@ufsc.br.

Laura Fuchs/Estagiária de Jornalismo da Agecom/DGC/UFSC

Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC

Imagem destaque: internet

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