Pesquisa mostra que vulnerabilidade marinha independe de diversidade de peixes
O professor Sergio R. Floeter, do Departamento de Ecologia e Zoologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e parceiros da França, Austrália, Estados Unidos e México publicaram artigo sobre a vulnerabilidade e a má distribuição de funções entre as espécies de peixes recifais, na edição de setembro da Proceedings of the National Academy Of Sciences of the USA (PNAS) – uma das publicações científicas multidisciplinares mais abrangentes e conceituadas do mundo, com cerca de 3.800 artigos publicados por ano.
O artigo “Functional over-redundancy and high functional vulnerability in global fish faunas on tropical reefs” (Alta redundância e vulnerabilidade funcionais da fauna global de peixes recifais) é fruto de um estudo liderado por David Mouillot, da Universidade de Montpellier 2, França; mas o seu caráter global deve-se à parceria com pesquisadores de outros países e aos dados coletados por eles em faunas marinhas de todo o mundo. Foram avaliados os diversos grupos funcionais existentes entre os peixes recifais e como esses ecossistemas reagem à perda de espécies. A edição da PNAS de setembro tratou inteiramente da biogeografia de questões funcionais, ou seja, as diferentes funções existentes dentro de vários ecossistemas – terrestres ou marinhos.
O estudo teve início a partir de questionamentos sobre a possível imunidade dos ecossistemas à perda de espécies, já que vários indivíduos desempenham funções equivalentes, definidas de acordo com suas características biológicas, como hábitos alimentares, tamanho, comportamento, acasalamento, entre outros.
O professor Floeter aponta que o resultado da pesquisa deve ser aplicado a Santa Catarina para conscientização da população. “No Sul do Brasil, temos muitos grupos sem redundância que podem deixar de existir, seja pela pesca predatória – que é muito forte no estado –, por doenças próprias ou poluição. Intervenções humanas, então, podem impactar e até desmontar o equilíbrio dinâmico do ecossistema marinho”.
Dentro do tema da funcionalidade, os conceitos de redundância e vulnerabilidade são palavras-chave da pesquisa: a redundância funcional corresponde a várias espécies desempenhando a mesma função, o que garante mais segurança ao ecossistema e o permite perdurar, independentemente de possíveis perdas; já a vulnerabilidade funcional é o oposto, diz respeito a funções desempenhadas por apenas uma ou nenhuma espécie.
Como exemplo da vulnerabilidade funcional do ecossistema marinho de Santa Catarina, é possível comparar o mero (espécie Epinephelus itajara) – encontrado no oceano Atlântico e muito importante no estado – com a garoupa que ilustra a capa da PNAS (espécie Epinephelus lanceolatus), encontrada no oceano Índico. Os dois peixes são predadores de topo de cadeia alimentar, e não existem, em nenhum dos dois ecossistemas, muitas espécies que se igualem a eles em tamanho e características biológicas.
Além da possível imunidade dos ecossistemas redundantes, havia também a suposição de que o ambiente tropical, por apresentar maior riqueza de espécies, teria maior redundância funcional; no entanto, o resultado obtido foi diferente do esperado e até mesmo surpreendente para os pesquisadores. Os recifes ricos em diversidade de espécies não são, necessariamente, menos vulneráveis à perda de funções, pois nestas as espécies se acumulam desproporcionalmente.
Alguns grupos funcionais apresentam muitas espécies, enquanto outros são representados por apenas uma ou nenhuma. Esse cenário de vulnerabilidade é encontrado em todos os ecossistemas, o que vai contra a proposição de que nos ambientes tropicais, onde há mais riqueza de espécies, sempre haverá mais redundância.
A pesquisa e a elaboração do artigo duraram dois anos. Semestralmente, o grupo se reunia no Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD), na França, para apresentar os dados coletados por cada pesquisador. Na UFSC, as informações colhidas pelo professor Sérgio Floeter eram analisadas no Laboratório de Biogeografia e Macroecologia Marinha.
Mais informações com o professor Sergio R. Floeter pelo e-mail sergio.floeter@ufsc.br.
Laura Fuchs/Estagiária de Jornalismo da Agecom/DGC/UFSC
Claudio Borrelli/Revisor de Textos da Agecom/DGC/UFSC
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