Espaço Eglê Malheiros & Salim Miguel será inaugurado nesta quinta na Udesc

28/11/2013 11:02

Salim Miguel e Eglê Malheiros. Foto: Comunicação Udesc/Faed

Será inaugurado nesta quinta-feira, 28 de novembro, às 18h30, o “Espaço  Eglê Malheiros & Salim Miguel”, no Instituto de Documentação e Investigação em Ciências Humanas da Udesc que acolherá o acervo pessoal do casal de intelectuais, com milhares de exemplares de livros e revistas.

A professora Luciana Rassier, do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolve pesquisa sobre a obra de Salim Miguel e sobre o Grupo Sul e colaborou nesse projeto, em parceria com a bibliotecária responsável, Iraci Borszcz. Com Jean-José Mesguen, a professora Luciana traduziu para o francês o premiadíssimo romance de Salim Miguel Primeiro de abril, narrativas da cadeia (1994), publicado pela prestigiosa editora parisiense L’Harmattan em 2007.

Eglê Malheiros e Salim Miguel – Texto: Luciana Rassier 

Eglê Malheiros e Salim Miguel, casados desde 1952, compartilham desde meados da década de 1940 ações e projetos literários e culturais. Ambos contribuem, com os demais integrantes do Grupo Sul (Círculo de Arte Moderna de Santa Catarina), a dinamizar a vida cultural catarinense entre 1947 e 1958, inovando na literatura, no cinema, no teatro e nas artes plásticas e estabelecendo uma rede de contatos em vários países. Além de colaborarem na editoração da revista Sul (1948-1957), escrevem o roteiro do primeira longa-metragem catarinense de ficção, “O preço da ilusão” (1958). Após o golpe militar de 1964, Eglê e Salim são afastados de seus cargos no serviço público estadual e mudam-se com os filhos para o Rio de Janeiro. Lá, participam do grupo de editores da revista Ficção (1976-1979), além de escreverem os roteiros para as adaptações de “A cartomante”, de Machado de Assis, e “Fogo morto”, de José Lins do Rego, para filmes de Marcos Farias.

De retorno a Florianópolis desde 1979, Eglê Malheiros e Salim Miguel têm atuado em diferentes instâncias colaborando de modo decisivo com a vida cultural catarinense.  Eglê e Salim formam um casal mítico, com um impressionante percurso como intelectuais e agentes da cultura. Mas talvez sejam ainda mais impressionantes pela simplicidade, pela generosidade e pelo humanismo que os caracterizam. De onde vem o dinamismo e a jovialidade que esbanjam, sempre envolvidos que estão em novos projetos e palestras, sempre prontos para uma conversa agradável e enriquecedora, sempre dando dicas de livros que, apenas publicados no Brasil ou no exterior, já leram e analisaram? Porque assim são a moça nascida em Tubarão, Santa Catarina, e o rapaz nascido em Kfarssouroun, no Líbano, cujo amor pela literatura fez com que se conhecessem em Florianópolis, ainda antes da criação do Grupo Sul. Porque assim são. Ambos, extraordinárias figuras humanas. Maktub

Salim Miguel – Texto: Luciana Rassier 

Salim Miguel (nascido no Líbano, em 30/01/1924) é escritor, jornalista, crítico literário e agente cultural. Em Florianópolis, foi socioproprietário da Livraria Anita Garibaldi, diretor do escritório de Santa Catarina da Agência Nacional (1961-1964), tendo sido transferido a seguir para o Rio de Janeiro (1964-1979); lá, exerce diversas funções em Bloch Editores (copidesque, repórter, redator, chefe de redação em revistas Manchete e Tendências; 1965-1978) e colabora no “Cadernos Ideias” do Jornal do Brasil, escrevendo principalmente críticas e resenhas sobre literatura latino-americana e brasileira (1976-1982).

Na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi chefe da Agência de Comunicação (1979-1983) e diretor da Editora (1983-1991), cujo prédio foi construído durante sua gestão. Foi ainda Superientendente da Fundação Cultural Franklin Cascaes (1991-1996). No âmbito do Grupo Sul, além de escrever  prosa, artigos de crítica e reportagens para a Revista Sul, publica os livros Velhice e outros contos (1951), Alguma gente (1953) e Rede (1955). Salim Miguel colabora durante muitos anos na imprensa catarinense, gaúcha e carioca; também participa de comissões e júris ligados às áreas da Cultura. Literatura e Cinema.           

Publica mais de 30 livros (romances, contos, crônicas, crítica literária), participa e organiza várias coletâneas e torna-se figura marcante no panorama literário e cultural do país. Dentre as distinções que recebeu, estão o prêmio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras (ABL) pelo conjunto de sua obra (2009), o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal de Santa Catarina (2002),  o Troféu Juca Pato de Intelectual do Ano pela União Brasileira de Escritores (2002);  por Primeiro de abril, narrativas da cadeia (1994), o prêmio de melhor romance da União Brasileira de Escritores; por Nur na escuridão (1999), os prêmios de melhor romance da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Nona Jornada Nacional de Literatura de Passo Fundo (Zaffari-Bourbon). 

Eglê Malheiros – Texto: Luciana Rassier

Eglê Malheiros (nascida em Tubarão, em 03/07/1928) é professora, poetisa, escritora e tradutora. Primeira mulher graduada pela Faculdade de Direito de Santa Catarina (início dos anos 1950), ela conclui seu Mestrado em Comunicação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (início dos anos 1980). Além de publicar poesia, prosa e artigos de crítica na Revista Sul, publica Manhã (Edições Sul, 1952), livro com poemas de cunho humanista, em que ecoam os ideais que a levaram a ter uma atuação continuada junto ao Partido Comunista, em prol da paz e da emancipação nacional. Em 1947, ingressa como professora de história no Instituto Estadual de Educação de Florianópolis. No Rio de Janeiro, ocupa o cargo de diretora-secretária da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (órgão filiado à Unesco). Ao retornar para Santa Catarina, exerce a função de chefe do Departamento de Educação e Saúde, transformado em Secretaria Municipal de Educação logo após sua saída do cargo. Profunda conhecedora das línguas alemã, espanhola, francesa, inglesa e italiana, Eglê Malheiro traduz verbetes e artigos para enciclopédias como a Delta Larousse e a Mirador e revistas como Pais e Filhos, Tendência e Ficção, além de livros para as editoras Paz e Terra e Civilização Brasileira.Estudiosa da obra de Cruz e Sousa, escreve a peça Vozes Veladas, 1995, além da antologia comentada Cruz e Sousa – poemas (1998; 2011) e de diversos artigos. Eglê Malheiros colabora durante muitos anos na imprensa catarinense, gaúcha e carioca; também participa de comissões e júris ligados às áreas da Cultura e da Educação. Dentre as distinções que recebeu, destaca-se o Prêmio Personalidade Cultural da União Brasileira de Escritores (1994).

Luciana Rassier

Foi professora universitária de Tradução, Literatura e Cultura brasileiras na França durante mais de 15 anos. Com Jean-José Mesguen, co-traduziu os romances Pequod, de Vitor Ramil, e Primeiro de Abril, narrativas da cadeia, de Salim Miguel, publicados pela editora francesa L’Harmattan (2003; 2007), e fez a adaptação e a tradução em língua francesa de filmes catarinenses, como A antropóloga (2011) e Mulher azul (2010).- Co-dirigiu o livro João Guimarães Rosa: mémoire et imaginaire du sertão-monde (Rennes: Presses Universitaires de Rennes, 2012). Publicou vários textos no Brasil e no exterior sobre literatura brasileira e comparada, dentre os quais trabalhos sobre a obra de Raduan Nassar, de Salim Miguel e sobre o Grupo Sul (Círculo de Arte Moderna de Santa Catarina). Participa de grupos de pesquisa no Brasil e no exterior e coordena o Núcleo de Estudos Canadenses da Universidade Federal de Santa Catarina. Atua no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina, desenvolvendo pesquisa sobre  literatura e cinema; tradução interlinguagens, tradução cultural; alteridades e imigração.

Outras informações pelo e-mail luciana.rassier2010@gmail.com.

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