Estudo revela baixo uso de suplemento de ferro para prevenir anemia em crianças

18/09/2012 11:12

No Brasil, uma em cada duas crianças com menos de cinco anos de idade sofre de anemia. Apesar da existência de uma iniciativa do Ministério da Saúde para prevenção, o Programa Nacional de Suplementação de Ferro (PNSF), apenas 6% das crianças entre seis e 18 meses de idade em Florianópolis receberam o suplemento de sulfato ferroso distribuído pelo programa. Esta informação tem origem no estudo desenvolvido pela Pós-Graduação em Nutrição na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), que avaliou a aplicação do PNSF em 35 centros de saúde da rede pública de Florianópolis (SC) durante o ano de 2010.

Criado em 2005, o PNSF assegura que todas as crianças a partir de 4-6 meses de idade e até os 18 meses recebam um frasco de suplemento de ferro a cada três meses para prevenir o aparecimento da anemia.  A pesquisa realizada pela mestranda em Nutrição, Francieli Cembranel, observou o número de crianças de seis a 18 meses de idade que receberam o suplemento de sulfato ferroso, a idade em que começaram a receber e o número de frascos. Este trabalho foi orientado pelo professor David Alejandro González Chica, com a colaboração da professora Arlete Catarina Tittoni Corso, ambos do Programa de Pós-Graduação em Nutrição da UFSC, e teve autorização da Secretaria Municipal de Saúde.

O estudo utilizou dados do sistema de informações em saúde da Secretaria, o INFOSAUDE, que possui registro de todos os atendimentos realizados nos centros de saúde do município. Durante o ano de 2010 foram cadastradas 13.197 crianças entre seis e 18 meses de idade em 35 centros de saúde de Florianópolis, mas apenas 834 crianças receberam o suplemento (6% do total de crianças). De acordo com a pesquisa, a baixa quantidade de crianças que receberam o suplemento indica fragilidades no processo de identificação e acompanhamento do público-alvo do programa, além de estar muito aquém da expectativa do Ministério da Saúde, considerando que a previsão desta estratégia é a de que no mínimo 60% das crianças recebam o suplemento.

Situação vulnerável

A pesquisa também revelou que, entre as crianças que receberam o suplemento, menos da metade (44%) iniciou a suplementação dentro da idade recomendada (com até seis meses de idade), e menos de uma em cada 10 (7%) receberam um frasco de sulfato ferroso a cada três meses.

Segundo Francieli, a não adesão à suplementação de ferro durante os primeiros meses de vida torna a criança extremamente vulnerável a desenvolver anemia, principalmente a partir dos 4-6 meses de idade. É a partir desta idade que se esgotam as reservas orgânicas de ferro que a criança ganhou da sua mãe durante a gravidez e com o aleitamento materno. Como nesta idade usualmente as crianças deixam de ser amamentadas e começam a consumir outros alimentos diferentes do leite materno, dificilmente a alimentação complementar recebida consegue por si só atender as necessidades aumentadas do mineral que a criança tem para o seu crescimento e desenvolvimento.

Francieli aponta que os resultados do estudo indicam a necessidade deste programa do Ministério da Saúde reforçar as estratégias de capacitação e sensibilização dos profissionais de saúde, pois estes constituem um elemento fundamental para a adesão das famílias ao programa. Segundo a mestranda, as informações obtidas poderão auxiliar no planejamento de ações, contribuindo para o aprimoramento da estratégia e a elaboração de políticas públicas mais eficazes na prevenção da anemia.

O estudo é o primeiro trabalho localizado na literatura científica que avaliou o Programa Nacional de Suplementação de Ferro no estado de Santa Catarina e um dos poucos em nível nacional. As entidades que financiaramn o estudo são o Programa de Pós-Graduação em Nutrição/UFSC , o Programa  de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI) e a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível  Superior (CAPES).

Saiba mais:

Anemia – Segundo a Organização Mundial da Saúde, a anemia por deficiência de ferro é considerada a carência nutricional mais frequente no mundo, chegando a afetar uma em cada duas crianças menores de cinco anos de idade.Nessa faixa etária, a anemia está associada com várias conseqüências negativas à saúde, podendo ocasionar sonolência, irritabilidade, baixo rendimento escolar, diminuição da atividade motora e da interação social, problemas na pele, atraso no desenvolvimento físico e mental, alterações comportamentais, comprometimento do crescimento e do sistema imunológico, assim como a incapacidade de fixar a atenção com grave repercussão no futuro aprendizado escolar.

Problema persistente no Brasil – No Brasil, nos últimos 25 anos, a anemia por deficiência de ferro afeta principalmente crianças na faixa etária dos seis meses aos dois anos de idade, entre as quais a prevalência de anemia oscila entre 24% e 73%.

Fonte: Francieli Cembranel

Mais informações: David González Chica / david.epidemio@gmail.com / (48) 3721-5070

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